Temerosa alegria

por Brian Borgman

O paradoxo emocional na vida cristã

Porque contemplei com temerosa alegria a vista da Rosa Escarlate do Calvário,
Pois Tu me capturaste. – Steve e Vikki Cook

Todos já ouvimos que a palavra “bem-aventurado” significa “feliz”. Corretíssimo. Mas o tipo de felicidade que os “bem-aventurados” expressam é algo que transcende as definições típicas de felicidade. Essa felicidade comunica uma satisfação e um contentamento que estão firmemente fundamentados na alma. Ela não é atingida pelo trivial. Ela comunica um sentimento de alegria que mais frequentemente é expresso por lágrimas, ao invés de risos. Ela não é inspirada por piadas.

Algumas vezes, na Escritura, esse tipo de felicidade ou bem-aventurança é estranhamente combinada com emoções que, intuitivamente, pensamos ser contrárias ou opostas. Por exemplo, nas Bem-Aventuranças, Jesus diz: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5.3). Mais impressionante é: “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados” (Mt 5.4). Aqueles que sentem sua própria pobreza, sua própria falência moral e espiritual, e sua própria incapacidade estão em um estado de felicidade. Aqueles que choram por seus pecados estão em um estado de contentamento e paz. Estranho? Na verdade, não. O que esses paradoxos demonstram é que há alegria experimentada pelos cristãos quando eles aceitam a realidade e a verdade sobre Deus e eles mesmos.

Jó experimentou algo assim. Depois de diminuir o caráter de Deus de tempos em tempos, Jó finalmente é confrontado por Deus em Jó 38. Deus gentilmente repreende Seu servo: “Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento?” (assim que Deus termina Seus dois discursos, Jó se arrepende em 42.2-6). Jó, nas palavras de Francis Anderson, “estava ao mesmo tempo deleitado e envergonhado”. Aqui está ele, contrito, humilhado, e, ainda assim, está espantado com coisas maravilhosas demais para ele entender (42.3). Ele despreza a si mesmo, mas está emocionado com Deus (42.5-6). Depois de todo seu sofrimento, toda sua miséria, Jó está alegremente admirado e constrangidamente contrito. Isso se parece com “Bem-aventurados os pobres de espírito” e “Bem-aventurados os que choram”.

No capítulo final de Isaías somos informados de que Deus olhará favoravelmente aqueles que são humildes e contritos em espírito, e que temem diante de Sua Palavra (Is 66.2b). Aquele que sabe que não tem nada a oferecer, que vê seu próprio pecado, e que realmente necessita de ajuda, este é aquele a quem o Senhor olha com favor. A próxima descrição é que ele treme diante da Palavra de Deus. Aquele que vê a magnificente majestade de Deus na Palavra, e seu próprio pecado à luz desta majestade, aquele que é profundamente penetrado, atingido e humilhado pela Palavra, é aquele de quem Deus diz: “em ti tenho prazer”.

A Palavra vem a cada um de nós e, ou há orgulho que se posiciona contra a Palavra com um espírito crítico, ou há humildade e quebrantamento que respondem com contrição e temor. O contrito e quebrantado é descrito por Jesus como pobre de espírito, como o que chora, e que tem fome e sede de justiça. Em última instância, qual é sua condição? Bem-aventurado! Verdadeiramente feliz.

Aquele que treme diante da Palavra alegremente encontra refúgio em Cristo. Ser humilhado e temeroso é incrivelmente doce. Não deve existir outro lugar que desejemos além do chão em nossos rostos, diante de um Deus santo, tremendo diante de Sua majestosa Palavra, e percebendo que nesta Palavra temos esperança; que ela é nossa salvação, e que nesta Palavra, nossa justiça é revelada em Jesus Cristo. É nessa posição “desagradável” de temor que encontramos a maior alegria.

B.B. Warfiel conhecia o paradoxo da alegria e miséria:

A atitude do “pecador miserável” não é de desespero; nem mesmo de depressão; e nem mesmo de hesitação ou dúvida; esperança é uma palavra muito fraca para aplicar aqui.

É uma atitude de exultante alegria.

Porém esta alegria não tem fundamentos em nós mesmos, mas em nosso Salvador.

Somos pecadores, e sabemos que somos pecadores, perdidos e inúteis em nós mesmos.

Mas somos pecadores salvos; e é nossa salvação que dá o tom de nossa vida, um tom de alegria que cresce na exata proporção da sensibilidade que temos de nossa dívida; pois aquele a quem muito se perdoa, muito ama, e este, amando, muito se alegra.

Traduzido por Josaías Jr | iPródigo | Original aqui