Que tipo de Deus condena pessoas ao tormento eterno?

Tim Challies
Tim Challies

Se nunca te perguntaram isso, vão perguntar. É o assunto mais tenso que qualquer pessoa pode enfrentar. A chave é olhar para a questão de um ângulo diferente – que tipo de Deus não condenaria Seus inimigos a um inferno eterno?

Como você pode acreditar em um Deus que condenaria pessoas a sofrerem os tormentos do inferno eternamente? Já me fizeram essa pergunta muitas vezes e, se você é um cristão, provavelmente já te fizeram também. Caso não, é bom ir preparando uma resposta, pois eventualmente isso irá acontecer. O inferno não é um assunto cômico, apesar do que dizem os desenhos animados. Em todo o mundo, em toda a eternidade, existem poucos assuntos tão importantes quanto esse, e para todo homem e mulher não há uma questão mais urgente.

Você está fazendo a pergunta errada

Como você pode acreditar em um Deus que condenaria pessoas a sofrerem os tormentos do inferno eternamente? Eu respondo com outra pergunta: “Como você poderia acreditar em um Deus que não o faria?”

Fazer a primeira pergunta é ignorar fundamentalmente a própria natureza de Deus; é fazer Deus à imagem do homem, pois a verdade é essa: se você quer um Deus que é bom – verdadeiramente bom – e se você quer um Deus que é justo e santo, então você deve aceitar esse Deus, esse Deus que condena pessoas a sofrerem os tormentos eternos do inferno. Você não pode ter esse Deus que você quer a não ser que exista o inferno.

Você não pode ter um Deus que é onisciente e todo-poderoso e todo bondoso. A bondade de Deus não anula a punição eterna do inferno; ela a requer.

A Escritura é clara quanto ao inferno

Com que base eu posso afirmar com tanta certeza e confiança a necessidade e existência do tormento eterno e consciente no inferno, mesmo que meu coração naturalmente clame em rebelião contra esse pensamento? Somente porque a Palavra de Deus é clara quanto a isso. A Bíblia descreve o inferno como um lugar onde Deus derrama Sua ira sobre pessoas que foram criadas à sua imagem (Mateus 10.28; 25.46; Apocalipse 14.10-11; 20.10-15). Deus o Pai escolheu Seu Filho para ser o Juiz eterno que condenará pessoas ao inferno (Mateus 25.31-34, 25.41; Atos 10.42). Isso não é uma tortura temporária ou momentânea realizada por Satanás ou seus demônios, mas um tormento eterno derramado pelo próprio Deus. Esse castigo será infligido a seres humanos conscientes, pessoas que sabem quem são, quem foram e o que fizeram (Lucas 16.22-31).

É real e literalmente impossível imaginar uma realidade pior que essa. Ainda sim a Bíblia, o melhor dos livros pelo melhor dos autores, o livro perfeito pelo mais confiante dos autores, nos diz que é assim. Se esse é o julgamento dEle, então qualquer coisa menor que isso não seria digna de um Deus infinitamente santo, justo e bom.

Quem sou eu para questionar Deus? Se esse Deus infinitamente santo e justo declara que o inferno existe e afirma que o inferno precisa existir, então rebelar-se contra Sua vontade revela uma falha em meu próprio entendimento de justiça e bondade. Será que eu sei mais do que Deus? Ou é possível que eu sou muito pior que Deus, infinitamente pior, e que eu esteja absurdamente distante de um entendimento completo da bondade de Deus e da maldade do pecado? Fazer é pergunta é respondê-la.

A santidade eterna de Deus requer que o inferno seja um tormento eterno e consciente

Por que eterno? A natureza eterna e sem fim do castigo do pecador está diretamente relacionada à natureza eterna e infinita de Deus. Quando você peca contra um Deus infinito – e todo o pecado é, primariamente, contra Deus – você contrai um débito infinito. Essa é a única forma de explicar a decisão do Pai de não poupa Seu Filho, mas entregá-lo para sofrer em nosso lugar (Romanos 8.32). Um ser eterno e infinito era necessário para carregar o peso de um castigo infinito.

Por que tormento? Os tormentos do inferno estão diretamente relacionados à santidade transcendente de Deus. Aqueles que enfrentam tal peso de condenação pecaram contra um Deus que é pura e verdadeiramente santo. A santidade de Deus é incapaz de tolerar qualquer coisa ou qualquer um que não seja santo; Sua santidade é como um reflexo que age instantaneamente com ira contra qualquer pecado (Romanos 1.18) de forma que, na Cruz, até mesmo Cristo clamou ao ser abandonado, separado te tudo que era bom, puro e santo (Mateus 27.46).

Por que consciente? Aqueles que pecaram conscientemente também deve ser punidos conscientemente. A Bíblia nos fala que não fomos passivos em nossa rebelião contra Deus, mas que fomos participantes voluntários, rebeldes ativos. De alguma forma misteriosa, fomos participantes voluntários até mesmo do pecado de Adão. A justiça demanda punição consciente, não uma mera aniquilação da pessoa ou de seu pecado. Que exemplo mais claro nós temos do que Jesus Cristo, que conscientemente levou sobre si a ira de Deus contra o pecado? Se o sofrimento de Cristo por nosso pecado foi consciente, assim também será o sofrimento daqueles que carregarem seus próprios pecados. Deus não pedirá menos deles do que pediu de Seu Filho.

O Deus que toda pessoa quer é um Deus que é bom, um Deus que dá coisas boas para aqueles quem Ele ama. Mas para ter um Deus que é bom, precisamos antes ter um Deus que é santo. A bondade de Deus flui de Sua santidade. O Deus da Bíblia é um Deus santo. Esse atributo de Deus chama atenção para sua separação, sua distância, o vasto abismo entre o Criador e as criaturas; nos fala que Deus deve estar separado do pecado e diz que Ele está comprometido em buscar Sua própria glória. Deus é inimaginavelmente santo, completamente perfeito no mais alto grau no mais alto nível. E porque Ele é santo, ele é bom.

Que grande contraste nós somos. Nós, seres humanos, somos pecaminosos de corpo, alma e espírito – nenhuma parte de nós escapou ou permaneceu intacta. É apenas a graça restringente de Deus que impede qualquer um de nós de buscarmos nosso pecado a níveis cada vez maiores e de nos tornarmos horrível e completamente pecaminosos como poderíamos ser (Tiago 1.14-15; Romanos 1.28-32; 8.2). Apenas a graça de Deus permanece entre qualquer um de nós e os mais terríveis pecados. Não somos assim porque Deus nos fez assim, mas porque isso foi o que escolhemos para nós mesmos (Tiago 1.13-14). Ninguém nos forçou a tal profanidade, tal depravação moral. Isso é o que desejamos e o caminho que tomamos. Nossa liberdade moral nos levou à total corrupção moral.

É esse contraste que faz do inferno uma horrível necessidade. A santidade de Deus requer que Ele permaneça separado do pecado, que aqueles que cometem pecado precisem ser mantidos distantes de Sua presença. Eles são incompatíveis, irreconciliáveis. Assim, os pecadores precisam ser lançados fora, e precisam ser mantidos distantes da presença de Deus.

A esperança

A Bíblia não nos dá outra opção senão reconhecer que o inferno é o castigo justo a pecadores que rejeitaram a bondade de um Deus infinitamente bom. Mas há esperança. Deus não nos deixou sem um meio pela qual qualquer um de nós pode ser resgatado, pela qual nossa pecaminosidade pode ser retirada de nós e trocada por verdadeira bondade. Jesus Cristo, o Filho de Deus, se tornou homem e serviu como um substituto pela humanidade pecadora, tomando sobre Si a culpa de nosso pecado e enfrentando a maldição de Deus contra o pecado. Surpreendentemente, espantosamente, o infinito Filho de Deus sofreu a punição infinita na cruz.

O que é tão notável e tão louvável é que Ele fez isso por outros, ao invés de por Si mesmo. Ele não tinha nenhum pecado, mas foi castigado pelo pecado de outros; Ele levou sobre Si esse pecado e agora oferece gratuitamente o perdão e a Sua justiça para todos que quiserem recebê-la (2 Coríntios 5.21; João 1.12; Tito 3.5-7). Ele é o caminho, Ele é a porta, Ele é a saída. E tudo que Ele requer é que ponhamos nossa fé nEle, nossa confiança nEle, confiando que Ele é Deus, que Ele proporcionou o caminho. A essas pessoas agora Ele oferece toda a alegria de uma eternidade de santidade, uma eternidade contemplando Sua pura e santa presença. Isso é graça, isso é Deus oferecendo o que tanto necessitamos mas jamais poderíamos obter por nós mesmos.

Conclusão

Quando você brada contra um Deus que pune pessoas em um lugar como o inferno, você clama contra o Deus que revelou a Si mesmo nas páginas da Escritura. Você clama contra Sua bondade, santidade e justiça; e em tudo isso você minimiza sua própria pecaminosidade ou a pecaminosidade dos outros. Os que mais entendem o inferno, mais profundamente aceitam sua existência, são aqueles com o maior senso de que merecem estar lá. São os que se maravilham com a graça que os chamou de lá para um lugar que é mais, muito melhor – infinitamente melhor!

Afastar a noção da eternidade do inferno é afastar a noção de eternidade no céu. Não é como se eles existissem em algum tipo de dependência mútua, de forma que um só pode existir se o outro também existir. Mas o pecado requer um castigo eterno, enquanto a graça chama ao amor e à alegria eterna, ao reestabelecimento do bom e santo relacionamento que o nosso Criador pretende usufruir conosco para sempre. Como eu posso acreditar em um Deus que condena pessoas ao inferno? Eu preciso acreditar nesse Deus, pois Ele derramou a punição do inferno sobre Jesus Cristo, por meio de quem eu tenho esperança.