O lugar para começar quando se fala sobre a doutrina da regeneração (ou o mandamento de nascer de novo) é perguntar, “Por quê?” Por que precisamos nascer de novo? Isso é uma coisa um tanto radical de dizer, não é? “Nascido de novo? Tem alguma coisa de errado com o jeito que eu nasci da primeira vez?”.
Bem, sim, na verdade, tem.
Se não enxergamos nada na declaração de Jesus de que Nicodemos precisa nascer de novo (João 3.3; 5, 7), precisamos ver que essa declaração é um diagnóstico lamentável da nossa condição. Há uma coisa tão profundamente errada conosco – com toda a raça humana – que não há nenhum remédio natural. Não podemos apenas ser reformados. Não podemos apenas trabalhar um pouco em nós mesmos. Longe de achar que as pessoas são “basicamente boas”, que apenas fazem coisas ruins às vezes, o diagnóstico de Jesus da humanidade é que somos tão terrivelmente bagunçados que nenhum tipo de modificação no comportamento vai consertar o que está de errado conosco. De acordo com Jesus, o único jeito de ser justo com Deus, nosso Criador, e assim ser capaz de ver e entrar no reino de Deus, é se somos nascidos de novo.
Para colocar isso em termos espirituais, precisamos nascer de novo porque na primeira vez nascemos espiritualmente mortos.
Mas como isso acontece? Bem, em Romanos 5, a Bíblia ensina que a morte espiritual entrou no mundo através do pecado. “OK, então de onde o pecado veio?” Bem, nessa mesma passagem, a Bíblia diz que o pecado entrou no mundo através de um homem. Eis o que ela diz:
Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte…
Então, aqui está. A morte veio através pelo pecado, e o pecado entrou no mundo através do homem. Esse homem foi Adão, o primeiro ser humano criado. E todos sabemos sobre Adão e Eva, o Jardim do Éden, a serpente, o fruto proibido, etc. Deus criou Adão e Eva como inocentes perante Ele, e eles apreciaram comunhão perfeita com Deus no Seu jardim do Paraíso. Ele lhes deu um mandamento, que eles quebraram: na tentação de Satanás, eles comeram da árvore do conhecimento do bem e do mal, a árvore sobre a qual Deus disse, “… no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17). E então, vemos aqui, a morte veio através do pecado que veio através de Adão.
Mas isso não é o fim do versículo em Romanos 5. Ele também diz isso:
Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram…
Então, não somente o pecado veio através Adão, e a morte através o pecado, mas em seguida a morte passou a todos os homens. Está é a forma como nos tornamos mortos espiritualmente mesmo antes de nascermos. Quando Adão pecou, não somente a morte entrou no mundo, mas passou para toda a humanidade. Não haveria uma pessoa criada que não fosse afetada pelo pecado original.
Agora, você deve estar pensando que isso não é justo. Digo, você não comeu do fruto. Você não desobedeceu o único mandamento que Deus deu no Paraiso. Adão sim. Por que você deve ser responsável pelo pecado dele? Bem, a resposta de por que a morte passou a todos os homens é dado nesse versículo. Ele diz, “porque todos pecaram” (Rm 5.12).
“Todos quem?” Todo ser humano que já viveu. Interessante, não é? O texto aqui ensina que todo ser humano na história pecou (passado) quando Adão pecou. “Mas eu nem estava lá!” Bem, esse texto ensina que em algum sentido místico, porém muito real, você estava. A morte passou a todo ser humano porque todo ser humano foi imputado, ou contado, como estando em Adão quando ele pecou. Adão foi o representante de todos os seres humanos. E estávamos “em seus lombos” quando ele rebelou-se contra Deus e pecou contra Ele.
E assim, como um resultado da Queda, todos os seres humanos são totalmente depravados (mortos espiritualmente) mesmo desde o ventre. Não há aspecto do nosso ser que essa morte espiritual, essa depravação, não tenha alcançado e corrompido. Tudo o que somos, não importa o quão bons pareçamos para as outras pessoas, é fatalmente manchado por nosso pecado.
E essa é a razão pela qual a Escritura fala dessa forma sobre a humanidade. Somos espiritualmente mortos.
- Romanos 3.10-12 – como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.
Você já pensou, em algum ponto da sua vida, que você estava buscando a Deus? Bem, esse texto ensina que isso é inteiramente falso, se você está fora de Jesus Cristo. Não há quem busque a Deus.
Você já pensou que você tenha feito o bem? Bem, certamente em um nível humano, horizontal isso é verdade. Mas no nível que conta, na nível da realidade, na visão de Deus, não há quem faça o bem. “Ninguém?!” Não, nem um sequer.
- Colossenses 2.13a – E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas trangressões e pela incircuncisão da vossa carne…
- Efésios 2.1-3 – Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamento; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais.
Aqui está a verdade que estamos falando, agora apresentada na linguagem da Escritura. Estávamos mortos em nossos delitos, transgressões e pecados. E não somente isso, mas Efésios 2.3 diz que éramos, por natureza, filhos da ira. Isso significa que sem nada que aconteça fora do comum, nós, por predefinição, nascemos sob a ira de Deus. Se nascemos, e nada acontece para superar nossa pecaminosidade, sofreremos a ira de Deus. Isso é o que João diz, “o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (João 3.36). Ela permanece, ou fica sobre ele. Já está lá, porque somos, por natureza, filhos da ira.
- Salmo 51.5 – Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe.
- Salmo 58.3 – Desviam-se os impíos desde a sua concepção; nascem e já se desencaminham, proferindo mentiras.
Esses versículos demonstram, de novo, que não somos nascidos inocentes e então viramos pecadores. Ao invés disso, fomos todos concebidos em pecado. Estamos separados e desviados desde o ventre, desde o nascimento.
- Romanos 8.6-8 – Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz. Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.
Aqui, de novo, está o testemunho da nossa morte. Mas aqui, Deus nos diz que não somos apenas passivos. Nossa morte não é apenas estar à toa e não fazer nada. Ele nos diz que nossa morte espiritual nos leva a ser hostis perante Deus. Ativamente O odiamos ao continuar no nosso estado natural de depravação. E porque somos tão pecadores quanto somos, não somos ao menos capazes de submeter à lei de Deus. Não há uma maneira para pecadores depravados agradá-Lo.
Esse é o diagnóstico triste e condenado da humanidade: “Vocês estão mortos. Vocês são totalmente depravados. E por causa disso você não pode fazer nada para melhorar a si mesmo para obter aceitação comigo ou com Meu Pai. Na verdade, você é tão sem esperança que a única coisa que vai fazer um pouco de diferença é se você é nascido de novo.”
É de suprema importância que entendamos esse diagnóstico da nossa condição espiritual feito pelo Médico dos Médicos. Se não entendermos a natureza da humanidade – nossa natureza – nunca entenderemos Deus, nós mesmos, e qualquer coisa sobre nossas vidas.
Porque isso é verdade, quero gastar mais tempo para contemplar o que significa ser morto espiritualmente. Qual é a natureza dessa morte? Digo, não estou dizendo que as pessoas estão mortas de verdade, certo? Elas respiram, elas andam, elas falam, elas vão ao trabalho. Elas fazem coisas! Como posso dizer que estão mortos?
Isso fica para a próxima. Até lá, medite no que a Escritura tem a dizer sobre sua condição por natureza, sem um Salvador. Você precisa nascer de novo.
Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? (Jeremias 17.9)