O grande lançamento de 2012, Os Vingadores, levou milhares de espectadores a pedir por mais Loki, personagem interpretado por Tom Hiddleston. E Thor: O Mundo Sombrio não decepcionou esses fãs. Loki rouba toda cena em que aprece. Acho que tem um jogo de palavras na última frase.
A dinâmica familiar entre Thor e Loki me lembra outra famosa rivalidade entre irmãos, Jacó e Esaú. Esaú e Thor são os irmãos mais velhos, Jacó e Loki, os mais novos. Thor e Esaú desfrutam do amor de seus pais, enquanto suas mães favorecem Loki e Jacó. Thor é um bruto cabeludo. Esaú é um bruto cabeludo. Loki é um trapaceiro tentando roubar a primogenitura do irmão. Jacó é um trapaceiro que rouba a primogenitura do irmão. Esaú casa com uma mulher que seus pais não aprovam. Thor passa seu tempo atrás de uma mulher que Odin desaprova. Jacó disfarça-se como seu irmão. Loki disfarça-se de todo mundo.
Por quem deveríamos torcer ao assistirmos Thor: O Mundo Sombrio? A Bíblia aprova Jacó, então eu acho que isso significa que deveríamos apoiar Loki. Mas ele não é um vilão? Bem, sim, mas mesmo o deus do trovão admite que ele tem mais de governante que Thor. Deixe as pessoas fazerem aquilo no que elas são boas.
Mas não me entenda mal. Eu adoro Thor como personagem. Mas, quando ele está contra seu irmão mais novo, não consigo não torcer por Loki. A versão de Hiddleston para o enganador “fascina” – no sentido mais arcaico da palavra.
O fascínio de Loki vem de sua complexidade. Eu passei o filme todo perguntando: “Esse é o Loki verdadeiro?”. Após o final do filme, eu pensei sobre a cena em que Thor visita Loki na prisão. No começo, Loki mantém sua compostura, e ele zomba de seu irmão. Thor diz: “Basta!” e a ilusão desaparece. Nós vemos o verdadeiro Loki, despenteado e desconsolado, sentado no chão. Foi uma cena excelente na qual nós vemos Loki devastado pelas escolhas que fez.
Mas ele estava realmente devastado? Era o Loki verdadeiro? Depois do filme, eu comecei a imaginar. E se a cena contivesse uma ilusão dupla? E se Loki mostrou a Thor o que Thor desejava ver para poder sair da prisão. Como Loki é o enganador, todas as suas cenas estão abertas a questionamento. É possível ir ao desespero tentando enxergar o verdadeiro Loki.
Eu cheguei a uma maneira alternativa de interpretar o personagem. Eu decidi que a genialidade de Loki é que nada daquilo é ilusão. Seu desdém por Thor, real. Seu amor por Thor, real. Sua necessidade desesperada da aprovação de Odin, real. Seu auto-sacrifício, real. Sua natureza autocentrada, real. Sua arrogância, sua bravata, sua penitência, sua dor – é tudo real. Loki é o enganador supremo porque ele acredita em cada uma de suas ilusões. Ele não está enganando os outros tanto quanto ele engana a si mesmo. Loki é o personagem mais complexo que eu já vi em um filme de super-herói (embora o Homem de Ferro de Robert Downey Jr. alcance um segundo lugar extremamente próximo).
Eu acho mais fácil me identificar com Loki que com Thor. Thor é um herói. Eu queria ser um herói. Loki queria ser um herói também. Loki e eu percebemos que há uma lacuna entre o que nós somos e o que aspiramos ser. Algumas vezes, nós fingimos. Às vezes, o reconhecimento da lacuna causa ações destrutivas que, na verdade, aumenta a lacuna. Loki e eu temos corações complexos e perversos. Algumas vezes, nós dois acreditamos em nossas próprias mentiras. Loki só quer ser amado, mas, se ele não conseguir isso, ele tentará ser temido. Isso resume muito bem meu relacionamento com meus alunos.
Assim, pelo menos por enquanto, estou na torcida por Loki. Eu quero descobrir o que ele fará a seguir, e espero que o próximo filme contenha graça suficiente para libertá-lo de suas próprias ilusões. Nem Loki, nem eu podemos nos libertar de nossos próprios corações enganosos.
Essa é minha abordagem agostiniana para um filme de super-heróis, se é que isso tem algum sentido.