Continuando nossos prodcasts off-topic, essa semana discutimos a obra do aclamado escritor americano David Foster Wallace. Saiba o que podemos aprender com alguns artigos desse perspicaz autor.
Duração: 12:39
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Material de DFW citado no Prodcast
- A Piada Infinita (Edição de Portugal)
- Ficando Longe do Fato de Já Estar Meio Que Longe de Tudo
- Isto é água (vídeo)
- Isto é água (transcrição)
Citações de DFW
Na trincheira do dia-a-dia, não há lugar para o ateísmo. Não existe algo como “não venerar”. Todo mundo venera. A única opção que temos é decidir o que venerar. E o motivo para escolhermos algum tipo de Deus ou ente espiritual para venerar – seja Jesus Cristo, Alá ou Jeová, ou algum conjunto inviolável de princípios éticos – é que todo outro objeto de veneração te engolirá vivo. Quem venerar o dinheiro e extrair dos bens materiais o sentido de sua vida nunca achará que tem o suficiente. Aquele que venerar seu próprio corpo e beleza, e o fato de ser sexy, sempre se sentirá feio – e quando o tempo e a idade começarem a se manifestar, morrerá um milhão de mortes antes de ser efetivamente enterrado.
No fundo, sabemos de tudo isso, que está no coração de mitos, provérbios, clichês, epigramas e parábolas. Ao venerar o poder, você se sentirá fraco e amedrontado, e precisará de ainda mais poder sobre os outros para afastar o medo. Venerando o intelecto, sendo visto como inteligente, acabará se sentindo burro, um farsante na iminência de ser desmascarado. E assim por diante.
O insidioso dessas formas de veneração não está em serem pecaminosas – e sim em serem inconscientes. (Isto é água)
…Não se promete que você pode experimentar um imenso prazer, mas que isso vai acontecer. Que eles vão garantir que isso aconteça. Que eles vão microgerenciar cada bocadinho de cada opção prazerosa de modo que nem mesmo a ação terrivelmente corrosiva de sua consciência, agência e pavor adultos possa mandar sua diversão à merda. Suas incômodas capacidades de escolha, erro, arrependimento, insatisfação e desespero serão removidas da equação. Os anúncios prometem que você será realmente capaz — finalmente, desta vez — de relaxar e se divertir, porque você não terá outra opção além de se divertir.
Agora tenho 33 anos de idade e sinto que muito tempo passou e vai passando mais rápido a cada dia. Dia após dia preciso fazer todo tipo de escolhas sobre aquilo que é bom, importante e divertido, e depois preciso conviver com o confisco de todas as outras opções que essas escolhas eliminam. E começo a perceber que à medida que o tempo ganhar ímpeto minhas escolhas vão se dar num campo mais estreito e as eliminações serão multiplicadas em ritmo exponencial até eu chegar a algum ponto de algum ramo qualquer dentre as suntuosas ramificações complexas da vida onde estarei completamente trancado e cravado num único caminho e o tempo passará voando por mim em fases de estase, atrofia e decadência até eu cair pela terceira vez, toda a luta em vão, afogado pelo tempo. É apavorante. Mas como serei trancado pelas minhas próprias escolhas, parece inevitável — se desejo ser adulto de algum jeito, preciso fazer escolhas e lamentar eliminações e tentar viver com isso. (Uma coisa supostamente divertida que eu nunca mais vou fazer)