Amor mais profundo
O Cristianismo também oferece um conceito mais maduro e profundo de amor. O amor não é fundamentalmente uma narrativa de expressão e realização pessoal. Não é sobre achar alguém que “me completa”, no qual eu suponho que o “eu sou” é um axioma, e que alguém autenticamente “me” ama somente se esse alguém me respeitar exatamente como eu sou, como se o “eu” fosse de alguma forma sagrado.
O amor cristão não é tão ingênuo. É muito mais maduro (veja 1Coríntios 13.11). Ele reconhece como as pessoas são após a queda, quebradas pelo pecado, e as ama em sua própria fragilidade. Ele é oferecido contrariamente ao que as pessoas merecem. Nós alimentamos, vestimos e somos amigos delas, até mesmo quando nos atacam. Porém o amor cristão, com maturidade, convida essas pessoas à santidade. Através da oração e da disciplina, o amor cristão chama pessoas à mudança – ao arrependimento. Esse amor reconhece que os amados por ele terão verdadeira alegria apenas quando, cada vez mais, eles se moldarem conforme a imagem de Deus, pois Deus é amor. É por isso que Jesus nos diz que, se nós o amamos, vamos obedecer aos seus mandamentos, como ele ama o Pai e, assim, obedece a Seus mandamentos.
O amor cristão também é mais profundo que o conceito de amor na nossa cultura. Ele sabe que o amor verdadeiro foi demonstrado perfeitamente quando Jesus deu sua vida pela igreja para fazê-la santa, um ato que Paulo faz analogia com o amor de marido e esposa e o chamado do marido de conduzir sua esposa com a Palavra (Rm 5.8; Ef 5.22-32). A figura central do verdadeiro amor na Bíblia é perdida no casamento homossexual, assim como é perdida também quando um marido trai sua esposa.
A posição progressista pode chamar a visão ortodoxa cristã acerca do casamento gay de intolerante. Porém cristãos devem reconhecer que a posição progressista é oposta ao amor e é desumana. E assim nós devemos ama-los mais verdadeiramente do que eles amam a si próprios.
Esfera Pública e a Religião Idólatra
O que então devemos dizer sobre a esfera pública? O nosso entendimento sobre a separação entre Estado e Igreja e liberdade religiosa não deveria evitar que “impuséssemos” nossas ideias sobre os outros? Porque a igreja sendo igreja afetaria nossa postura na esfera pública entre os incrédulos?
O que as pessoas parecem perder é a distinção entre as leis que criminalizam uma atividade e as leis que incentivam ou promovem uma atividade. As leis que cercam o casamento pertencem a última categoria. O governo se envolve nessa área do casamento – para irritação dos liberais – porque pensa ter algum interesse em proteger e promover o casamento. Ele vê que o casamento contribui para a ordem, paz, e o bem da sociedade em geral. E por isso, oferece incentivos financeiros para o casamento, como incentivos fiscais ou direitos de herança.
Em outras palavras, institucionalizar o casamento gay não torna o governo meramente neutro em relação à iniquidade; significa que o governo está promovendo e protegendo a iniquidade. A decisão de 2003 da Suprema Corte Americana de derrubar as leis que criminalizavam o comportamento homossexual, pelo contrário, não precisa ser interpretada como uma promoção ou proteção desse comportamento. A ironia da posição progressista sobre o casamento do mesmo sexo é que ela se baseia na linguagem da neutralidade política, quando na verdade é exatamente o oposto. É uma afirmação positiva de um rótulo de moralidade e de todo um arcabouço de pressupostos teológicos por trás dessa moralidade.
Colocando em termos bíblicos, institucionalizar o casamento gay não é nada mais nada menos que “consentir com aqueles que praticam” as coisas que a Palavra de Deus condena (Rm 1.32). E, Paulo afirma, por trás dessa afirmação moral está a “troca [religiosa] da glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível” (Rm 1.23) . Estabelecer o casamento homossexual é, em outras palavras, um clamoroso e total ato religioso, pelo fato de ser idólatra.
Para o cristão, portanto, o argumento é muito simples: Deus julgará toda a injustiça e idolatria. Logo, os cristãos não devem privada ou publicamente endossar, incentivar ou promover a injustiça e a idolatria, que o casamento homossexual pratica. Deus julgará tal idolatria, mesmo entre aqueles que não acreditam Nele.
Deus julgará as nações
Deixe-me explicar melhor. Velho e Novo Testamentos prometem que Deus julgará as nações e seus governos por terem abandonado o Seu padrão de justiça e retidão. Os presidentes e parlamentos, eleitores e juízes de todo o mundo são integralmente responsáveis perante Ele. Não há nenhuma área da vida fora da avaliação divina.
Por isso, Deus julgou os contemporâneos de Noé, Sodoma e Gomorra, Faraó do Egito, Senaqueribe na Assíria, Nabucodonosor na Babilônia, e a lista continua. Você pode ler sobre os julgamentos de Deus contra as nações em passagens como Isaías 13-19 ou Jeremias 46-52.
Consequentemente, não é surpreendente que o Salmo 96 e muitas outras passagens deixam clara a natureza transnacional de Deus: “Dizei entre as nações: O Senhor reina! (…) Ele julgará os povos com retidão.” (Sl 96.10; veja também Sl 2 e Jer 10.6-10).
O mesmo princípio se aplica no tempo do Novo Testamento? SIM! Os governantes do mundo tem sua autoridade derivada de Deus e serão julgados por Deus pelo modo como usam tal autoridade: César não menos que Nabucodonosor, presidentes não menos que o Faraó:
- Jesus diz a Pilatos que a autoridade de Pilatos deriva de Deus (João 19)
- Paulo descreve o governo como “servo de Deus” e um “agente” para trazer a justiça divina. (Romanos 13)
- Jesus é descrito como: “príncipe dos reis da terra” (Apocalipse 1.5)
- Reis, príncipes e generais sentem a ira do Cordeiro e se escondem dela (Apocalipse 6.15)
- Os reis da terra são acusados de cometer adultério com a grande Babilônia (Apocalipse 18.3)
- Cristo virá com uma espada “para ferir com ela as nações” (Apocalipse 19.15), deixando que os pássaros comam “a carne dos reis, e a carne dos tribunos, e a carne dos fortes.” (versículo 18).
Deus julgará todas as nações e governantes. Eles são politicamente responsáveis perante o padrão de justiça e retidão de Deus, e não para seus próprios padrões. Afastar-se da justiça e retidão divina – para todo e qualquer governo, no Velho e no Novo testamento – é incorrer na ira de Deus.
O fato de vivermos em uma sociedade pluralística na qual muitos não reconhecem o Deus da Bíblia não faz diferença para Deus. “Quem é o Senhor para que eu o obedeça?”, perguntou o Faraó. O Senhor rapidamente demonstrou precisamente quem Ele é. O fato de reconhecermos um governo que governa pela “vontade do povo” também não faz diferença. Um cristão sabe que a verdadeira autoridade emana de Deus, e que ele ou ela jamais devem promover ou incentivar injustiça ou iniquidade, mesmo que 99% dos eleitores pedirem por isso.
Isso não significa que os cristãos devem decretar o juízo de Deus contra todas as formas de injustiça agora, mas significa que nós cristãos não devemos privada ou publicamente envolver-nos com nada que Deus julgará no Dia Final. Sim, a política muitas vezes envolve compromisso, e há momentos em que os eleitores ou políticos cristãos serão obrigados a decidir entre o menor de dois males. E, para tais ocasiões, acreditamos que Deus é misericordioso e compreensivo. Devemos empenhar nossos esforços em não votar em algo que apoia, governar apoiando, ou dizer aos nossos amigos no escritório que apoiamos a injustiça.
Isso significa que podemos impor a nossa fé a descrentes? Não, porém endossar o casamento gay é outra coisa. Endossá-lo é evolver-se pessoalmente com iniquidade e uma falsa religião, e uma iniquidade que Deus prometeu julgar.
Na verdade, o próprio casamento homossexual é um ato de imposição governamental injusta. Martinho Lutero escreveu: “Pois quando alguém faz aquilo para o qual não tem autoridade ou sanção da Palavra de Deus, tal conduta é inaceitável a Deus, e pode ser considerada tanto como vã como inútil.” E Deus nunca deu autoridade aos governos humanos para definir casamento. Ele definiu em Gênesis 2 e não autorizou ninguém a redefini-lo. Qualquer governo que o faz é culpado por usurpação.
Uma vez que o casamento homossexual é completamente fundamentado na religião idólatra (Rm 1.23,32), sua institucionalização representa nada mais nada menos que a postura progressista de impor essa religião idólatra a todos nós.
Eu não estou dizendo quantos recursos os cristãos devem gastar no combate a falsos deuses em praça pública, mas eu estou dizendo que você não deve se juntar com esses deuses. Não há terreno neutro nesse aspecto.
Amem e permaneçam firmes
As igrejas deveriam amar seus irmãos e irmãs que batalham contra a atração homossexual, assim como deveriam amar todos os pecadores arrependidos.
E as igrejas deveriam permanecer firmes em concepções de amor mais profundas e mais bíblicas, amando aqueles que defendem o casamento homossexual mais profundamente do que eles amam a eles mesmos. Fazemos isso ao insistirmos na doce e transformadora natureza da verdade e santidade de Deus.
Em nosso contexto cultural atual, o amor cristão custa caro aos próprios cristãos e à igreja. Mesmo que você reconheça que a Bíblia define homossexualidade como pecado, mas (erroneamente) apoie o casamento gay, sua posição certamente irá ofender alguém. Os desejos pessoais mais fortes – os desejos que as pessoas se recusam em abandonar – revelam suas adorações. Condenar a liberdade sexual atualmente é condenar um dos altares de adoração favoritos da sociedade. E eles não lutarão pelos seus deuses? Eles não vão excomungar todos os hereges?
Entretanto, mesmo quando a Escritura promete perseguição a curto prazo para a igreja, estranhamente e simultaneamente, ela também aponta para louvor a longo prazo: “Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais, que combatem contra a alma, tendo o vosso viver honesto entre os gentios, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no Dia da visitação, pelas boas obras que em vós observem” (1 Pedro 2.11-12). Eu não sei como explicar isso, mas eu creio.