O padrasto da minha esposa frequentou uma igreja católica romana por toda sua vida. Mas ele foi transferido para um centro de cuidados paliativos e, provavelmente, tem dias ou semanas de vida.
Ele tem um livro ao lado da cama aonde repousa: não o Catecismo da Igreja Católica (Romana), mas um livro de Martinho Lutero sobre a justificação somente pela fé. Eu deixei esse livro na casa dele anos atrás e agora está no seu leito de morte. Esse é o livro que eles escolheu para levar consigo enquanto ele deixava sua casa pela última vez.
Por quase 10 anos, eu tenho gasto horas e horas com ele, explicando o evangelho e a necessidade de renunciar suas “boas obras” e lançar mão da justiça de Cristo que vem por meio da fé. O que parece tão fácil é, na verdade, muito difícil para o homem entender, especialmente alguém que cresceu tentando justificar-se – e, acredite, ele tentou! Muitas vezes, romanistas convictos são mais difíceis para conversar sobre a justificação gratuita que ateístas.
Porém, tendo uma grande vantagem sobre o padre dele, que não faz visitas pastorais, eu pude falar muitas vezes com o padrasto da minha esposa sobre o evangelho e seu pecado em termos simples. Ele precisava ser lembrado de suas frequentes trapaças nos jogos de golfe (quebrando, assim, os 8o, 9o, e 10o mandamentos). E o mais importante: ele precisava ser lembrado de que a semente de todo pecado conhecido reside em seu coração e ele é culpado diante de um Deus santo.
Tornar-se ciente da vileza do nosso pecado – i.e., de que somos internamente o que Naamã era externamente – nos prepara para entender a beleza do evangelho e da justificação pela fé somente: “pois”, como disse John Owen, “embora esta fé seja, em si mesma, o princípio radical de toda obediência… todavia, quando somos justificados por ela, sua ação e função é tal, ou de tal natureza, que nenhuma graça, dever ou obra pode ser associada a ela ou ser de alguma consideração”.
Essas são boas notícias. Nós podemos ser justificados neste vida (Rm 8.1). E, por causa disso, nós podemos ter certeza da nossa salvação (1 Jo 3.2). Como o Cardeal Belarmino disse, segurança da salvação é a maior heresia protestante. E eu estou extremamente grato por aceitar essa “heresia”.
A batalha com Roma não é sem importância. Nós estamos lidando, de forma muito literal, com questões de vida e morte. Roma não oferece conforto verdadeiro; Roma não oferece verdadeira esperança; e Roma não pode oferecer verdadeira segurança. Mas a doutrina da justificação que Lutero recuperou dá a pecadores penitentes esperança em um Deus gracioso que recebe pecadores (imediatamente!) no paraíso por causa do seu Filho.
Roma faz seu pior; mas Cristo faz seu melhor. E, neste caso, Lutero, não Bento de Núrsia, está ao lado de um homem que, eu peço a Deus, sabe (como John Newton) que ele é um grande pecador, mas Cristo é um Salvador maior.
Se temos a intenção de pontificar esses assuntos, me parece ser uma boa ideia gastar tempo com as pessoas, especialmente aquelas em seus últimos dias. E, assim– talvez somente assim – nós entenderemos a importância da boa teologia, e por que pessoas morreram na fogueira defendendo essas verdades. Aqueles que toleram o papismo jogam gasolina nas chamas que engoliram Cranmer, Latimer, Ridley e outros que morreram pela verdade.