Jesus resumiu o propósito de Sua encarnação em Marcos 10:45 quando Ele diz: ”Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”. Essa profunda e crucial afirmação, que combina o título de “Filho do Homem” de Daniel 7.13-14 com o “servo sofredor” de Isaías 52-53, redefine o tipo de Messias Salvador que nosso Senhor seria e vai ao cerne do pedido de Tiago e João para que Jesus lhes desse os assentos à direita e à esquerda na Glória (Mc 10.37). Tiago e João são muito claros quanto aos seus objetivos e intenções: eles queriam status, não serviço. Eles desejam a posição de um rei, não o chamado de um servo. Eles querem ser admirados, honrados e reverenciados. Eles querem ser superstars, não servos.
Tragicamente, hoje em dia, quando se trata de ministério, os padrões e os critérios para o sucesso são frequentemente mundanos, e não retirados da Palavra de Deus. Negar isso é bancar a avestruz, enterrar nossa cabeça na areia e simplesmente ignorar as evidências que nos rodeia. Permita-me compartilhar o que vejo.
Evangélicos têm heróis cultuados e seus devotos seguidores. Isso é verdade tanto dentro quanto fora da igreja local. Nós temos tietes que perseguem seus “rockstars cristãos”. Essas estrelas recebem o status de quase infalíveis, pelo menos de seus devotos fãs, e se elas não forem cuidadosas, podem começar a acreditar no que blogs, fãs e colegas superstars dizem.
De repente, o monstro verde do orgulho invade a vida deles e uma atitude de engrandecimento começa a transformar aquele servo que era humilde e gracioso em uma gigantesca prima donna, que cada vez menos se assemelha ao carpinteiro da Galileia. Sutilmente, ao longo do tempo, eu me convenço de que preciso de um salário de seis dígitos. Eu mereço morar numa casa grande e dirigir um carro caro. Eu mereço ter pessoas esperando por mim e cumprindo todos meus pedidos. E mais, elas podem esperar uma rápida e dolorosa bronca se forem muito lentas ou falharem em cumprir minhas imensas expectativas. Pois eu posso até mesmo demiti-los por não alcançarem minhas expectativas pessoais.
Eu me torno muito importante e o meu tempo é muito precioso para ser gasto com pessoas comuns, pessoas que não podem me ajudar a melhorar minha agenda. Eu estou muito ocupado no “meu ministério” para responder cartas, e-mails, retornar telefonemas ou agendar compromissos. E surpreendentemente, eu me torno quase hipócrita ao defender meu estilo de vida, todas minhas regalias e meu comportamento orgulhoso – porque o que eu faço é valioso para o reino e eu recebi o direito de ser tratado como um de seus reis.
Eu gostaria que o que eu escrevi até esse ponto fosse algo teórico ou, pelo menos, hiperbólico. Infelizmente, não é. Como alguém que é ministro cristão há 35 anos, e que enfrenta diariamente o monstro verde do orgulho, eu já vi, e continuo vendo muitas vezes, essa mentalidade e estilo de vida de superstars em um grande número de pastores nos dias atuais. Veja, agora eu um sou presidente de seminário que, se não for cuidadoso, pode ser pego em todas essa futilidade. Eu sou facilmente seduzido pelos prazeres que alimentam a mentalidade de superstar, que não sabe nada sobre o caminho de Jesus.
Então, qual sábio conselho bíblico pode nos ajudar a manter nossa cabeça fora das nuvens e nossos pés no chão onde as “pessoas normais” vivem? Permita-me oferecer uma exortação bíblica que talvez possa te ajudar.
Tenha continuamente na sua frente o modelo bíblico de liderança. Nós não somos chefes executivos de uma empresa. Nós não somos profissionais. Irmãos, nós somos pastores – na verdade, subpastores. Nós somos líderes-servos. 1 Pe 5.2 nos instrui: “pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós”. A palavra “pastoreai” é um imperativo que recebe a força de um mandamento. Pastores que caminham seguindo as pegadas do “Bom Pastor” (Jo 10.11), do “Supremo Pastor” (1Pe 5.4), do “Grande Pastor” (Hb 13.20), que ama e lidera suas ovelhas. Eles não vão controlá-las, usá-las e fazer exigências ímpias a elas. Eles vão, continuamente, lembrar a si mesmos que servem ao “rebanho de Deus” e não aos seus próprios rebanhos.
Eles também entendem que é o “rebanho de Deus entre” eles. Isso significa que eles vivem com suas ovelhas, que eles gastam tempo com suas ovelhas e que eles cuidam de suas ovelhas. Certa vez, ouvi um pastor famoso e renomado gabar-se pelo fato de ele nunca ter tido uma única refeição na casa de um dos membros de sua igreja, e de nem ter convidado qualquer um para ir à sua casa. Quando perguntei a ele o porquê, ele simplesmente respondeu: “Eu nunca quis chegar tão perto assim de alguém do meu povo”. Palavras não podem descrever como isso partiu meu coração. Isso ainda me entristece.
Irmãos, nós nunca fomos e nunca seremos superstars. Nós somos modestos pastores, servos do “Grande Pastor dos pastores”. Um dia, prestaremos a Ele as contas sobre as almas pelas quais estávamos velando (Hb 13.17). Talvez nós, por Sua graça e por Sua glória, façamos isso com alegria e consciência limpa, servindo a Ele e às Suas ovelhas “condignamente em todas as coisas” (Hb 13.18).