“Fazer uma visita a uma família que está sofrendo no hospital causa mais impacto do que os três pontos da sua mensagem de domingo.”
De vez em quando eu ouço afirmações como estas em conferências de pastores e seminários sobre pregação. A idéia aqui é que a presença pastoral é mais importante do que a pregação do pastor. A implicação é que é melhor gastar menos tempo se preocupando com sua pregação e mais tempo se envolvendo com gente, em um nível pessoal.
Soa bem. Mas é uma visão míope. E, em última instância, inútil.
Claro, há pastores que gastam o dia inteiro nos estudos e nunca estão com as pessoas. Os pastores desse tipo precisam ser estimulados a passarem mais tempo do lado de fora das portas para que possam servir melhor às ovelhas (sem mencionar que estar com as ovelhas melhora muito a sua pregação!)
Também é verdade que a maioria da sua congregação já esqueceu os pontos principais do seu sermão da última semana. E sim, membros de igreja vão lembrar por muito tempo da sua presença durante a crise que eles passaram. De qualquer forma, o objetivo da sua pregação não é que todo mundo se lembre de todas as informações que você apresentou. Também não podemos deixar de lado o preparo da pregação, em uma tentativa de aumentar a presença pastoral.
Em vez disso, devemos considerar o relacionamento entre a pregação e a presença de um jeito que possamos medir o impacto além do que é imediato, poderoso e memorável. É por isso que eu digo: Não subestime o efeito a longo prazo, cumulativo, das suas pregações.
A pregação nos molda de um jeito que vai além da mera retenção de informações. Cada vez que um pastor abre a Palavra e prega o evangelho, ele está mostrando à sua igreja como se aproximar da Bíblia. Pastores que elevam as Escrituras semana após semana, sermão após sermão, levam seu povo a aproximar-se da Bíblia da mesma forma.
Um exemplo pessoal
Desde a época que eu tinha nove anos de idade até eu deixar a Romênia aos 19, eu pertencia a uma igreja onde o pastor (Ken Polk) pregava sermões expositivos toda semana. Eu me lembro da primeira (e da segunda) vez que ele nos guiou pelo evangelho de João. Eu ainda lembro de sua série em 1 Coríntios, ou de seus sermões em Juízes.
É claro, aquele pastor também estava ao nosso lado quando tivemos o nosso primeiro filho. Ele nos confortou em meio à tentativa e perda. Ele é um pastor, afinal de contas, não apenas um pregador. Ouso dizer, no entanto, que sua centralidade na Palavra como pregador foi o que fez a sua presença pastoral tão poderosa durante nossa provação. Sua presença era aperfeiçoada por sua pregação.
Eu não posso calcular a influência em minha formação que as pregações deste pastor tiveram em minha vida. Por dez anos, eu escutei o irmão Ken pregar. 10 anos. 50 semanas por ano. 2 vezes por semana. São 1000 sermões.
Não, eu não lembro das informações contidas na grande maioria daqueles sermões. Eu não lembro de todos os títulos ou pontos. Mas eu não tenho dúvidas de que sua pregação impactou enormemente a minha vida.
Eu me aproximo do texto como ele faz, tentando descobrir o que está lá, e não tentando inventar o que não está.
Eu vejo Cristo nas Escrituras porque ele viu Cristo lá.
Eu respeito a Bíblia por causa da forma como ele sempre tornava o propósito do texto mais importante do que a personalidade do mensageiro.
Nós estamos teologicamente “na mesma página” (n. do t.: expressão que indica concordância) porque ele pregou consistentemente uma teologia que vinha das páginas.
Uma exortação aos pastores
Pastores, não subestimem o efeito cumulativo de suas pregações. Vocês não estão derramando informações em cérebros. Vocês estão formando os hábitos do povo, ensinando-os como ler e entender e aplicar a Bíblia por si próprios. Como você prega semana após semana importa tanto quanto o quê você prega.
Ser confrontado semanalmente pela Palavra de Deus lentamente muda a forma como nós olhamos para o mundo. Nós vemos Deus mais claramente, nossa condição humana e o futuro de uma perspectiva Bíblica, mesmo que não nos lembremos de todas as informações de uma mensagem em particular. Sermões gradualmente mudam a forma como nós pensamos, sentimos, cremos e confiamos.
Sim, sua presença na casa em que há um funeral ou no leito de enfermidade é vital. É muitíssimo importante. Mas há uma razão pela qual sua presença durante o sofrimento é tão poderosa: A Palavra. A visita de um pastor é única porque o pastor é aquele que fala com a autoridade vinda da palavra de Deus semana após semana. É por isso que cristãos querem que o pastor esteja por perto, e não apenas um companheiro, membro da igreja.
Portanto, não vamos colocar a presença pastoral como oponente da preparação do sermão. Sua pregação influencia sua presença e vice versa. Que o Senhor abra seus olhos para ver a calma, sutil influência que 1000 sermões têm sobre o povo que Deus confiou ao nosso cuidado.
Traduzido por Daniel TC | iPródigo | Original aqui.