RPG e o debate doutrinário

Russell D. Moore
Russell D. Moore

Você se lembra daquele pessoal que jogava RPG no ensino médio? Então, eles cresceram, se converteram, e agora debatem Calvinismo, defendendo ou atacando. Percebi isso na semana passada, quando recebi mais um “convite” no Facebook para participar de um fórum de discussão sobre Calvinismo.

Veja bem, não me interprete mal, há grandes e importantes questões envolvidas nas discussões sobre eleição, vocação, soberania, responsabilidade humana, etc. É só que, muitas vezes, me parece que esses debates são tão intensos por outras razões que vão além da simples fidelidade à Escritura.

Os grupos de RPG vieram à mente porque aqueles rapazes, pelo menos no meu ensino médio, pareciam obcecados com algo que não parecia ter qualquer relevância real para suas vidas, ou para a vida de qualquer pessoa. Mas o RPG havia se tornado sua identidade. Por que aquilo era importante para eles, eles eram importantes. Isso não estava, de forma alguma, restrito a esses garotos, ou aos seus “primos” dos videogames ou do skate. Esse é o mesmo fenômeno que ocorre entre aquelas pessoas cujo time de futebol se torna uma obsessão pessoal. A vitória ou a derrota do meu time é a minha vitória pessoal, porque é um indicativo de quem eu sou.

Eu temo que, muito frequentemente, nossos debates teológicos caiam exatamente nessa categoria. Nós lutamos com tanta garra porque há muito pouco em risco, por conta da forma como os vemos. O calvinista professo em seu fórum na internet vê uma relutância em abraçar o chamado pessoal eficaz como um ataque pessoal, como uma rejeição a ele mesmo. O anti-calvinista anônimo vê no calvinista um repúdio ao seu próprio passado e ao tipo de igreja e método que o levaram a Cristo. Ao invés de buscarmos entender uns aos outros, e amar uns aos outros com empatia confessional, nós nos mordemos e arranhamos. Isso porque, na maioria das vezes, o que queremos é estarmos certos, ao invés de edificarmos uns ao outro na fé.

[tweet link=”http://iprodigo.com/?p=6139″]Não há nada de errado em debater questões importantes. Mas o debate teológico não pode ser uma forma de entretenimento[/tweet]

Novamente: não há nada de errado em debater questões importantes. O Corpo de Cristo precisa de discussões bíblicas entre calvinistas e arminianos, dispensacionalistas e amilenialistas, batistas e pedo-batistas. Mas o debate teológico não pode ser uma forma de entretenimento. E certamente não deve ser um meio de provar que eu tenho valor o suficiente para ser ouvido. Dentro dos amplos parâmetros da grande e antiga ortodoxia cristã, há espaço para discordâncias, e para aprendizado, sem que ouvir uma rejeição (muitas vezes até temporária) do meu ponto de vista signifique uma rejeição a mim mesmo.

Traduzido por Filipe Schulz | iPródigo.com | Original aqui