Ashley Madison é apenas o começo

Durante as últimas semanas, eu tenho assistido uma família após a outra ser corroída pelas revelações de um cônjuge exposto pelo hack da página de adultério Ashley Madison. Eu adoraria prever que o escândalo Ashley Madison é o abalo que precisávamos para ajustar algumas coisas, mas temo que seja apenas o começo.

Para entender o que vem a seguir, precisamos entender por que a página Ashley Madison “funcionava”. Por que as pessoas assinariam um serviço que promete apresentá-las a outras em busca de casos? Ashley Madison obteve sucesso ao atrair 32 milhões de usuários porque juntou pecado original com tecnologia moderna.

Ashley Madison utilizava tecnologia digital para prometer muitas coisas que estavam fora do alcance de aspirantes a adúltero. A primeira era oportunidade. Muitos dos usuários desse site não eram o tipo de pessoa que procuraria bares de solteiros ou lounges de aeroporto para encontrar parceiros sexuais disponíveis. Muitos deles eram reprimidos não pelas convicções morais, mas pela incapacidade de saber por onde começar.

Ashley Madison prometia combinar desejo e oportunidade. Nesse sentido, Ashley Madison era uma expressão da cultura consumista do nosso tempo. Ela nos promete um conjunto aparentemente infinito de opções para nossos apetites. Por que eu deveria me limitar a sorvete de baunilha, chocolate ou morango? Se eu quiser um gelato de alcaçuz, um sorbet de abacate ou uma paleta mexicana de caramelo e gengibre, o mercado está pronto para providenciar. A tecnologia digital tornou essa mesma cornucópia disponível também para os apetites mais sombrios da carne.

E o que era mais importante: Ashley Madison oferecia esse serviço com a ilusão de anonimato. Mesmo a propaganda apresentava uma mulher pedindo “silêncio” com o dedo sobre a boca. A promessa era que ninguém jamais descobriria esse caso. A promessa de cobertura atraiu aqueles que queriam adultério, mas não queriam ser vistos como adúlteros. Em alguns casos, havia figuras que se apresentam como “guerreiros culturais” contra uma decadente permissividade sexual. Eles queriam ser guerreiros e serem tão indecentes quanto pudessem, tudo ao mesmo tempo. Ashley Madison prometeu a eles o abrigo do sigilo.

Eles deveriam ter previsto isso. Afinal, este é precisamente o tipo de inovação tecnológica sobre o qual a pornografia construiu um império. Antigamente, quem quisesse consumir pornografia precisava declarar-se o tipo de pessoa que queria fazer isso. Era preciso caminhar até o caixa em uma loja ou um balconista numa videolocadora. Isso limitava o número daqueles que procurariam esse tipo de material.

A tecnologia digital gerou uma realidade completamente diferente. É possível buscar pornografia sem que ninguém saiba, e com a promessa de que ninguém jamais saberá. Um usuário poderia continuar tentando sentir-se bem sobre si mesmo porque a pornografia é parte de algo que ele já estava fazendo – navegar na internet – e ele poderia fingir que simples aconteceu de ele cair em uma vizinhança ruim da web. Qual tem sido o resultado? O resultado é uma indústria pornográfica que tem se tornado letal – deixando vergonha, culpa e casamentos destruídos por todo o mundo, especialmente entre aqueles que pensavam que regiões conversadoras ou tradicionalmente cristãs eram campos de força contra a Revolução Sexual.

Isso continuará e acelerará. Com a tecnologia se aproximando cada vez mais da pessoa humana, a indústria da imoralidade proliferará também. Em breve, a pornografia será não apenas visual, mas, no futuro, envolverá todos os sentidos. Em breve, a linha entre pornografia e adultério se tornará mais e mais embaçada, enquanto nosso desejo gnóstico de sermos libertos das limitações da carne terminará exatamente onde sempre termina: na idolatria da carne.

Isso acontece porque a tecnologia da sexualidade casual é uma contínua atualização de uma profissão muito antiga – alguns diriam a mais antiga. Pornografia e serviços de adultério são simplesmente novas formas de prostituição. O consumidor está pagando alguém pelo sexo – para realizar um ato sexual, para dar-lhe a fantasia de sexo anônimo, para conseguí-lo um parceiro sexual. Uma era sexual em desencanto pode fingir que isso é simplesmente manipulação da neurologia, simplesmente manipulação de órgãos objetivando o orgasmo.

A antiga perspectiva cristã, contudo, nos diz que algo mais está acontecendo. Como a prostituição cultual das tribos de Canaã e do Império Romano, a prostituição da nossa época é espiritual em sua essência. O Apóstolo Paulo avisou a igreja em Corinto de que a união a uma prostituta não era meramente biológica, mas cria uma realidade espiritual – unir o corpo de Cristo a uma prostituta. É por isso que a Palavra de Deus nos ordena não apenas a evitar, mas também a fugir da imoralidade sexual.

A sexualidade caída ao nosso redor demonstra algo mais profundo que uma crise cultural. A sexualidade caída ao nosso redor demonstra uma crise de adoração. Nós não nos livraremos disso com filtros de internet melhores ou mais grupos de prestação de contas. Nós devemos reconhecer que a tecnologia continuará a oferecer à humanidade caída aquilo que ela pensa que quer – a ilusão de que podemos transgredir a lei de Deus e certamente não morrer. Nossa única esperança começa com o tipo de perspectiva que enxerga que, não importa a tecnologia, nós nunca somos anônimos para Deus.