Por que eu acho que não há problema em esquentar banco

Lisa Robinson
Lisa Robinson

Se você é cristão há algum tempo, você provavelmente já ouviu o tempo “esquenta banco”. Ele é usado normalmente de uma forma pejorativa para descrever aqueles que vêm à igreja, mas não fazem nenhuma contribuição ao ministério local. O que isso normalmente significa é que eles não se voluntariam para fazer nada em prol da igreja local, como trabalhar nesse ou naquele ministério. Faz sentido que eles sejam os primeiros a serem acusados quando a igreja sente falta de mais voluntários. Quando pastores e líderes falam sobre a presença de esquenta bancos, estão chamando todos a se levantarem e fazerem alguma coisa.

Bom, eu entendo os pastores que têm dificuldade em encontrar voluntários para funções importantes relacionadas ao pastoreio da igreja. Mas não tenho certeza se a solução é desdenhar aqueles que estão esquentando os bancos e tratá-los como consumidores que “recebem” os serviços da igreja, mas não dão nada em retorno por meio de voluntarismo (dinheiro é outro assunto, pois todos são chamados a contribuir). Eu não creio que é útil dizer às pessoas que se elas não estão fazendo alguma coisa, elas não estão contribuindo para a obra do corpo e deveriam fazer alguma coisa.

A mentalidade de que todos precisam estar fazendo alguma coisa levanta algumas questões relacionadas ao propósito e à função da igreja. A primeira coisa a fazer é definir o que a igreja é e, claramente, ao longo da história, houve muita discordância sobre isso. A definição que eu gosto é que a igreja é o corpo dos crentes da nova aliança em Cristo, chamados pelo Pai e unidos pelo Espírito. A presença física da congregação incorpora isso em uma localização específica sob a liderança autorizada e com a presença dos sacramentos. Mas, mais importante, é que a igreja é definida como uma função ontológica, isso é, a essência do que ela é, não do que ela faz. Em outras palavras, a igreja faz de acordo com que é.

Assim, as congregações locais devem refletir como o corpo se relaciona com Cristo. Note na carta de Paulo aos efésios a identificação dos crentes judeus e gentios unidos em um corpo pela morte de Cristo (Efésios 2.13-16).

Portanto, vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo Jesus Cristo como pedra angular, no qual todo o edifício é ajustado e cresce para tornar-se um santuário santo no Senhor.  Nele vocês também estão sendo edificados juntos, para se tornarem morada de Deus por seu Espírito. (Efésios 2.19-22)

Nós somos um organismo, no qual as partes estão unidas, que contribui para o crescimento do corpo conforme cada parte realiza sua função, como Efésios 4.16 indica. Certos dons são dados ao corpo “com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo” (Efésios 4.11-13). Note que não é qualquer dom e que eles estão diretamente relacionado a como recebemos a palavra do Senhor¹.

Então eu olho para as epístolas pastorais que descrevem as funções para realizar esse propósito, para que as pessoas sejam ensinadas, alimentadas e capacitadas a desenvolver o ministério de Cristo. O que elas indicam, pra mim, é que o corpo precisa se reunir para participar da comunhão que é necessária para que se possa crescer e se edificar em amor. Isso não se trata de uma função de dar, mas de receber. Em outras palavras, o foco primário deve ser o de edificar o corpo, não de se certificar que todo mundo está fazendo alguma coisa. De fato, eu até diria que quanto menos pessoas fazendo algo, melhor. Nossas reuniões devem ser um tempo de refrigério, reavivamento e renovo.  E sim, isso inclui a parte da música também.

Veja, não me leve a mal. Eu não estou sugerindo que os voluntários precisam ser descartados. De forma alguma! Os pastores precisam de tanto apoio quanto for possível. O que estou querendo confrontar aqui é a mentalidade que afirma que se alguém não está fazendo alguma coisa, é peso morto. É uma mentalidade que iguala estar ocupado a serviço e crescimento legítimos.

Durante a formação da igreja primitiva, não vejo nada dessa ideia de que todo mundo deve estar fazendo alguma coisa, nem de uma punição aos esquenta banco. Certamente havia uns poucos que contribuíram na tarefa de ensinar e de servir. Mas a ação era a contribuição de uns para com os outros com o intuito de edificá-los na comunhão, no encorajamento e na oração.

Nós podemos olhar para 1 Coríntios 12 e pensar que é uma prescrição para o fato de que todos devem fazer alguma coisa. Mas na época desse escrito, a listagem de Paulo dos dons falava mais a respeito de como todos os dons trabalham em conjunto para a edificação do corpo. Eu não creio que possamos olhar para essa lista, ou para Romanos 12.4-8, e concluir, em um contexto atual, que é uma lista de ministérios para serem realizados todos os Domingos e em outras programações da igreja.

Isso leva à minha sugestão de que não há problema em esquentar banco. Isso significa que há alguns que vêm à comunhão e podem colaborar com dons para o corpo apesar de não ser por meio de títulos oficiais ou funções ministeriais específicas. Alguém que exerce o dom de misericórdia pode fazê-lo para edificação de outros de uma forma que talvez nunca seja oficialmente observada. Serviço e encorajamento podem ocorrer além da infra-estrutura física de onde a igreja se encontra. Vir aos Domingo somente para participar da comunhão do corpo, para aprender e para crescer é algo bem razoável e bastante bíblico. Considere esse retrato da igreja primitiva: “Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações.” (Atos 2.42)

Além disso, outras pessoas realmente precisam esquentar bancos para lidar com circunstâncias excepcionais. A senhora que vêm à igreja sozinha e precisa voltar para seu marido incrédulo rapidamente após o culto provavelmente se beneficia por ser uma esquenta banco. O rapaz que trabalha em um hostil ambiente cheio de ateístas e agnósticos provavelmente precisa ser um esquenta banco. A família tão machucada pelo desemprego, vício ou problemas de relacionamento provavelmente deveria evitar algum serviço ministerial para sentar no banco e receber um pouco. Por que pessoas esgotadas deveriam se esgotar mais ainda?

No fim das contas, eu penso que nós precisamos re-examinar essa ideia de que esquentar bancos é uma coisa ruim. Eu não penso que é, necessariamente. Nem penso que isso significa que as pessoas não estão contribuindo para o corpo. De fato, pode ser que essa seja sua melhor forma de contribuição.

¹ Minha posição é que os apóstolos e os profetas serviram como a fundação para o testemunho de Cristo e isso está relacionado ao registro da Escritura. No contexto do Século I, fazia sentido falar dos apóstolos e profetas ativamente proclamando a palavra do Senhor.