Trazendo o Evangelho para a conversa

Mike Riccardi
Mike Riccardi

Um dos desejos que o Espírito Santo cria no coração do recém convertido é o desejo de compartilhar com os outros as Boas Novas pelas quais nós fomos salvos. Entretanto, como todos nós sabemos muito bem, esse desejo pode ser ofuscado por várias coisas. Talvez temamos ser vistos como estranhos, ingênuos ou tolos. Talvez sintamos que ainda não conseguimos formular a mensagem do Evangelho de uma forma perfeitamente apresentável. Pode até ser que nosso orgulho ou egocentrismo tenham diminuído nossas afeições pela glória de Cristo e nosso amor pelos perdidos.

Às vezes, entretanto, nada disso é problema. A lembrança da glória de Cristo em Sua Palavra reacende em nossos corações a chama da proclamação. Essa visão da glória extingue nosso temor dos homens. Já estudamos e entendemos as bases do Evangelho e até já memorizamos algumas passagens de referência da Escritura. Mesmo quando estamos nesse estado, às vezes é simplesmente difícil introduzir o assunto em uma conversa.

Em alguns casos, a conversa com um colega de trabalho ou vizinho acaba naturalmente envolvendo o Evangelho. Louve a Deus por essas oportunidades.  Ore por mais delas. Na maior parte do tempo, entretanto, uma conversa não se move nessa direção a não ser a direcionemos ativamente. E eu penso que muitos Cristãos acabam desperdiçando oportunidades de levar uma conversa com um amigo em direção a coisas mais profundas porque simplesmente não sabem como fazer isso de uma forma que não seja muito abrupta, rude ou até brega.

Uma forma potencialmente útil de direcionar uma conversa rumo ao Evangelho é prestar estar atento a temas básicos. Alguns já conceituaram a história da redenção baseada nos quatro temas básicos da Criação, Queda, Redenção e Consumação. Já me ocorreu, refletindo nessas categorias, que muitas das experiências da nossa vida também podem ser vistas pelas lentes desses temas. Assim, estar atento a esses temas em uma conversa com um não crente pode prover uma transição natural para uma conversa sobre o Evangelho. Pense nisso comigo.

Criação

Ao criar os céus e a terra, Deus foi muito bom com toda a humanidade – Ele envia a chuva e o sol tanto para o justo como para o ímpio. Notar um ponto da conversa em que um não crente faz qualquer menção de aproveitar alguma parte da criação pode levar a uma transição suave para o Evangelho. Um comentário de um amigo sobre o clima agradável, a apreciação de um belo pôr-do-sol, a dúvida sobre a forma de uma nuvem ou mesmo a admiração perante o intrincado desenho de uma flor – tudo isso provê oportunidades para louvarmos o Criado que ordenou toda essa beleza à existência.

“Poxa, hoje está um clima muito bom, não é mesmo?”

“Com certeza. É muita bondade de Deus nos dar um dia tão bonito para aproveitarmos!”

“É… Acho que sim… Eu não sou muito religioso.”

“Entendo. Você nunca parou pra pensar nas coisas que Jesus disse que era, então?”

Uma outra forma que o tema da criação se conecta com as nossas vidas diárias é a nossa própria criatividade. Toda vez que alguém cria algo, eles imitam o Criado, mesmo que de uma forma pequena e caída. Criar é parte de sermos feitos à imagem de Deus. Isso vai desde o artístico – como pintura, fotografia, poesia, escultura – ao mais “mundano” – projetos arquitetônicos, decoração de interiores, jardinagem ou trabalhos de colagem. Cada uma dessas atividades provê oportunidades de louvar a Deus por Sua graça comum – Sua misericórdia em dar esses bons dons a tanto seus amigos como seus inimigos.

Se um não crente compartilha um interesse em alguma atividade criativa, seria muito bom dizer algo como:

“Você realmente parece gostar de escrever. Você já parou pra pensar no porquê disso?”

“Acho que é só uma coisa que eu comecei quando era mais novo e tenho gostado de fazer, desde então. Para falar a verdade, nunca pensei muito a fundo nisso.”

“Isso pode soar estranho, mas eu acredito que a nossa criatividade reflete a criatividade de Deus, que criou o mundo inteiro. A Bíblia diz que Deus criou a humanidade à Sua imagem, e assim podemos refleti-la de diversas formas. Você se importaria se eu falasse mais sobre isso?”

Queda

Por outro lado, as evidências da queda da humanidade no pecado estão em todo lugar. Circunstâncias injustas, relacionamentos pessoais prejudicados, esperanças e expectativas frustradas e mesmo várias outras tragédias nos dão evidências de que nosso mundo foi quebrado pelo pecado. Esses tópicos provêem oportunidades para falar do Deus que criou esse mundo “muito bom” e da rebelião da humanidade contra Deus que trouxe a maldição.

Oportunidades para conectar o tema da Queda com as nossas vidas são, literalmente, constantes. Uma das atividades preferidas da nossa geração é a reclamação. De fato, Paulo nota que as reclamações e murmurações são tão comuns em nosso mundo que, ao não exercitarmos essas atividades, nós nos destacaríamos como estrelas no universo (Filipenses 2.15). Do carro que quebrou de novo à artrite, das brigas constantes com o cônjuge ao reconhecimento simples de que as coisas não aconteceram de acordo com o planejado, todos nós temos um senso de que as coisas em nosso mundo estão terrivelmente erradas. Se um amigo não crente reclama de algo para você, é possível reconhecer, de forma sensibilizada, que essa experiência confirma o que a Bíblia ensina sobre o mundo ser caído. É um caminho curto daí até a razão pela qual o mundo caiu: o pecado – a rebelião contra Deus na qual todos nós tomamos parte diariamente. E, é claro, é mais uma curta caminhada daí até a solução para o sofrimento: a obra redentora de Jesus Cristo. É o que vem a seguir.

Redenção

Mesmo que nosso mundo seja caído, Deus ainda nos permite graciosamente experimentar a correção de alguns erros, a reconciliação de alguns relacionamentos, a resolução de alguns conflitos. Quando amigos não crentes experimentam essas expressões da graça comum, podemos celebrar com eles. Aqui está uma oportunidade de falar da graça comum de Deus e do tema da redenção que é completa em Cristo, o Redentor.

Se uma amiga que esteve falando para você sobre problemas matrimoniais repentinamente te conta que ela e o marido resolveram algumas questões e se reconciliaram, você tem uma oportunidade de celebrar a “redenção” do relacionamento. Se um amigo estava incapacitado por uma doença ou ferimento, mas agora se recuperou, você pode celebrar a “redenção” da saúde dele. E ao fazê-lo, ao louvar a Deus por ser misericordioso em geral, você também pode apontar para como esses acontecimentos de redenção são imagens, imersas na experiência humana, projetadas para nos levar à história suprema de redenção que Deus realizou em Cristo.

“Jen, estou muito feliz que você e o Ron estão se acertando. Tenho orado por vocês desde que você comentou pela primeira vez que as coisas estavam meio complicadas.”

“Ah, muito obrigada! Eu estou muito feliz, também. É muito ruim se sentir distante de alguém que deveria ser a pessoa mais próxima, seu melhor amigo, sabe?”

“É, entendo. E é interessante você colocar dessa forma, porque foi exatamente assim que eu me senti quando Deus se reconciliou comigo por meio do relacionamento com Jesus Cristo. Eu realmente gostaria de falar disso com você, você se importa?”

Consumação

Finalmente, o tema da consumação passa por qualquer experiência humana de realização, qualquer senso de antecipação que finalmente se completou.

Pense no quão ansiosa uma criança aguarda pela manha de Natal, mal conseguindo dormir na noite anterior, por conta do desejo de ganhar aqueles presentes que ela vem pedindo o ano inteiro. Ou pense na excitação e senso de dever cumprido ao subir naquele palco e finalmente receber aquele diploma que você trabalhou tanto, e por tanto tempo, para obter. Talvez algum amigo que você conheça sabe o que é ter trabalhado por anos em um manuscrito para finalmente receber a primeira cópia do livro publicado em uma manhã e segurá-lo em suas mãos pela primeira vez. E todos nós sabemos do prazer de finalmente reencontrar um velho amigo ou um parente amado após um longo tempo de separação. Os olhos arregalados, o sorriso de orelha a orelha e a recepção de braços abertos são testemunho da consumação da antecipação de se encontrar novamente.

Cada uma dessas experiências são ecos da consumação final de todas as coisas, quando o Senhor Jesus finalmente retornará para destruir Seus inimigos, para redimir Seu povo e recebê-los para Si mesmo e para governar sobre Sua criação em justiça. Como crentes em cristo, nós aguardamos por esse momento como uma criança espera pelo Natal. Quando ouvirmos “servo bom e fiel”, sentiremos como se recebêssemos aquele diploma, mas de uma forma infinitamente mais profunda. E quando finalmente vermos Jesus, bem, palavras não podem capturar adequadamente a alegria e o prazer consumado que sentiremos eternamente.

Conclusão

Sou movido a adorar quando penso no quanto Deus aparentemente imbuiu os grandes temas do Evangelho nas experiências da vida. Eu oro para que o mesmo aconteça com você. Mas essa adoração não deve permanecer no nível da admiração passiva. Ela deve nos levar a tirarmos vantagem dessa realidade como uma estratégia para testemunharmos aos nossos amigos não crentes.

Medite nesses temas e pense em como aplicá-los estrategicamente em suas próprias conversas. Ore pra que Deus graciosamente lhe conceda um cuidado genuíno pelos não crentes que Ele traz até você. Seu amor por eles irá guiá-lo a falar de uma forma que demonstre sua preocupação genuína pelas almas deles.

No contexto de desenvolver esses relacionamentos e cultivar o amor pelos perdidos, se mantivermos os ouvidos abertos para os temas da Criação, Queda, Redenção e Consumação, poderemos encontrar mais oportunidades de levarmos nossas conversas em direção ao Evangelho.