Como dito no último post, existem diferentes métodos, ou escolas, de apologética, ou defesa da fé cristã. Uma dessas escolas é chamada pressuposicionalismo, a qual eu espero descrever hoje. Embora meu objetivo seja guardar a avaliação para o próximo texto, provavelmente será fácil perceber que eu penso favoravelmente a respeito do pressuposicionalismo. Mas meu objetivo hoje é simplesmente dar uma breve descrição do que é o pressuposicionalismo.
Como outras abordagens, a abordagem do pressuposicionalismo tenta argumentar pela racionalidade do Cristianismo ao defender a fé contra objeções (cf. 1Pe 3.15) e ao refutar as reivindicações de outras visões de mundo e religiões que são antitéticas ao Cristianismo (cf. 2 Cor 10.5). Embora seja provável que o pressuposicionalismo enfatize mais a refutação a sistemas de crenças contrárias que qualquer outra escola de apologética, todas as escolas da apologética concordam nesses princípios básicos.
DOIS MITOS DERRUBADOS
Dois princípios básicos, entretanto, distinguem o pressuposicionalismo de outras escolas de apologética como o evidencialismo ou apologética “clássica”. O primeiro é a noção de que neutralidade é um mito. Porque Deus é o Criador do mundo, nada está fora do domínio do Seu Senhorio. Isso significa que nada – nem mesmo fatos ou conhecimentos – é neutro. Todas as coisas estão a) em submissão ou b) hostis ao Senhorio de Cristo.
O segundo princípio é que a noção da autonomia humana é um mito. Novamente, porque Deus é o Criador e o homem a criatura, o homem não tem nem o direito, nem a verdadeira capacidade de avaliar realidade (i.e., raciocinar) independente de seu Criador. Esse é especialmente o caso à luz do fato de que a queda da humanidade ao pecado corrompeu todos os aspectos do nosso ser, incluindo nossa habilidade de raciocinar. Porque o homem foi criado à imagem de Deus (Gn 1.26-27) com a lei de Deus escrita no seu coração (Rom 2.15), ele instintivamente sabe que Deus existe como seu Senhor (Rom 1.19-20). Mas por causa dos efeitos do pecado no seu coração e mente, o homem suprime verdade em injustiça (Rom 1.18). Enquanto que antes da Queda, Adão descansava completamente na Revelação Deus para o seu conhecimento do mundo, depois da Queda, o homem começa com ele mesmo e sua interpretação da realidade como o ponto de partida para o conhecimento. Não-cristãos acreditam que suas opiniões, em vez da revelação de Deus, são o julgamento final da avaliação do mundo. Todavia, o pressuposicionalismo salienta que o Senhorio de Deus e o pecado humano destroem toda a “neutralidade” e torna tudo – inclusive a razão e as leis da lógica – dependentes do próprio Deus.
PRESSUPONDO A VERDADE
Por causa desses princípios, uma chave distinta da apologética pressuposicional é que o apologista deve pressupor (daí o nome) a verdade da Bíblia e da visão de mundo cristã. Não devemos, nem mesmo a título meramente argumentativo, conceber que a realidade pode ser de qualquer outro jeito além do que realmente é. Isso também separa o pressuposicionalismo de outras escolas de apologética, que buscam achar algum campo comum e neutro com um incrédulo para que ele racionalmente avalie as reivindicações cristãs.
Por exemplo, um apologista evidencial pode fornecer evidencias arqueológicas, as quais podem ser avaliadas por um ponto de vista empírico, a fim de argumentar a favor da confiabilidade da Bíblia. Ou, um apologista clássico pode empregar um argumento lógico (como o Argumento Cosmológico) para argumentar sobre a existência de Deus, o qual um incrédulo pode julgar ser racional ou irracional. Em ambos os casos, um incrédulo é apresentado com evidência e o apologista “exige um veredicto”.
Esses métodos podem parecer legítimos na superfície, mas na realidade eles pressupõem que os incrédulos pensam, raciocinam, e avaliam as evidencias de uma perspectiva neutra. Mas porque a) Deus é o criador e o Senhor do Universo, e b) na realidade, a verdade revelada na Bíblia é de fato verdade a não apenas uma verdade em potencial, e c) o incrédulo pecaminosamente avalia a evidência a partir de suas próprias pressuposições e sem neutralidade, portanto, d) o apologista não deve renunciar as pressuposições que são à base da fé cristã. Nós devemos pressupor a verdade do Cristianismo como o ponto de partida apropriado nos nossos encontros apologéticos.
O QUE TORNA A NOSSA VERDADE MELHOR QUE A “VERDADE” DELES?
Quando nós falamos sobre a “verdade do Cristianismo” como nosso ponto de partida apropriado, é importante esclarecer que tal verdade é conhecida somente pela revelação de Deus. Como eu mencionei anteriormente, mesmo antes do pecado ter corrompido a mente humana, o conhecimento do homem dependia da revelação de Deus. Deste modo, um cristão, que já foi redimido do poder do pecado e agora tem a mente de Cristo(1 Co 2.16), deve também depender da revelação de Deus para o entendimento do mundo. Nós sabemos que as coisas são verdades absolutas, não porque nós somos oniscientes. Nem reivindicamos ser inerentemente mais espertos que qualquer outra pessoa. Antes, Aquele que é onisciente, graciosamente Se revelou de uma maneira que pode ser entendida por aquele que tem fé em Cristo Jesus pelo poder do Espírito Santo. Portanto, em nossos vários encontros apologéticos com incrédulos, nós devemos deixar claro que a verdade revelada na Bíblia é uma verdade absoluta, mas que a nossa certeza não vem do nosso próprio conhecimento ou capacidade, mas do conhecimento de Deus revelado clara e graciosamente a nós.
ARGUMENTANDO TRANSCENDENTALMENTE
Além disso, uma das marcas do pressuposicionalismo é argumentar transcendentalmente. Isso significa que a realidade em que nós vivemos – significado, pensamento, fato, conhecimento, etc.- logicamente pressupõe que o Deus da Bíblia existe. Em outras palavras, o pressuposicionalismo argumenta que a visão de mundo cristã deve ser verdade por causa da impossibilidade do contrário, dado o mundo em que nós vivemos. Nenhuma outra visão de mundo pode explicar porque as leis da lógica existem, ou porque a maioria dos seres humanos tem um senso moralista instintivo de certo e errado. Sem o Deus da Bíblia, argumento, razão, moral e ordem natural são impossíveis.
Por isso, a tarefa maior do apologista pressuposicionalista é demonstrar a falha de visões de mundo opostas para explicar consistentemente o que vemos no mundo. Por exemplo, sem o Deus da Bíblia como pessoal, absoluto, soberano que nos deu as leis morais, ninguém pode explicar porque ficamos horrorizados com os crimes da Alemanha Nazista. É por isso que podemos concordar que esses atos são objetivamente maus, e não meramente “certo para eles, mas errado para mim”.
APOLOGÉTICA E EVANGELISMO
Finalmente, devemos lembrar que nossos encontros apologéticos estão inextricavelmente ligados à pregação do evangelho. Nosso objetivo final não é meramente ganhar os argumentos, mas almas. Lembrando que o problema dos incrédulos não é a falta de evidência ou informação, mas o fato de estarem cegos para a glória de Cristo revelada no evangelho (2 Co 4.4), nós devemos pregar o evangelho da Palavra de Deus na esperança de que Deus irá conceder fé e arrependimento pelos meios da Palavra pregada (2 Co 4.6; Rm 10.17).
Isso não significa que o pressuposicionalismo é contra dar evidências do Cristianismo. Nós devemos certamente “fazer defesa” para todo que perguntar (1 Pe 3.15). Nós simplesmente percebemos que essa evidência deve ser apresentada de acordo com a pressuposição da revelação bíblica, e que dar evidências não é decisivo para mudar o coração de um incrédulo. Em outras palavras, já que o problema dos incrédulos não é intelectual, mas ético, nós devemos argumentar, persuadir e pregar como se nós soubéssemos que somente o Evangelho pode resolver seu problema ético.
RESUMO
Em resumo, o pressuposicionalismo enfatiza que porque Deus é Senhor e Criador do Mundo, a humanidade não está livre para raciocinar longe de Deus, e que não existe território neutro para raciocinar com um incrédulo. Todo conhecimento depende da revelação de Deus, e assim, à medida que nos envolvemos com incrédulos, nós devemos pressupor o Triuno Deus redentor Bíblia, mais do que simplesmente levar o incrédulo a supor que ele é livre para acreditar ou desacreditar. O pressuposicionalismo também argumenta transcendentalmente- i.e, que o Cristianismo é verdade por causa da impossibilidade do contrário. Finalmente, o apologista pressuposicionalista procura ser consistente com a antropologia bíblica e reconhece que apenas a regeneração do Espírito por meio da pregação do Evangelho pode mudar o coração de um incrédulo.