Desintoxicação sexual (4)

por Tim Challies
por Tim Challies

Sexo egocêntrico

Em minha infância, ouvia muitos boatos sobre os efeitos físicos da masturbação. Ouvi falar de casos em que pessoas perderam todo o cabelo, ou que crescia cabelo em suas mãos, outras que ficaram cegas e outras, ainda pior, que ficaram loucas por causa da prática da masturbação. Contudo, como disse James Dobson, “Se a masturbação realmente causasse [esses efeitos], toda a população masculina e metade da população feminina seria cega, fraca, estúpida e doente. Entre 95 e 98 por cento dos garotos a praticam – e pode ser que o resto esteja mentindo.” Meus pais certamente nunca me disseram essas mentiras, tampouco meus professores ou líderes de juventude na igreja. Essas histórias, no entanto, eram passadas de menino para menino no parquinho, normalmente muito antes de qualquer um de nós ter pensado seriamente sobre a sexualidade. Nem sabíamos o que isso era e nem quais eram suas terríveis consequências.

Embora esses rumores não tenham fundamento, eles continuam a ser passados de garoto para garoto, simplesmente porque masturbação é um tema que gera culpa e vergonha. Esses boatos incentivam o medo de que a pessoa seja descoberta, de que a sua vergonha seja exposta. Não há nenhuma razão física para negar a si mesmo esse prazer sexual. Como Joshua Harris escreve no livro Sexo não é problema (lascívia, sim), “a masturbação não é um hábito imundo que deixa as pessoas sujas. Ele só revela a sujeira que já está em nossos corações.” O ato físico da masturbação simplesmente aponta para um profundo problema dentro de nós. Embora este ato não seja sujo e não torne uma pessoa suja, pode, no entanto, ser ainda um grande prejuízo mental e espiritual, enquanto garotos lutam com sentimentos de culpa, remorso e vergonha por causa de seus hábitos. Para algumas pessoas, esta pode ser uma razão convincente para evitar sua prática, mas para muitos não é. Para muitos de nós, a culpa não é motivação suficiente para limitar nossos comportamentos pecaminosos.

Pureza de mente

A razão mais comumente dada por que as pessoas não devem se masturbar é que polui a mente. A satisfação sexual não é apenas um ato físico, mas um ato que envolve a mente. O ato em si traz muito menos culpa do que a imaginação que o acompanha – as imagens da mente – que são uma parte inevitável da experiência. Essas fantasias correm desenfreadas durante atos de masturbação. Este tipo de fantasia pode ser perigoso pelo menos de duas maneiras. Em primeiro lugar, como muitos adultos têm duramente aprendido, a realidade raramente é tão maravilhosa como a fantasia. Muitas pessoas criam expectativas sobre o sexo em suas mentes que, na realidade, não podem cumprir. Ouso dizer que nunca um adolescente criou uma fantasia em que sua parceira delicadamente e carinhosamente rejeita seus avanços porque ela está muito cansada. Tampouco ele inventou uma fantasia na qual ela declina a participação em um determinado ato porque acha desconfortável ou de mau gosto. O fato é que a fantasia pode criar expectativas irrealistas e não saudáveis do sexo.

Em segundo lugar, a fantasia raramente envolve parceiros sexuais legítimos, assim como as cenas de sexo dos filmes raramente envolvem casais casados, que podem, diante de Deus, ter relações sexuais legítimas. Um rapaz adolescente não tem nenhuma razão legítima para realizar fantasias sexuais, porque ele não tem um parceiro dado por Deus com quem ele possa consumar tal desejo. Embora seja perfeitamente legítimo um marido sonhar com um encontro sexual com sua esposa, a masturbação pode incentivá-lo a encher sua mente com pensamentos sobre outras mulheres, ou mesmo a procurar material pornográfico como combustível para sua mente.

A fantasia é perigosa quando não é devidamente controlada. Masturbação é pecado porque viola o ensino do Senhor sobre a pureza moral. “Mas eu digo a você que todo aquele que olhar para uma mulher com intenção sensual, já cometeu adultério com ela em seu coração” (Mateus 5:28). Fantasia também pode ser perigosa quando se cria expectativa irreal.

Alguns irão protestar dizendo que quando eles se masturbam estão apenas realizando um ato físico para aliviar o stress ou o tédio. Eles irão insistir que não sucumbem a pensamentos inadequados. Em seu livro, Quando bons homens são tentados, o autor Bill Perkins escreve: “Parece-me que a masturbação é amoral. Em algumas circunstâncias é comportamento aceitável. Em outras ocasiões, é claramente errado” (página 122). Ele passa a oferecer três testes que irão avaliar se um determinado caso é certo ou errado: o teste de pensamento (se o ato é acompanhado de fantasias inadequadas), o teste de auto-controle (se o ato torna-se obsessivo) e o teste de amor (se isso leva uma pessoa a deixar de atender às necessidades do seu cônjuge).

James Dobson ensina uma visão semelhante da masturbação. Quando eu era mais novo, meus pais me deram seu livro Preparando-se para a adolescência e eu me lembro bem deste ensinamento. Ele acredita que todos os meninos (e a maioria das meninas) experimentam a masturbação e que a culpa trazida pelo ato destrói muitas crianças. Assim, ele acredita que os pais devem raramente falar com seus filhos sobre isso, e se o fazem, devem fazê-lo para tranquilizar os seus filhos de que tais práticas são normais. Aqui está o que ele diz em seu site:

“A minha opinião é que a masturbação não é muito um problema com Deus. É uma parte normal da adolescência que não envolve mais ninguém. Não causa doença. Não produz bebês, e Jesus não menciona isso na Bíblia. Eu não estou dizendo para você se masturbar, e eu espero que você não sinta necessidade disso. Mas se você fizer, minha opinião é que você não deve lutar com a culpa desse ato. Por que eu digo isso? Porque eu lido com muitos cristãos jovens que estão dilacerados com a culpa da masturbação, querem parar e simplesmente não conseguem. Gostaria de ajudar você a evitar essa agonia.”

Esta resposta é muito humanista. A maneira correta de evitar a agonia da culpa não é ignorar o pecado, mas focar sobre o evangelho. Dobson considera que este é um problema com o qual os jovens não devem agonizar. Mas fale honesta e abertamente com jovens e eles vão te dizer que eles realmente querem falar sobre isso e que querem ter certeza de que masturbação é pecado e que eles podem e devem superá-lo. A culpa que sentem não é irracional, é boa, do tipo que vem por causa do pecado e destina-se a ajudar a corrigi-lo.

Assim como Perkins, Dobson não se envolve em uma análise bíblica deste tema em particular. Ele conclui que a masturbação é amoral porque não há nenhuma passagem bíblica específica que permite ou condena a prática. Encontrei estas palavras em um site: “Se a masturbação é um pecado, então é um tanto estranho que a Escritura tenha deixado o crente especulando sobre seu estado moral.”

No entanto, como veremos, a Bíblia não é silenciosa e não nos deixa especulando. O fato de que a Escritura não menciona explicitamente a masturbação simplesmente aponta para o fato de que ela fala tanto e tão profundamente sobre a sexualidade que não há necessidade de falar sobre masturbação (assim como a Escritura fala tão bem sobre o assassinato e o valor da vida humana que não precisa falar explicitamente sobre o aborto). O ensinamento da Bíblia sobre sexualidade prova que a masturbação é pecado tanto se for um ato acompanhado de fantasia pecaminosa quanto se for um ato puramente físico.

O propósito de Deus para a sexualidade

Nós já aprendemos que o propósito último do sexo é prover intimidade entre marido e mulher. Não há maior expressão de vulnerável intimidade entre seres humanos. Um exame atento do ensino da Escritura sobre a sexualidade vai revelar que não temos nenhuma razão para acreditar que Deus tenha destinado o sexo para ser uma atividade privada. O coração e a alma da sexualidade é dar e receber prazer sexual. O sexo é destinado a ser um meio de satisfação mútua, em que o marido pensa primeiro em sua esposa, e a esposa, primeiro em seu marido. Ao satisfazerem as necessidades do outro, eles têm as suas próprias necessidades satisfeitas. É um belo quadro de intimidade! Como qualquer casal pode testemunhar, quanto mais altruísta o sexo, melhor ele se torna. Quanto mais cada um dos cônjuges pretende agradar ao outro, mais satisfatório e gratificante o ato se torna. Isso é bonito. Como poderíamos esperar, o contrário também é verdadeiro. Sexo que é completamente egoísta é humilhante e insatisfatório (o estupro, um ato de egoísmo sexual absoluto, pode ser a expressão máxima do sexo egoísta).

O sexo é tão importante para um casamento que a Bíblia nos proíbe negligenciá-lo. “Não se privem um ao outro, salvo talvez por um acordo mútuo, por tempo limitado, para dedicarem-se à oração; mas depois se unam novamente, para que Satanás não os tente por causa da falta de auto-controle” (1 Coríntios 7:5). Esta privação pode referir-se não só ao tempo, mas também à atividade. Um homem não deve privar sua esposa durante um período de tempo, nem deve privá-la ao praticar atividade sexual privada. Assim como os casais casados podem atestar a importância do sexo, tenho certeza que a maioria também pode perceber alguns momentos em que negligenciaram essa atividade e podem atestar as dificuldades causadas em seu casamento. Deus quer que marido e esposa façam sexo um com o outro e regularmente.

O mútuo dar e receber está no coração do propósito de Deus para a sexualidade e é exatamente o que a masturbação não fornece e não pode fornecer. A masturbação arranca a sexualidade do seu propósito divino de satisfação mútua. Ela pega um ato que Deus criou para construir o relacionamento e faz-lhe um ato de isolamento egoísta. A masturbação e a fantasia tentam criar uma falsa intimidade ao invés da verdadeira intimidade entre marido e esposa que Deus criou dentro do relacionamento conjugal.

Continuando em 1 Coríntios, lemos: “O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher.” (1 Coríntios 7:3-4). O corpo de um homem não pertence a si mesmo, mas a sua esposa ou a sua futura esposa e, finalmente, a Deus. O corpo de uma mulher pertence ao marido (e a Deus). Da mesma forma, o corpo da mulher solteira pertence ao seu futuro esposo e deve ser mantido puro para ele. Nenhum dos dois tem o direito de expressar a sexualidade para além do outro. Quando a Bíblia diz que um homem deve expressar sua sexualidade exclusivamente com sua esposa, por que muitos interpretam que ele é livre para expressar sua sexualidade sem ela?

Quão mal?

Até agora eu acho que deve ter ficado claro que a masturbação é um pecado do qual deve-se arrepender e contra o qual os cristãos precisam lutar. Infelizmente, porém, para muitos jovens cristãos, isso torna-se uma questão que começa a definir o seu estado espiritual. Algumas pessoas sentem tamanha culpa pela prática de tal ato que começam a questionar a sua salvação e começam a ver-se apenas através da lente deste pecado. Não há dúvida de que este é um pecado grave, mas não deve ser dada tanta proeminência que as pessoas não consigam ver nada além disto. Joshua Harris escreve sabiamente, “Quando nós inflamos a importância deste ato, ou nós vamos ignorar as muitas evidências da obra de Deus em nós ou vamos ignorar outras expressões mais graves da lascívia que Deus quer que tratemos”.

Pornografia

Quero adicionar uma palavra breve aqui sobre a pornografia. Eu não preciso nem dizer a conexão que há entre a pornografia e a masturbação. Apesar dessa conexão, muitas discussões sobre pornografia não discutem também a masturbação. Mesmo assim, o grande objetivo de se ver  pornografia é que ela sirva de combustível para a fantasia sexual e então culmine na masturbação ou noutra forma egoísta de expressão sexual. As pessoas não costumam ver pornografia e, em seguida ir lavar a louça! Pouquíssimos cristãos argumentariam que a pornografia é aceitável e, mesmo assim, inúmeros são atraídos e ludibriados por ela. Tal como a masturbação, a pornografia é inerentemente egocêntrica. Ele cria uma falsa intimidade entre um pessoa anônima numa revista (ou em uma tela) e o espectador. Provê escapismo e liberação, mas não exige qualquer esforço ou auto-negação. Cria uma perversão egoísta e egocêntrica do verdadeiro ato sagrado. Combinar masturbação e pornografia é compor pecado com mais pecado.

Uma busca não egoísta

Você percebe, então, como a masturbação nega a finalidade para a qual Deus criou o sexo? O sexo não foi feito para ser uma busca egoísta. Não se pretendia focar os pensamentos de uma pessoa sobre si mesma e sobre suas próprias necessidades. Pelo contrário, o sexo foi concebido como um meio de cumprir o mandamento do Senhor para estimar o outro como superior a si mesmo. O prazer do sexo não se destina a ser apreciado de forma isolada, mas a ser apreciado proporcionando esse mesmo prazer ao outro. Masturbação não pode cumprir o desígnio de Deus para a sexualidade e, portanto, não tem lugar na vida de alguém que se chama de cristão.

O Evangelho

Para aqueles que lutam contra este pecado, tenham bom ânimo, pois há esperança. Não encontre conforto naquele frio consolo que diz “todo mundo faz isso.” Tome conforto, em vez disso, na boa notícia do evangelho. O sangue de Jesus foi derramado por pecados como este e o poder do Espírito Santo foi dado a nós para que possamos superá-lo. Este não é um pecado que está além do poder de Deus. Você pode ser libertado.

Traduzido por Gustavo Vilela | iPródigo

Nota: Esta parte do estudo não foi publicada no blog do autor, mas foi inserida no ebook, de onde traduzi. O link aqui.