É a mais difícil das manobras. Não há garantias de sucesso. E os riscos são grandes. Mas não temos escolha: temos que aprender como fazê-lo.
Como você desarma uma pessoa com raiva?
A pessoa com raiva pode ser uma criança, um pai ou uma mãe, cônjuge, amigo, colega ou alguém que estamos aconselhando. E, obviamente, de vez em quando nós também precisamos nos desarmar.
Depende muito de nossa preparação. Nossas respostas mais comuns à raiva são medo ou mais raiva – respostas que têm pouco potencial para desarmar alguém. Quando você recua com medo, a pessoa com raiva ainda tem uma arma carregada, e vai mantê-la à mão porque quem tem a arma, ganha. Tudo que eles precisam fazer é apontar suas armas para qualquer direção, e elas conseguem o que querem. O ciclo nunca acaba.
Apelando para o lado justiceiro, outras pessoas reagem a pessoas com raiva levantando suas próprias armas. Afinal, a justiça requer um combate justo. Se a pessoa com raiva vai apontar uma arma, você aponta a sua também. O problema aqui é bem direto: alguém vai se ferir, e como a pessoa com raiva provavelmente tem mais habilidade e experiência do que você com armas, é você quem leva o tiro. E sim, como nos desenhos animados, você se levanta e se prepara para lutar outro dia, e as pessoas continuam a atirar umas na outras.
A preparação para um confronto mais efetivo é contra-intuitiva, como na maioria dos caminhos de Deus. Humildade é o caminho da força. Fraqueza é a nova força irresistível. “A resposta calma desvia a fúria, mas a palavra ríspida desperta a ira” (Provérbios 15.1). A cruz de Cristo muda tudo. O próprio Satanás – o mais raivoso de toda a criação – é desarmado por meio da humildade auto-sacrificial. O caminho para ser um verdadeiro ser humano, com toda a sua força, está claramente à mostra em Jesus, e está disponível por meio do Espírito.
Para nós, esse caminho começa quando nos desapegamos dos nossos desejos. Por exemplo, a maioria de nós quer algo da pessoa com raiva – amor e respeito estão no topo dessa lista. Não há nada errado em querer amor e respeito, mas você vai se sair melhor se atirar neles primeiro, ante que a outra pessoa o faça. Você verá que não vai morrer se o fizer. Pelo contrário, se você deixar de lado aquilo que você quer da pessoa com raiva, você perceberá – talvez pela primeira vez – uma pitada de liberdade e até de coragem. Quando você não tem nada a perder, você consegue realizar alguns atos de coragem pouco comuns.
Pense a respeito. A pessoa com raiva está gritando o quanto você é um idiota, e se você não está preocupado em agradar as pessoas ou manter sua reputação, você pode responder com algo além de medo ou raiva. Se a aprovação da outra pessoa ou a sua reputação é importante pra você, você está nas mãos dela. Então se livre disso antes que a outra pessoa atire. O resultado disso é que não há mais nada para ser atingido e você está livre para falar em uma posição de humildade e dizer algo como:
“Você poderia me ajudar a enxergar como eu tenho sido um idiota – eu vou ouvir o que você tem a dizer, se você quiser falar sobre isso.” (Importante: SEM sarcasmo).
“Ok, então me diga o que estou fazendo errado.”
Ou você pode perceber que, naquele momento, não há nada a dizer para o atirador que foi pego de surpresa, porque você não tem idéia do que falar e a pessoa com raiva ficou muda, quase vegetativa, então você deixa pra falar sobre isso depois. Quando não há nada a perder, suas opções são infinitas.
Olhe para a vida de Jesus e você verá que ele nunca estava com raiva por conta dos insultos e ataques dos líderes religiosos. Ele nunca levou esses ataques para o lado pessoal. É isso que acontece quando você vive para melhorar a reputação do Pai; você se esvazia de qualquer interesse em sua honra e reputação e ama a outras pessoas mais do que elas amam você. É isso que acontece quando você sabe que seu Pai é o perfeito juiz; você não precisa ser o juiz substituto.
“Quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga com justiça” (1 Pedro 2.23)
Eis o caminho a seguir
- Não minimize o poder destrutivo da raiva. Você está levando tiros! É claro que dói.
- Você está aprendendo uma estratégia de desarme que necessita de amor e humildade, e isso é fora do comum. Portanto, “Senhor, tem misericórdia de mim” é a ordem do dia.
- Lembre-se que as pessoas com raiva são cegas para a própria raiva. Eles são os últimos a perceber que estão matando as pessoas. Pelo contrário, só enxergam que estão certos e os outros estão errados. Parta do princípio que eles são “lunáticos espirituais”.
- Livre-se de tudo que você deseja e almeja para si mesmo. Você quer amor? Jogue isso fora e mantenha apenas o necessário, como o desejo de amar. Você precisa de respeito e compreensão? Isso só te atrapalhará. Jogue isso fora.
- Aja com amor e humildade com a pessoa com raiva. O medo foge, a raiva ataca. A humildade e o amor cuidam. Com um ataque surpresa, eles cercam de fraqueza a pessoa com raiva. A sincronia é importante. Às vezes, você pode dizer algo enquanto a arma está apontada. Outras vezes, é melhor esperar e falar depois.
- A raiva da pessoa pode ter muitas razões – inclusive você. Mas a raiva excessiva sempre está errada. Em algum momento, da sua posição de amor e humildade, você poderá levantar o espelho e ajudar as pessoas com raiva a enxergarem a si mesmas (Mateus 7.5).
Traduzido por Filipe Schulz | iPródigo