Um pouco mais sobre nomes

Uma das ideias desse blog é postarmos pensamentos que não se sustentam o suficiente para serem chamados de artigos. E tem um que ando guardando há algum tempo. Mais especificamente, foi por não ter espaço para essa reflexão que sugeri aos outros caras que fizéssemos um blog com textos mais informais.

(Isso não quer dizer que eles serão bons).

Recentemente, a banda Vampire Weekend lançou uma música chamada Ya Hey, que recebeu boas críticas, embora não tenha se tornado um hit.

A letra é meio que uma reclamação contra Deus. O Ya hey do refrão é uma reelaboração de Yahweh, ou Javé, o nome pactual de Deus. Embora não seja tão óbvio a quem o autor se refere, ele começa falando de alguém que não é amado nem por Sião, nem pela Babilônia, mas que ama todas as coisas. Todo o clima da canção me lembra um salmo às avessas ou o texto de Romanos 1, porém escrito por um incrédulo. Um trecho:

Through the heart and through the flames
You won’t even say your name
You say I am that I am
But who could ever live that way?

Isto é, o autor reclama que Deus não se revelou. A razão é que Javé não teria sequer dito seu nome. Como conhecer alguém que não se apresenta? Através da chama e do fogo, ele disse apenas “eu sou o que sou”.

Mas, isso seria realmente um problema? Farei outra citação de cultura pop, mas continue seguindo meu pensamento. Porém, um alerta: mencionarei revelações do final de temporada de um seriado. Prossiga com cuidado.

spoiler

Recentemente, o seriado britânico Doctor Who (você ainda ouvirá muito sobre ele por aqui) lidou com questões parecidas. Para quem não sabe, o título da série envolve justamente uma pergunta sobre o nome do seu personagem principal. O Doutor (ou, The Doctor no original) é um misterioso viajante do tempo e do espaço que se apresenta somente por essa alcunha Doctor, o que geralmente suscita a inevitável pergunta: Doctor Who? (algo como “Doutor quem?”, “que doutor?”, etc.). A série já tem 50 anos e o nome do seu misterioso protagonista jamais foi revelado.

Porém, um episódio recente prometia revelar um grande segredo do personagem. O título do episódio era The Name of the Doctor [O Nome do Doutor]. Alguns fãs lamentaram a ideia, por medo de perder parte da magia de seu herói. Outros estavam morrendo de curiosidade. A solução foi bem mais interessante. No final da história, o protagonista diz algo mais ou menos assim: “Meu nome verdadeiro não importa. O nome que escolhi foi O Doutor. É como uma promessa que você faz”. Ele também menciona um tempo em que deixou de usar o nome porque quebrou essa promessa. Esse era o segredo.

É aqui que quero chegar. O nome The Doctor representa uma promessa feita por ele, uma aliança em seu nome consigo e com outros. Isto é, The Doctor é o nome pactual do Doutor, a maneira como ele se apresenta a nós e uma garantia de que ele (como um “doutor”) será fonte de conhecimento, de cura e salvação para seus aliados.

Agora, voltemos à Vampire Weekend e ao nome Yahweh. A banda reclama que Deus não se apresentou, não se deu a conhecer, mas isso não é verdade. Yahweh é o nome da promessa, um nome pactual que lembra Moisés e os filhos de Israel de que aquele Deus é o salvador da linhagem de Abraão e cumprirá suas promessas.

E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós. E Deus disse mais a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel: O Senhor Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó, me enviou a vós; este é meu nome eternamente, e este é meu memorial de geração em geração.(Êxodo 3.14-15)

Com isso, mas não estou ensinando que exista um “nome real” de Deus e/ou que isso não importa, ou algo assim – estaríamos entrando no campo da especulação e extrapolando a ilustração. O que quero dizer é que o homem de Romanos 1 não tem do que reclamar e não pode afirmar que Deus não se deu a conhecer. E nem aqueles que conhecem o nome Javé. Muito pelo contrário, o Senhor revelou seu Nome e, com seu Nome, uma maravilhosa promessa. Se não estamos satisfeitos com isso, o que se manifesta é apenas o quanto somos blasfemos e ingratos. Deus não precisava revelar nada, nem prometer ou achegar-se a nós. Ainda assim, ele se propôs a ser fonte de sabedoria, cura e salvação. Ele é nosso Mestre e nosso Médico.

E, felizmente para nós, não houve uma época em que Yahweh descumpriu e quebrou sua promessa. E ele não a quebrará jamais. Ele sempre foi, sempre é e sempre será quem Ele é. E Ele é fiel. Ele é. Estamos tão seguros nEle quanto é certa a própria identidade de Deus.