Trocando temor por temor

Kevin DeYoung
Kevin DeYoung

Por que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria? Porque o fim da tolice é o amor ao louvor dos homens. Ou para dizer a mesma coisa de maneira diferente: não há pecado tão comum, tão pernicioso e tão profundo quanto o pecado de temer as pessoas mais do que tememos a Deus.

Pense em Saul, aquele benjamita alto que se tornou o primeiro rei de Israel. Sua queda foi resultado de temor mal direcionado. Como ele explicou a Samuel depois de todo o problema com o balido das ovelhas, “Então disse Saul a Samuel: Pequei, porquanto tenho transgredido a ordem do SENHOR e as tuas palavras; porque temi ao povo, e dei ouvidos à sua voz” (1 Samuel 15.24). Aqui está esse rei poderoso e impressionante preocupado sobre o que as pessoas pensarão dele. E não é com seus inimigos, os amalequitas, que ele se preocupa. Exceto por Agague, todos eles estão mortos. Saul não estava preocupado com seus inimigos; ele estava com medo de seus amigos – preocupado se eles os abandonariam, preocupado com uma revolta, preocupado com ele ser um rei impopular.

Saul era mais alto e tinha mais autoridade que qualquer um do reino e, ainda assim, ele desobedeceu um mandamento claro de Deus porque temia as pessoas. Ele foi o exemplo do Senhor para Provérbios 29.25: (“O temor do homem armará laços, mas o que confia no SENHOR será posto em alto retiro”) e uma previsão dos acusadores de Cristo em João 12.42-43 (Mas não o confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da sinagoga. Porque amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus”).

Saul é apenas um de muitos exemplos tristes daqueles que consideravam mais precioso serem aceitáveis, agradáveis e influentes aos olhos de seus pares que serem honrados, reconhecidos e encontrados fiéis aos olhos de Deus.

É fácil ver quão tolo Saul foi, mas cada um de nós luta com o mesmo temor do homem e amor ao louvor do homem.

  • Você luta com a pressão dos outros? Você aceita coisas contra sua vontade apenas para continuar no grupo? Isso é temor do homem. E não fica mais fácil quando você envelhece. Adultos apenas descobrem jeitos mais criativos de mascará-lo e maneiras sociavelmente mais aceitáveis de canalizá-lo. Não esquentamos as coisas como antes. Mas ainda sentimos pressão quando a fofoca começa, um filme explícito está passando ou alguém começa com palavrões.
  • Você assume muitos compromissos? É impossível para você dizer não? Pode ser um sinal de que você ama ser amado pelos outros.
  • Você está sempre agradando as pessoas? Eu odeio dizer isso com todas as pessoas boas por aí, mas se todo mundo sempre gosta de você o tempo todo, então pode ser que você não seja a pessoa mais gentil do mundo, mas simplesmente sabe o que as pessoas esperam e como agradá-las. Gentileza incessante pode ser antropocêntrica.
  • Seus relacionamentos são mais sobre ser amado e parecer amável que realmente amar os outros? Muitas vezes, nosso medo de ofender e o medo de confronto devem-se menos a nosso grande amor pela pessoa e mais a nosso desejo de sentir-se amado.
  • Você tem a autoestima baixa? Isso pode parecer contraintuitivo, mas questões de autoestima normalmente estão enraizadas em orgulho. Você idolatra as opiniões dos outros. Você as utiliza para construir sua identidade e um sentimento de bem-estar.
  • Você é facilmente esmagado pela crítica? Ninguém gosta de ser criticado, mas reflita se você não está colocando sua identidade na opinião de outras pessoas e se não é por isso que a crítica te devasta. Agradar aos outros é o motivo porque muitos de nós “não conseguimos nos perdoar”.
  • Você se sente preso pelos elogios dos outros, porque você nunca pode alcançar a expectativa deles? Sei, da minha própria experiência, que é mais provável ser seduzido por pessoas que pensam que sou ótimo que por pessoas que pensam que sou um idiota. Ser criticado é um fardo, mas o louvor das pessoas pode ser ainda mais pesado.
  • Você está sempre duvidando de si mesmo, preocupado com o que as pessoas pensam sobre suas decisões? Você pode ser naturalmente tímido. Ou você pode achar repugnante desapontar os outros ou ser considerado um tolo.
  • Você se envergonha frequentemente? Todos fazemos coisas bobas e é saudável rir de nós mesmos, mas se você sempre sente vergonha por coisas pequenas que você ou sua família fazem, então pode ser que você seja governado pela opinião dos outros.
  • Você conta mentirinhas brancas para parecer melhor? É fácil livrar sua cara ou ganhar credibilidade ao contar pequenas mentiras sobre quanto você ora, quanto pesa, quando acorda, onde esteve ou o que leu.
  • Você evita pessoas com medo da rejeição? Há algo errado em seu coração se você está constantemente suspeitando que os outros não gostam de você e devem estar pensando algo ruim.
  • Você é obcecado com seu corpo? Paulo diz que o exercício físico tem algum valor. O desejo de cuidar dos nossos corpos é bom. Mas o temor do homem transformar um cuidado saudável em uma obsessão com nossa forma, cor e tamanho.
  • E se todas essas questões erraram o alvo, considere: Quando você se compara com outras pessoas, isso te faz se sentir bem? Talvez a forma mais perigosa de temor do homem é o temor bem-sucedido do homem. Algumas pessoas são muitos confiantes, mas somente porque todo mundo está quase sempre interessado nelas. Não parece uma vida construída sobre o temor do homem – até que ele se vai.

Nesse momento, você está pensando: “Ótimo. Obrigado, Kevin. Isso foi realmente desencorajador. Eu já me sentia mal sobre mim mesmo e agora me sinto pior. Não tinha ideia de que tanto da minha personalidade e idiossincrasias estavam misturadas com o pecado”. Mas, alegre-se, se nosso problema é pecado e não personalidade, pelo menos sabemos que podemos ser perdoados e que Deus deseja nos ajudar a mudar.

E como nós mudamos? Bem, o remédio bíblico não é fácil, mas é simples.

Primeiro, devemos temer a Deus. Essa é a famosa conclusão do fim de Eclesiastes. Depois de ir atrás de todas as opções do mundo (sexo, dinheiro, poder, prazer, trabalho) e declará-las vaidade, correr atrás do vento, o Pregador dá seu veredicto final: tema a Deus e guarde seus mandamentos (Ec 12.13). É simples assim. E é desafiador. Preocupe-se mais com o que Deus pensa que com o que as pessoas pensam.

Segundo, devemos prestar mais atenção em Deus e menos nas pessoas. Os fariseus, em Mateus 22, estavam tentando enganar Jesus, mas ainda assim eles conseguiram dizer algo verdadeiro: “Mestre, bem sabemos que és verdadeiro, e ensinas o caminho de Deus segundo a verdade, e de ninguém se te dá, porque não olhas a aparência dos homens” (Mateus 22.16). Jesus esta um homem de integridade. Ele era honesto, direto e não se apagava diante da opinião pública. Mas como ele fazia isso? Ele confiava em superpoderes? Ele chamava anjos? Ele usava milagres? Como Jesus manteve sua integridade? Bem, em parte, foi simplesmente aquilo que os fariseus reconheceram nele – ele não se importava sobre a opinião de ninguém. Obviamente, Jesus nunca foi rude ou descuidado. Ele tinha compaixão das pessoas e ouvia as crianças e os corações partidos. Mas, quando se tratava de viver em obediência a Deus, ele sabia que era melhor não confiar nas opiniões dos homens.

Nunca superaremos nosso temor do homem até que vermos – como Ed Welch diria – que as pessoas são pequenas e Deus é grande. Seres humanos são paradoxos. Nós devemos ser honrados e respeitados como portadores da imagem de Deus e coroas de sua boa Criação. E ainda assim, somos vermes também. Ao invés do slogan “Estou bem, você está bem”, seria melhor dizermos “Eu sou pó, você é pó”.

Essa é uma questão da fé que precisa de muita luta. Não temeremos a Deus mais que às pessoas a não ser que conheçamos a verdade sobre Deus e as pessoas. Você acredita que agradar a Deus é mais importante e satisfatório que agradar às pessoas? Você crê que Deus é o único a quem você prestará contas no fim dos tempos? Você acredita que Deus perdoou todos os seus pecados a custo do sangue de seu Filho, e que Jesus não precisa de nada do seu autoabuso para fazê-lo sofrer o suficiente e de nenhum dos seus sentimentos de miséria perpétua para fazê-lo amoroso o suficiente? Você acredita que temer o Senhor, guardar seus mandamentos e viver para ouvi-lo dizer “muito bem, servo bom e fiel” é a vida mais libertadora que você pode viver? Você acredita que somente Deus é Deus e ninguém mais? Você acredita que Deus está satisfeito, não importa quem gosta de você, suas posições políticas ou seu Ph.D.? E que, se Deus está feliz com você, não existe um inferno na terra ou inferno porvir que pode afastar esse sorriso de você? Iremos, eu e você, com toda a nossa preocupação, orgulho e autojustificação, ter fé suficiente para trocar nosso temor por outro temor?