O pecado da insegurança

Jeremy Pierre
Jeremy Pierre

Barney luta para manter sua grande cabeça roxa erguida, enfraquecido pela gradual perda de audiência nos últimos anos. Outrora uma formidável voz na programação infantil da TV, agora ele repousa enfraquecido entre seus amigos, que permanecem em silêncio ao lado. Ele agarra os pelos de Elmo e o traz pra perto. “Uma coisa você nunca deve deixar uma única criança esquecer: ‘você é especial’”. O monstro de voz em falsete põe sua mão peluda no ombro de Barney e se volta para olhar os outros. Todos eles sabem que uma mensagem muito importante foi confiada a eles. De todas as lições morais em programas infantis de televisão, essa é deve ser fundamental.

E se você observar, sempre que shows infantis se distanciam da diversão rasa ou de soluções para problemas simples do dia a dia em direção à admoestação moral, isso é geralmente nesse mesmo tópico: a importância de uma auto-imagem positiva e a consequente confiança. Assim, a TV nos treina a pensar positivamente sobre tudo, desde a nossa cor do cabelo ao nosso conjunto particular de interesses, como um meio de proporcionar confiança para viver.

Eu não estou defendendo a baixa auto-estima, é claro. Eu estou simplesmente apontando ao fato que a insegurança parece ser a única coisa apropriada a se tratar. De fato, nós poderíamos dizer que, no universo moral das programações infantis, a insegurança é o pecado principal. Por quê?

Antes de tentarmos responder a esta pergunta, deixe-me apresentar outra: eu acredito que Deus também chama a insegurança de pecado. Mas por quê?

A resposta do primeiro por quê? e do segundo não poderiam ser mais diferentes. Nossos instrutores culturais desaprovam nossa insegurança porque isso é uma ofensa ao valor individual. Deus desaprova nossa insegurança porque é uma ofensa à dignidade de seu Filho. O problema de Deus com a insegurança é algo a ser ponderado.

Insegurança e confiança na carne

Pode parecer estranho, mas de acordo com a Bíblia, insegurança é o que Paulo chama de “confiança na carne”. Como pode fazer sentido que a insegurança e a confiança estejam relacionadas? Toda moeda tem dois lados. No lado de cima, confiança na carne é a auto confiança que vem do ato de possuir os atributos que supostamente determinam a dignidade. Mas no lado inferior da moeda é bem perigoso: a insegurança que vem do fato de não possuí-los. Em ambos os casos, nós colocamos nossa confiança em atributos pessoais que achamos que podem nos trazer vida.

No contexto religioso e cultural do apóstolo Paulo, ele possuía todas as características louváveis que o aprovariam diante de Deus e dos outros. Você e eu provavelmente nunca conhecemos alguém que quisesse ser conhecido publicamente como um fariseu ou que tenha sido circuncidado ao oitavo dia. Em nossa cultura, essas coisas não são particularmente louváveis. Mas todos nós sabemos as coisas que são. E mais dolorosamente, todos nós sentimos o desespero de não as ter.

Para alguns de nós, este é o ruído de fundo do nosso pensamento diário, e nós precisamos perceber que isso não é errado primeiramente porque te faz infeliz, como vários dos nossos amigos de pelúcia enfatizariam. A insegurança é pecaminosa por motivos mais sérios do que esses. Aqui estão pelo menos quatro deles:

1. Distração com o ego

A insegurança atrapalha nossa habilidade de fazer o Deus nos criou para fazer: amar a ele e aos outros. Quantas vezes você esteve em uma situação em que você deveria ter oferecido ajuda a alguém ou se aproximado de Deus em oração a sós, mas sua mente está viajando por mais uma rodada de quão estranho você está em suas calças essa manhã, ou quão inteligente a pessoa com quem você está falando é? Ser autoconsciente é ter consciência de si mesmo. Nós não estamos amando o próximo quando somos obcecados com nós mesmos; nós não estamos em humildade contando-os como quem é mais significante ou quem é mais digno. (Filipenses 2.3).

2. Insatisfação com Deus

Insegurança, às vezes, nada mais é do que murmuração por um maná melhor. Nós estamos cansados de alimentação adequada, queremos sabor extraordinário. Não gostamos do que Deus tem dado – dinheiro, posição, aparência, personalidade – e nós reivindicamos algo melhor. Tais descontentamentos são armadilhas de “muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição” (1 Timóteo 6.9). Nossa insatisfação com nós mesmos, as vezes, nada mais é do que nossa insatisfação com Deus. Insegurança não é pecado primordialmente por ser um insulto ao nosso valor (embora também seja), mas porque é um insulto à sabedoria de Deus.

3. Justificação perante os outros

Insegurança revela que nós almejamos mais a justificação diante das pessoas do que diante de Deus. Ele não se importa se você veste 36 ou 48, ou se você mora de aluguel ou tem sua casa própria. Nós sabemos disso, é claro. Mas nós ainda nos importamos… porque eles ainda se importam. Nós nos importamos mais com os atributos que pensamos que nos fazem dignos diante das pessoas do que aquilo que nos torna dignos diante do Todo Poderoso. Retidão é o que agrada ao Senhor. Mas nós preferimos ter uma reputação invejável. Quando nossa mente está priorizando mais atenção no Facebook ou uma carreira melhor como impulsos para nossa dignidade, abandonamos a retidão de Cristo, que é o que realmente nos faz dignos. (Romanos 1.16-17)

4. Justificação pelas obras

A insegurança mostra que nós ainda estamos, de certa forma, acreditando que a nossa justificação é baseada em nossos próprios atributos e realizações. A maioria de nós não é tentado a pensar que somos dignos porque somos da tribo de Benjamim, mas talvez desejemos pelo menos ter uma igreja maior, crianças mais impressionantes, um outro título antes do nosso nome. Mas a confiança nessas coisas é o pior inimigo da confiança em Cristo

E essa é a sanidade que o apóstolo Paulo nos traz em nossa insegurança: “Mas o que para mim era lucro, passei a considerar como perda, por causa de Cristo. Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor” (Filipenses 3.7-8a). Paulo não nos diria em nossas inseguranças implacáveis, “Eu sei que você não se sente digno, mas você é. Deus te fez especial.” Se sentir-se especial fosse a solução, nossas vidas seriam um infinito ciclo de dietas rigorosas e procura de emprego. Mas essas são apenas nossas patéticas tentativas de virar para o lado de cima da mesma moeda corroída. Isso ainda seria a confiança na carne.

Paulo nos diz para abandonar essa ideia de procurar o nosso valor em qualquer coisa que não seja Cristo e sua obra redentora a nosso favor. Repetitivamente circular por outra rodada de auto desprezo não pode ser comparado com abandonarmos a nós mesmos em serviço aos outros. O desgaste da reclamação contínua não pode ser comparada ao ganho de contentamento divino. A volúvel admiração das pessoas não pode ser comparada com a calorosa aprovação do Todo Poderoso. A incerta confiança que mantemos em nós mesmos não se compara à insuperável confiança que encontramos em Cristo.

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Se Paulo tivesse uma mensagem de despedida, certamente não seria que você é especial. Seria que você é justo em Cristo e que a recompensa dessa vitória está esperando você na linha de chegada, então guarde a fé (2 Timóteo 4.6-8). Não devemos nos preocupar tanto em sermos especiais ao ponto de não sermos encontrados em Cristo.

Traduzido por Marianna Brandão | iPródigo.com | Original aqui