Bênçãos e maldições

Keith A. Mathison

Deuteronômio 27-30 é importante para um entendimento da escatologia bíblia porque contém o pronunciamento divino das bênçãos que resultaram da obediência às estipulações da aliança mosaica e das maldições que resultam da desobediência (Lv 26). No capítulo 27, Moisés ordena o povo a preparar pedras caiadas no Monte Ebal sobre o qual eles escreverão todas as palavras da lei (v.1-8). Depois de o povo entrar na terra, seis das tribos estarão sobre o Monte Gerizim e seis estarão no Monte Ebal (v.11-13) Os Levitas, então, recitarão um resumo das maldições da aliança (v.14-26). O capítulo 28 destaca em grandes detalhes as bençãos à obediência das estipulações da aliança de Deus (v.1-14) e as maldições da desobediência (v.15-68). Dentre as maldições está a punição suprema, ou seja, o exílio da terra (v. 36, 64-65).

A longa recitação das bençãos e maldições é seguida, nos capítulos 29-30, pelo terceiro maior discurso de Moisés ao povo. Nesse discurso final, ele os lembra de tudo o que Deus fez por eles e apela pela fidelidade à aliança (cap. 29). Ele, então, coloca diante deles a escolha entre vida e morte e exige uma decisão (cap. 30) No seu discurso final, Moisés prevê que as pessoas não permanecerão fiéis a Deus e que as maldições da aliança, incluindo exílio, irão, em última análise, recair sobre eles (30.1). Mas ele também prevê que Israel vai eventualmente se arrepender e ser restaurado do exílio (v.2-10)¹ . Essa restauração prevista do exílio, no entanto, levanta uma importante questão. McConville explica,

             Deuteronômio 30.2-3 apresenta o arrependimento do povo no exílio, que, por sua vez, precipita numa restauração das fortunas deles, aqui explicitamente envolvendo um retorno à terra. Essa estrutura imediatamente levanta a questão de como essa nova situação restaurada pode ser diferente da velha, aquela que teve resultados tão desprezíveis e aparentemente inevitáveis.²

Em outras palavras, até mesmo se Israel se arrepender e se for restaurada do exílio, como prevenir  que o ciclo inteiro de desobediência e maldições ocorra novamente?

Uma resposta  ao problema é achada em Deuteronômio 30.6, onde Moisés declara, “O Senhor, teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração da tua descendência, para amares o Senhor, teu Deus, de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas.”

O que Deus ordenou em Deuteronômio 10.16, ele promete que ele mesmo realizará em 30.6. A resposta a o problema da infidelidade persistente de Israel, no fim das contas, descansa no próprio Deus. “Ele vai, de alguma maneira, permitir que seu povo, no fim das contas, faça aquilo que não conseguiam fazer em sua força, ou seja, obedecê-lo com convicção e devoção de seus própios corações”. ³

A promessa de Deus de circuncidar os corações deles antecipa a promessa de um novo coração e de uma nova aliança encontrada nos profetas (Jr 31.31-34; Ez 36.22-28). Com efeito, Deus está dizendo a Israel, em Deuteronômio, que eles (povo de Israel) não conseguem, em sua própria força, obedecer toda a lei que Ele está entregando. Por causa da autoconfiança persistente de Israel, no entanto, isso é algo que eles terão de aprender da maneira mais difícil.

 

¹ T. D. Alexander, From Paradise to the Promised Land: An Introduction to the Pentateuch, 2d ed. (Grand Rapids: Baker, 2002), 275.

² J. Gordon McConville, Grace in the End: A Study in Deuteronomic Theology (Grand Rapids: Zondervan, 1993), 136.

³ McConville, Grace in the End, 137.