“Se eu ouvir a palavra ‘Papai’ de novo, eu vou gritar!”
Eu me ouvi falando estas palavras. E, em minha defesa, estava muito alto por aqui. Eu estava tentando trabalhar em algo, e tudo o que ouvia era barulhos de pezinhos descendo as escadas com quatro meninos competindo entre eles para me dizerem uma coisa depois da outra. Eu só queria cinco minutos de silêncio.
Minhas cordas vocais ainda estavam vibrando quando uma imagem veio a minha mente. Era uma imagem minha, do meu rosto, orando por crianças. A casa estava certamente quieta, então. E naqueles anos de infertilidade e abortos espontâneos e orações aparentemente não-respondidas, eu teria dado qualquer coisa para ouvir passos na escada. Eu temia que nunca ouvisse a palavra “Papai”, nunca, dirigida a mim. Pensando sobre isso, até escrevi um livro sobre o clamor do cristão de “Aba, Pai”.
E agora eu estava irritado. Por quê? Não era que eu tinha mudado de idéia sobre a bênção de ter crianças. Era que minha família tinha se tornado “normal” para mim. Na ausência de crianças, a bênção estava no primeiro plano da minha mente. Mas na presença deles, eles tornaram-se esperados, parte do que eu esperava para a existência do meu dia a dia. E isso é perigoso.
Gratidão é guerra espiritual. Estou convencido que o surgimento daquela imagem naquele dia era a convicção do pecado, um exposição pessoal da minha própria idolatria pelo Espírito de Cristo. O que eu mais preciso temer é o que parece normal para mim.
Nós todos estamos, de uma forma ou de outra, no mesmo lugar que o povo de Israel estava em Josué 23 e 24. Josué, o líder guerreiro, está de pé diante deles e reconta todas as bênçãos que Deus já deu, lembrando-lhes que “que nem uma só palavra falhou de todas as boas coisas que falou de vós o SENHOR vosso Deus; todas vos sobrevieram, nenhuma delas falhou” (Josué 23:14b). Josué disse: “todas vos sobrevieram, nenhuma delas falhou” (Josué 23.14b)
Ainda sim, como Josué predisse (e Moisés antes dele), as pessoas logo estariam na terra de oliveiras e videiras. Estas coisas, que eles clamaram no deserto, logo pareceriam “normais” a eles. E, logo em seguida, eles iriam suplicar mais e mais, tanto que eles iriam seguir os ídolos Cananeus para conseguir o que eles queriam.
Isto é o que alguns filósofos chamam de “adaptação hedonista”. Tendemos a nos ajustar ao nível de felicidade e prosperidade que nós temos. Aprendemos a esperar por isso, sem mesmo percebê-lo. E então queremos mais. É por isso que é tão difícil para as pessoas baixar no padrão de vida. É fácil mudar de um apartamento pequeno para uma casa de dois pavimentos, porém é horrível fazer o contrário. Poucos têm problema em ir de um Ford Fairmont de 1985 para uma novíssima BMW, mas é incompreensível ir na outra direção.
Este é o caminho de toda carne, puxada em direção ao abismo pelos poderes satânicos. É sempre assim. O Jardim do Éden se torna uma simples vegetação para os seres humanos. No final, as montanhas e cavernas se tornam simples cobertura para os humanos cegos.
O Espírito de Cristo nos atrai em direção à gratidão porque o Espírito nos convence da nossa condição de criatura. Nós somos dependentes do fôlego, do pão, do amor, e estas coisas vêm, pessoalmente, como presentes de um Pai (Tiago 1:17)
Há alguma coisa na sua vida que você se acostumou? Há alguma coisa pela qual você orou fervorosamente, em súplicas na ausência, pelo qual você não tem orado, fervorosamente, em ações de graça na sua presença? Há algumas coisas assim em minha vida e, eu temo, muitas mais que eu não consigo nem recordar.
Estou escrevendo isto da mesa da minha cozinha. Fui interrompido pelos garotos Moore lutando pelo último bolo Little Debbie na copa. Assim que eu ouvi “Papai”, olhei pra cima, ainda escrevendo este artigo, em frustração. Mas o Espírito ainda crucifica e ainda ressuscita.
Obrigado, Pai.
Traduzido e gentilmente cedido por Rebeca Nascimento | iPródigo.com | Original aqui