O que eu aprendi em 20 anos de casamento

Vinte anos trás, eu estava à espera, em um corredor próximo ao batistério onde fui imerso uma década antes. Dentro de alguns minutos, eu estaria diante da minha igreja para receber minha noiva, Maria Hanna, e empenhar a ela, diante de Deus e daqueles testemunhas, meu amor e minha vida.  Hoje, eu recordo e penso em tudo que aprendi nesses vinte anos juntos. O principal é que estou feliz por não termos esperado até que estivéssemos prontos para nos casarmos.

Eu sabia desde nosso primeiro encontro que eu a amava e queria passar minha vida com ela. Porém, muitos nos disseram: “esperem até ter dinheiro antes de casar”. É verdade. Nós não tínhamos nada. Eu tinha 22 anos e era meu primeiro ano de seminário; não fazia muito tempo que ela saíra do ensino médio. Nós examinamos e reexaminamos cenários financeiros, e nunca conseguíamos encontrar um orçamento que sugerisse que poderíamos pagar nossas contas. Foi por isso que continuei atrasando meu pedido de casamento, mesmo depois de saber que ela era “a pessoa certa”. Eu pensava que precisava de estabilidade e uma vida ganha antes de propor.

Certa noite, minha avó sabiamente perguntou-me quando eu finalmente pediria em casamento “aquela garota de Ocean Springs”. Eu respondi: “quando eu puder me sustentar”. Ela riu. “Querido, eu me casei com seu avô no meio da Grande Depressão”, disse. “Nós demos um jeito. Ninguém precisar ter a vida ganha para casar. Você apenas casa, e faz funcionar”.”

Com exceção do evangelho, essas foram, e permanecem, as palavras mais libertadoras que já ouvi. Eu comprei um anel que não impressionaria ninguém, na época ou agora, mas nós subimos ao altar. Meu único arrependimento é que, em vez do vigésimo primeiro, estamos celebrando hoje o nosso vigésimo aniversário.

A sabedoria da minha avó é próxima daquilo sobre o qual Charles Murray fala em seu livro The Curmudgeon’s Guide to Getting Ahead [O Guia do Rabugento para Chegar na Frente] como a diferença entre um casamento “start-up” e um casamento de “fusão”. Um casamento de fusão é o tipo que você vê todo domingo nas colunas sociais do jornal New York Times, entre um noivo que gerencia fundos de cobertura e tem um mestrado nas costas e uma noiva que é uma doutora e catedrática em cinema. Cada um deles tem sua própria vida e eles as fundem. A “start-up” ocorre quando o casamento não é o clímax da vida, mas a fundação. É quando o marido e a esposa iniciam suas vidas adultas juntos, normalmente com nada além de cada outro.

Nós não estávamos prontos para nos casarmos. Isso é verdade. Mas nossas finanças eram a menor das nossas preocupações.

Eu não estava pronto, aos 22 anos, para saber como consolar uma esposa chorosa que descobriu que seus pais estavam se divorciando. Eu não estava pronto para desabar sobre seus braços ao ouvir que meu avô tinha morrido.

Eu não estava pronto para fazer as malas e colocar toda nossa mobília de segunda mão num caminhão de mudanças para anos de doutoramento em Louisville. Eu não estava pronto para os abortos. Eu não estava pronto para ouvir que nunca teríamos filhos. E, por fim, eu não estava pronto para um processo de adoção que nos levou à antiga União Soviética e de volta com duas crianças com necessidades muito especiais. Eu não estava pronto para descobrir que os médicos estavam errados, e meio que subitamente ser pai de cinco filhos. Eu não estava pronto para estar celebrando nosso aniversário de 20 anos com um bebê de dois anos em casa. E eu poderia continuar listando.

Claro, eu não estava pronto para todas essas coisas. Em um sentido bastante real, “eu” nem mesmo existo. A vida que agora tenho é definida por nossas vidas juntos. É por isso que as Escrituras falam do casamento como uma união de “uma carne”, de uma cabeça e um corpo unidos. Essas não são duas vidas separadas, unindo seus projetos. São duas pessoas unindo-se para uma vida, uma vida juntos. Alguém pode se preparar para ser marido ou esposa. Mas nunca estará realmente “pronto”.

Enquanto recordo, posso ver a intensa alegria em nossas vidas que nunca imaginamos em nossos sonhos para o futuro. Nós amávamos aquelas noite comendo apenas sanduíche de queijo porque era tudo que poderíamos pagar. Nós amávamos trabalhar com jovens, e tentar adivinhar o que fazer quando um adolescente aparecesse em uma viagem missionária com maconha a bordo. Nós amávamos sentar juntos enquanto eu escrevia uma dissertação sobre a ética do reino, fazendo pausas para assistir juntos reprises de “Frasier”. Nós amávamos dar as mãos enquanto orávamos pelo dinheiro que precisávamos para adotar (também não estávamos prontos para isso).

E, mesmo agora, quando sou atacado por algum ativista do aborto ou algum supremacista ariano, eu amo conversar com ela para lembrar-me de que não importa o que alguém pense de mim ou do meu ministério, desde que eu agrade ao Rei para quem entreguei minha vida no batistério daquela pequena igreja e àquela garota para quem eu entreguei minha vida no altar.

A verdade é que não havia como fazermos aquele orçamento funcionar. E não havia como termos crescido o bastante para estarmos “prontos” para o que a providência nos reservava. Nós precisávamos um do outro. Nós precisávamos crescer juntos e saber que nosso amor pelo outro não consiste em termos de tudo. Não começou desse jeito, mas nós ainda tínhamos um ao outro.

Quando eu olho aquelas fotos de casamento de vinte anos atrás, vejo rostos de pessoas, algumas das quais já partiram. Eu vejo o rosto da minha avó ali, e penso em quão certa ela estava. Eu vejo um garoto e uma garota apaixonados, embora não tão apaixonados como agora, depois de vinte anos – como diz meu amigo Andrew Peterson – “dançando nos campos minados” juntos.

Nós estávamos prontos? Não. E eu não gostaria que fosse de outro jeito.