Se os mortos não ressuscitam

Tim Challies
Tim Challies

Há quase 2000 anos atrás, um cristão chamado Paulo escreveu uma carta a um grupo de pessoas em Corinto, uma cidade grega. Inicialmente, essas pessoas haviam sido devotas e defensoras da fé cristã, porém começaram a ter ideias erradas acerca do evangelho. Esse pessoal escreveu uma carta para Paulo perguntando algo como: “Você nos disse que esse homem chamado Jesus morreu e ressuscitou. Nós estamos quase certos de que você não espera que literalmente acreditemos que um homem morreu e voltou a viver. Deve ter havido alguma espécie de metáfora ou princípio moral, certo?”

Mas Paulo não hesita. Ele responde: “Não! É precisamente o que estou dizendo!”. Nessa carta àqueles cristãos, Paulo afirma diversas vezes que Jesus verdadeira e literalmente morreu. Paulo estava preocupado com o povo de Corinto cambaleando naquilo que eles acreditavam acerca da ressurreição, então ele traz a verdade novamente para eles de uma maneira muito interessante. Ele diz: “Ok, então vocês simplesmente dizem que é impossível um morto voltar a viver. Bem, então vamos refletir sobre isso um momento. Vamos considerar as implicações disso caso seja verdade”. Paulo faz isso em 1Corítios 15.12-19.

Acho muito interessante ele abordar as coisas dessa maneira. Nós precisamos pensar nas implicações daquilo que acreditamos, ou daquilo que não acreditamos, ou daquilo que recusamos acreditar. Às vezes, temos certos tópicos pendentes naquilo que acreditamos e não os consideramos apropriadamente. O que Paulo faz aqui é dizer “Vamos pensar então sobre o que acontecerá caso os mortos jamais tornem a viver. Vamos ponderar sobre isso por alguns minutos.” Ele começa a forçar esse tópico pendente.

Adoramos um homem morto

“Se não há ressurreição de mortos, então Cristo não ressuscitou”. Se não há como os mortos voltarem a viver, logo Cristo não ressurgiu dos mortos. Adoramos assim um homem morto. Jesus foi para cruz, morreu, foi sepultado e seu corpo se decompôs como qualquer outro corpo. Cristãos, portanto, são seguidores de um homem morto.

A fé cristã é única porque afirma que seu maior mestre não é um simples homem, mas o próprio Deus, é única porque afirma que seu maior mestre não apenas morreu, porém ressuscitou. Todavia, se não há ressurreição, a fé cristã aparentemente se torna única em apenas alguns pequenos pontos, mas na verdade, se torna como qualquer outra fé. Somos pessoas que depositam sua fé em um guru, um líder espiritual, que viveu e morreu. Enquanto viveu, nos ensinou algumas boas lições e nos ajudou a ver como ter uma vida boa e moralmente correta. Porém seu tempo acabou, e ele se foi, morreu, fim da linha. E agora estamos abandonados tentando ser igual a ele, tentando nos tornar bons como ele foi bom.

Pregamos uma mensagem vazia

A segunda consequência emana da primeira. Se não houve ressureição, Jesus não ressurgiu dos mortos.  E, Paulo diz, “Se Jesus não ressuscitou, é vã nossa pregação”. Se Jesus não ressuscitou, a mensagem que Paulo está pregando é vazia. Sua pregação é vazia e é uma perda de tempo para todo mundo. Ele não está se referindo aqui a forma da pregação – ficando na frente da igreja, explicando e aplicando a Bíblia – mas a mensagem. Se Jesus não ressurgiu dos mortos, a mensagem que ele está pregando é desperdício, ladainha. Se você negar a ressurreição, você dilacerou a fé cristã e toda a mensagem do evangelho foi destruída.

Temos uma fé vazia

Há uma terceira consequência que emerge das duas anteriores. “Se Jesus não ressuscitou, é vã nossa pregação, e vã, a vossa fé”. Se Cristo não ressurgiu dos mortos, nossa pregação é vazia. E se nossa pregação é vazia, tudo que você aprendeu a partir dela e toda diferença que ela causou na sua vida é pura perda de tempo. Essa é necessariamente a conclusão. Não há como fugir disso.

Quaisquer que tenham sido as consequências da mensagem que você ouviu pela pregação, ou como você a aplicou na sua vida, foi simplesmente desperdício. Você construiu sua fé em algo sem sentido, em algo simplesmente impossível, em nada mais que uma mentira. Isso foi o que o apóstolo Paulo ensinou àqueles a quem ele amava. “Vão em frente e digam que Jesus não ressurgiu dos mortos, mas se vocês fizerem isso, vocês não terão mais uma fé consistente”.

Nós damos falso testemunho de Deus

Aqui está a quarta consequência em defender que os mortos não podem retornar a vida. 1 Coríntios 15.15 “…e somos tidos por falsas testemunhas de Deus, porque temos asseverado contra Deus que ele ressuscitou a Cristo, ao qual ele não ressuscitou, se é certo que os mortos não ressuscitam.” Se estamos dizendo que Deus ressuscitou Jesus dos mortos, e se isso não tiver realmente acontecido, estamos dando falso testemunho de Deus. Somos, assim, mentirosos.

Paulo os relembra, então, da mensagem que ele já havia pregado à igreja de Corínto quando os conheceu. Ele ensinou que é matéria de extrema importância o fato de Jesus ter ressurgido dos mortos. Se isso não for verdade, caso Deus não verdadeiramente ressuscitou Jesus dos mortos, logo estamos mentindo sobre Deus. Estamos contando mentiras sobre o Criador do universo. Se fizermos isso, estamos diretamente violando um dos dez mandamentos que diz “Não darás falso testemunho”. Estamos, dessa forma, violando também  o aviso presente em Provérbios 19.5: “A falsa testemunha não fica impune, e o que profere mentiras não escapa”.

Estamos perdidos no pecado

Enquanto ele explica a quinta consequência, Paulo repete seu argumento principal e adiciona “Se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados”. Se Jesus não ressuscitou, eu e você continuamos afundados nos nossos pecados.

Só consigo pensar em duas possíveis alternativas para o caso de Jesus ter morrido e permanecido dessa forma, morto naquela cruz, mas nunca ressuscitado.

Talvez Jesus não tenha sido, de fato, sem pecado. Talvez ele tenha enfrentado o julgamento de Deus como um homem pecador, e Deus o tenha julgado culpado, e sua morte foi a completa e final separação de Deus que ele merecia. Se isso é verdade Jesus era exatamente como eu e você, um homem manchado pelo pecado e corretamente e justamente condenado por Deus a morrer e permanecer morto. Se Jesus era pecador, ele seria incapaz de pagar pelo seu próprio pecado, sem mencionar o pecado de mais alguém.  Como eu e você, ele seria uma pessoa finita com um débito infinito a ser pago.

Talvez haja uma segunda razão para Jesus ter morrido e permanecido dessa forma. Talvez ele fosse sem pecado. Talvez ele realmente tenha sofrido a ira de Deus pelos pecados dos outros. Porém talvez Deus não tenha aceitado seu esforço. Cristo teria se oferecido pelos pecados dos outros, mas Deus não teria aceitado tal oferta. E Deus teria demostrado que não havia aceitado essa oferta mantendo Jesus no sepulcro.

Aqui está a argumentação de Paulo. Se alguma dessas fosse verdade, se Jesus, na verdade, fosse pecador e tivesse permanecido morto ou se Deus não tivesse aceitado sua oferta e, dessa forma, Jesus não tivesse ressuscitado, você e eu ainda estaríamos mortos em nossos pecados. Ainda não haveria um Salvador que houvesse conquistado a morte que nós merecíamos morrer. Estaríamos perdidos. Teríamos uma fé impotente contra o pecado e a morte.

Não teríamos esperança além do sepulcro

Há ainda uma trágica consequência se não houver ressurreição. Novamente no verso 17: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis em vossos pecados. E ainda mais: os que dormiram em Cristo pereceram”. Se não houve ressurreição, todas as pessoas que morreram crendo em Jesus Cristo como seu salvador experimentaram uma realidade bem diferente. Ao invés de acordarem na presença majestosa da glória de Cristo, elas entraram na escuridão e se foram. Ou pior, elas dormiram esperando acordar na presença maravilhosa de Jesus, porém elas morreram e acordaram perdidas nos tormentos do inferno.

De qualquer forma, por toda a história cristã o povo de Deus creu que, para eles, a morte é como dormir e acordar em uma realidade extremamente melhor. Eles, então, dormiram, confiantes que experimentarão as bênçãos do Senhor. Confiantes que é melhor estar em Cristo. Se não houve ressurreição, elas morreram enganadas. Fomos um povo enganado ao acreditarmos em uma mentira e todas essas pessoas são nossas vítimas.

Somos deploráveis

Paulo nos dá uma última consequência se negarmos a ressureição. Verso 19: “Se nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens”. Ele termina apelando. Se não houve ressurreição, você e eu não somos abençoados por Deus, como também somos simplesmente patéticos. Somos deploráveis, dignos de pena. As pessoas deveriam ter pena de nós por acreditarmos em algo tão bobo, sem esperança.

Eu amo a estratégia de Paulo e sua honestidade. E amo também sua conclusão: Se Jesus não ressurgiu dos mortos, não temos interesse algum em nos considerarmos seguidores de Cristo. Se não há ressurreição, a fé cristã é lixo.

Traduzido por Luis Felipe Heringer | iProdigo.com | Original aqui