Cru. Orgânico. Autêntico. Sem transgênicos. Verificado. Esses são alguns dos rótulos que procuramos em nossas comidas e chegamos, até mesmo, a querer usar alguns para descrever a nós mesmos, nosso pastor e nossos cultos. Enquanto escrevo isso, estou desfrutando do meu suco no café da manhã, repleto de super frutas, couve, iogurte grego, leite de coco e, apenas para eu me sentir um pouco mais superior e saudável, uma pitada de sementes de chia – orgânicas, é claro. Acho até que consigo me sentir mais incrível a cada presunçoso gole.
Vivemos agora em uma cultura que se preocupa com os recursos naturais e com candidatos ao batismo que não irão quebrar as costas do pastor. Em um tempo em que nossa tecnologia pode facilmente nos distanciar de relacionamentos significativos, também estamos preocupados com a comunidade cristã. Mas não queremos ser a comunidade plástica que enfia sua camiseta por dentro da calça e finge que é mais-santificada-do-que-você. Queremos uma comunidade autêntica que é honesta acerca de suas dificuldades ao longo da jornada.
Eu entendo isso. Me lembro muito bem das famílias felizes que estavam ao meu redor na igreja em que cresci. Meu pastor tinha o penteado dividido perfeito, todos sorriam e tudo se repetia no outro domingo. Enquanto isso, eu passava o sermão inteiro me perguntando como seria se eu penteasse o cabelo do pastor para o outro lado. Quando eu cheguei ao ensino médio, muitas das famílias perfeitas haviam passado pelo divórcio. Acontece que havia uma boa quantidade de escândalo acontecendo. E assim, bem como no meu café da manhã, eu queria me livrar dos aditivos. Onde estavam as pessoas de verdade?
Entretanto, no nosso esforço por manter as coisas reais, talvez tenhamos cometido um outro tipo de hipocrisia. Ao mesmo tempo que é bom que muitas pessoas na igreja tenham tentado quebrar o falso sorriso colgate, Brett McCracken escreveu um artigo que vale a pena ser lido, em que ele pergunta: “’autenticidade’” é mais importante que santidade?” Ele resume bem o argumento ao citar o professor de estudos bíblicos e teológicos da Universidade de Biola, Erik Thoennes: “existe essa ideia de que viver fora de conformidade com o que eu sinto é hipocrisia, mas isso é uma definição errada de hipocrisia. Viver fora de conformidade com o que eu creio é hipocrisia. Viver em conformidade com o que eu creio, apesar do que eu sinto, não é hipocrisia; é integridade”.
Vale a pena ler esse artigo, que me fez refletir no quão falsas nossas tentativas de autenticidade são. Vamos mesmo deixar nossos sentimentos subjetivos determinar autenticidade? Temo que nós tenhamos perdido o significado dessa palavra. Isso me trás de volta a algo que G. K. Beale escreveu em “O templo e a missão da Igreja”:
Uma das melhores ilustrações de um uso similar à “verdadeiro” ocorre em Apocalipse 3:14, onde Cristo chama a si de “testemunha fiel e verdadeira” e se designa como a testemunha genuína ou autêntica em contraste com o Israel carnal falso. A palavra “verdadeiro” provavelmente inclui mais do que uma verdade moral e cognitiva, mas também uma ideia de autenticidade no sentido redentivo-histórico de Jesus sendo Israel verdadeiro ao cumprir a profecia de Isaías 43.10-19 acerca de Deus e as testemunhas israelitas para a nova criação.
Isso foi escrito no contexto de tratar dos nossos mal entendidos acerca do verdadeiro templo versus o templo figurativo. Geralmente, pensamos no templo celestial como algo figurativo, mas, ao apontar o leitor para Hebreus 8.5 e Êxodo 25.40, Beale demonstra que “o padrão que Moisés viu no Sinai foi, aparentemente, o tabernáculo celestial verdadeiro que virá com Cristo, descerá e eventualmente encherá toda Terra… o santuário literal é o celestial e o santuário figurativo é o terreno”.
Muitas vezes confundimos a situação crua, aqui-e-agora reconhecível com a verdadeira e autêntica. Mas há apenas uma pessoa autêntica, Jesus Cristo. E a verdade é que precisamos como que de conservantes para alcançar a santidade. Para podermos ter olhos para ver e ouvidos para ouvir essa verdade, precisamos ser regenerados por Seu Espírito Santo, que está nos santificando e preservando agora pela sua Palavra e sacramentos. Dependemos nele pela fé enquanto lutamos por uma vida obediente em santidade e autenticidade, seja com uma camiseta engomada, seja com roupas orgânicas. Não dependamos dos nossos próprios meios para sentirmos autênticos, mas sim, dos meios de graça que Deus prometeu participar no Grande Dia em que veremos a face dAquele que é autêntico.