Preocupação, ansiedade e o Reino de Cristo

Russell Moore
Russell Moore

Eu fui um adolescente satanista. Não, eu nunca estive no centro de um pentagrama feito com sangue ou me juntei a alguma seita. Os sinais do meu satanismo são as marcações amarelo-neon na velha Bíblia King James que minha avó me deu quando eu tinha 12 anos. Eu dei uma olhada nessa Bíblia há um tempo, e podia quase instantaneamente identificar, a cada texto marcado, o que estava acontecendo na minha vida na época.

A marcação de “Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4.13) estava lá porque estava preocupado por talvez não passar em geometria. Eu passei, por pouco, e apesar da presença de Cristo em minha vida, até hoje não consigo te dizer a diferença entre um trapezóide e um polígono. Mais ainda, eu nem entendia direito o versículo, que fala de contentamento em todas as circunstâncias (incluindo aulas de matemática em uma escola pública do Mississippi), não de um encorajamento do tipo “você consegue!”.

Quando vejo a marcação sobre o verso “E eu farei o que vocês pedirem em meu nome” (João 14.13), sei que foi quando estava orando para Deus fazer aquela garota na minha classe prestar atenção em mim. Eu fazia esse pedido e então repetia a cláusula “em nome de Jesus… em nome de Jesus… em nome de Jesus…” como se isso fosse fazer Deus atender à promessa. Ele não realizou esse meu pedido e, rapaz, como sou grato por isso.

A marcação de 1 Samuel 16.7, “Não considere sua aparência nem sua altura… O Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração”, foi porque eu era, na época, e até hoje sou, um pequeno homenzinho, e esperava crescer o suficiente, se não para ser considerado para o time de basquete, pelo menos para ser mais alto que aquela garota da minha classe. Isso também não aconteceu.

Obviamente, não há nada de errado em orar pela Bíblia. E não há nada de errado em pedir a Deus que ele resolva as coisas que te preocupam. É isso que Jesus ordena que façamos. Mas essas marcações me lembram quão dominada minha vida era pela preocupação e ansiedade.

Eu não era, de forma alguma, o que alguém consideraria orgulhoso ou arrogante (pelo menos, é o que eu penso, mas talvez seja meu orgulho e minha arrogância me impedindo de enxergar). Mas na raiz de toda a minha preocupação havia algum tipo de presunção e desejo de poder. Sim, eu estava orando, mas minhas orações eram simplesmente um disfarce para minhas preocupações. E minhas preocupações eram de manter meus pequenos reinos seguros e sob controle. Quando não estavam, eu ficava agitado, pra não dizer enfurecido.

E eu escrevo essas coisas como se estivessem somente no passado.

Se eu pudesse ver as marcações na minha própria mente, meu ego preocupado, descobriria que não cresci realmente desde então (tanto espiritualmente quanto fisicamente) como eu gostaria de pensar.

Às vezes os empurrões de Satanás para o orgulho em nossas vidas não são tanto sobre no que estamos nos acomodando, mas naquilo com que estamos nos preocupando. Nossa ansiedade muitas vezes revela uma recusa em confiar na providência paterna de Deus. E, sempre que começamos a ignorar isso, há um demônio pronto a nos adotar, a nos prometer pão ao invés de pedras, peixe ao invés de cobras. Nós não reconhecemos a voz de réptil, mas olhamos para o nosso futuro, ou para nossas Bíblias, e nos perguntamos “Deus disse o que mesmo?”.

[tweet link=”http://iprodigo.com/?p=7130″]Sempre que deixamos de confiar na providência do Pai, há um demônio pronto a nos adotar e oferecer pão ao invés de pedras[/tweet]

Jesus, todavia, era livre da adoração demoníaca da preocupação e da ansiedade. Ele entendia o cuidado de seu Pai por ele, e que a exaltação viria “no tempo devido” (1 Pedro 5.6), um tempo que não cabia a ele escolher.

Jesus nos diz que até mesmo olhando para o mundo natural, o ecossistema dos pássaros e plantas e campos, podemos ver demonstrações da herança de Deus para nós: “Eu lhes digo que nem Salomão, em todo o seu esplendor, vestiu-se como um deles” (Mateus 6.29).

Não precisamos buscar poder, glória ou segurança. Deus está nos preparando para tudo isso gratuitamente. Por conta disso, somos livres para buscar “em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas” (Mateus 6.33).

Estou sendo levado a me preocupar atualmente. Você, provavelmente, também está. Pare e ore; descanse no poder e na sabedoria do seu Pai e reconheça que, por trás dessa ansiedade, está alguém de língua fendida rastejando.