PERGUNTA. Visto que fomos libertados de nossa miséria por Cristo, sem mérito algum de nossa parte, somente pela graça, por que ainda devemos fazer boas obras?
RESPOSTA. Certamente, Cristo nos redimiu pelo seu sangue. Mas devemos fazer boas obras porque Cristo, pelo seu Espírito, está também nos renovando à sua imagem, para que mostremos, com toda a nossa vida, que somos gratos a Deus por tudo que Ele fez e para que Ele seja louvado através de nós. E fazemos boas obras também para que, pelos frutos da fé, tenhamos a certeza de que nossa fé é verdadeira e para que ganhemos nosso próximo para Cristo, pela vida cristã que levamos. (Catecismo de Heidelberg, Pergunta/Resposta 86)
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Uma das objeções comuns para a visão cristã da salvação, especialmente para a expressão Reformada dela, é que a salvação somente pela graça e somente através da fé leva a licenciosidade moral. Se não podemos ganhar um pingo do i de libertação do pecado através de nossas boas obras, então por que fazê-las?
O Catecismo de Heidelberg dá cinco razões do por que aqueles que estão em Cristo ainda devem fazer boas obras.
Primeiro, devemos fazer boas obras porque o Espírito Santo está trabalhando em nós para nos fazer mais semelhantes a Jesus (2 Co 3.18). O mesmo Espírito que nos fez nascer de novo e nos capacitou a crer, também irá trabalhar para nos fazer santos (Rm 6.9-11).
Segundo, fazemos boas obras por gratidão (Rm 12.1-2). Isso não quer dizer que Deus nos salva e depois trabalhamos o resto de nossas vidas para recompensá-lo pelo seu favor (Rm 11.33-36). Ao invés disso, fazemos boas obras porque a maravilha de nossa salvação produz tamanha gratidão em nossos corações que temos prazer em servir a Deus.
Terceiro, fazemos boas obras para que Deus seja louvado pelas obras que fazemos em seu nome. “Nisto é glorificado meu Pai”, Jesus disse, “em que deis muito fruto; e assim vos tornareis meus discípulos” (Jo 15.8).
Quarto, fazemos boas obras para que tenhamos certeza de nossa justificação diante de Deus. A justificação é somente pela fé, mas a fé que justifica nunca está sozinha. Dando frutos, mostramos que somos uma árvore boa (Mt 7.15-20) e confirmamos nossa vocação e eleição (2 Pe 1.10).
Quinto, fazemos boas obras para adornarmos o evangelho (Tt 2.10) e assim torná-lo atrativo para os de fora (1 Pe 2.12).
Claramente, a Bíblia não é indiferente às boas obras. Cristãos que vivem em constante pecado sem arrependimento se mostram não serem cristãos verdadeiros. Claro, todos nós tropeçamos (Tg 3.2, 1 Jo 1.8). Mas existe uma diferença entre cair em pecado e pular com os dois pés dentro do pecado. Não importa o pecado – orgulho, difamação, furto, cobiça ou imoralidade sexual – se nos entregamos a eles e vivemos neles com uma alegre naturalidade, não herdaremos o reino de Deus. Colocando de forma simples, pessoas que andam dia após dia no mesmo pecado sem qualquer luta ou arrependimento vão para o inferno (1 Co 6.9-10, Gl 5.19-21, 1 Jo 3.14). Por outro lado, pessoas andando dia após dia na luz do evangelho e em vista de sua união com Cristo irão – imperfeita, mas verdadeiramente – aprender a fazer boas obras, serem bons e melhorar a cada dia.
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