Um dos grandes assuntos, que deveria estar sempre na mente de todo crente, é a questão da natureza e das características de uma igreja verdadeira. As Confissões Reformadas falaram sobre esse assunto, pois era importante que os Reformadores e Puritanos o fizessem, à luz das perversões das perversões Romanistas do ensinamento da Bíblia sobre a natureza da Igreja. Por exemplo, a Confissão de Fé de Westminster, no capítulo 25, descreve as marcas de uma igreja visível verdadeira quando diz o seguinte:
A esta Igreja católica [universal] Visível, Cristo deu o ministério, os oráculos e as ordenanças de Deus, para ajuntamento e aperfeiçoamento dos santos nesta vida, até o fim do mundo, e pela sua própria presença e pelo seu Espírito, os torna eficazes para esse fim, segundo a sua promessa. As igrejas particulares, que são membros dela, são mais ou menos puras conforme neles é, com mais ou menos pureza, ensinado e abraçado o Evangelho, administradas as ordenanças e celebrado o culto público. (CFW 25.3-4)
Aqui, a confissão afirma que “o Evangelho”, “as ordenanças” e “o culto público” são necessários para uma igreja ser considerada fiel e verdadeira. A Confissão Belga (precursora dos símbolos de Westminster), no artigo 29, resume de uma forma mais sucinta o que tem sido chamado de “as marcas da igreja verdadeira” quando afirma:
As marcas para conhecer a verdadeira igreja são estas: ela mantém a pura pregação do Evangelho, a pura administração dos sacramentos como Cristo os instituiu, e o exercício da disciplina eclesiástica para castigar os pecados.
Após definir essas três marcas da igreja verdadeira, Guido de Brés, o principal autor da Confissão Belga, contrastou essas marcas com aquelas das falsas igrejas:
Quanto à falsa igreja, ela atribui mais poder e autoridade a si mesma e a seus regulamentos do que à Palavra de Deus e não quer submeter-se ao jugo de Cristo. Ela não administra os sacramentos como Cristo ordenou em sua Palavra, mas acrescenta ou elimina o que lhe convém. Ela se baseia mais nos homens que em Cristo. Ela persegue aqueles que vivem de maneira santa, conforme a Palavra de Deus, e que lhe repreendem os pecados, a avareza e a idolatria.
É claro, devemos reconhecer que a Confissão Belga não diz “perfeitamente pura” quando fala da pregação do evangelho, a administração dos sacramentos ou o exercício da disciplina eclesiástica. A Confissão de Westminster já diz claramente que há igrejas verdadeiras que são “mais ou menos” puras e que “as igrejas mais puras debaixo do céu estão sujeitas à mistura e ao erro”. De qualquer forma, essas são marcas que ainda podemos usar para discernir se uma igreja particular é verdadeira ou não. Para fazê-lo, precisamos primeiro responder a seguinte pergunta: “há alguma razão pela qual a pregação fiel do Evangelho, a correta administração dos sacramentos e a prática pura da adoração e da disciplina são marcas características de uma igreja verdadeira?”. Daniel Meeter, em seu livro Encontrando um ao outro na doutrina, liturgia e governo, faz a seguinte observação importante sobre “as marcas da igreja verdadeira” vindo diretamente dos três ofícios de Cristo como cabeça da igreja:
Cremos que o Senhor Jesus está vivo e sempre ativo na igreja. Onde Cristo está ativo e Seu Senhorio é honrado e obedecido, aí está a “verdadeira igreja”. A verdadeira igreja tem marcas particulares pelas quais ela pode ser conhecida, e essas marcas estão relacionadas diretamente ao tríplice ofício de Cristo, que age como profeta, sacerdote e rei. As “três marcas da verdadeira igreja” são descritas no artigo 29 da Confissão Belga. Elas são, primeiro, “a pura pregação do Evangelho”, segundo, “a pura administração dos sacramentos como Cristo os instituiu”, e, terceiro, “o exercício da disciplina eclesiástica para castigar os pecados”.
Como essas três marcas da igreja estão ligadas ao ofício tríplice de Cristo? Primeiro, a pregação surge do dom de profecia… Segundo, a administração dos sacramentos surge da obra sacerdotal na cruz, Sua oração por nós e a comunicação a nós dos benefícios de Seu sacrifícios por meio da lavagem em Seu sangue e o partir do pão… Terceiro, a disciplina eclesiástica surge dos justos clamores do reinado de Jesus.
Tudo isso quer dizer que, quando a palavra e o Evangelho não são fielmente pregados, o ofício profético de Cristo não está ativo na “igreja”; quando os sacramentos do batismo e da Ceia do Senhor não são administrados por ministros do Evangelho, de acordo com o ensinamento bíblico a respeito deles, o ministério profético de Cristo não está funcionando na “igreja”; e, quando a disciplina eclesiástica não está sendo exercida de acordo com as ordens de Cristo (Mateus 18.15-20), o reinado de Cristo está sendo rejeitado nessa “igreja”.
Embora tenhamos que admitir que todas as igrejas verdadeiras na terra estão “sujeitas à mistura e ao erro”, é esperado de cada presbítero em cada igreja local que busquem garantir que as marcas da igreja verdadeira estão sendo observadas puramente. O fato de que as igrejas particulares “são mais ou menos puras” não é uma desculpa para relaxarmos na busca pela pureza da igreja em que servimos. Afinal de contas, essa é a igreja de Cristo! É ele quem apontou as marcas e os meios pelos quais Ele está avançando o Seu reino nesse mundo e trazendo Seu povo à glória por meio Seu próprio ministério profético, sacerdotal e real em Sua igreja. Que Deus dê a todos os seus pastores a graça de trabalhar para exaltar Cristo em Seu tríplice ofício ao buscarem fielmente preservar e proteger as três marcas de Sua verdadeira igreja.