Nada merecido

Por Sinclair Ferguson

Religiosos sempre ficam profundamente perturbados quando descobrem que não são, e nunca foram, verdadeiros cristãos. Toda aquela religião não conta para nada? Aquelas horas na igreja, horas gastas realizando coisas boas, horas envolvendo-se em atividade religiosa – elas não conta para nada na presença de Deus? Elas não me permitem dizer: “Veja o que eu fiz. Não mereço o céu?”.

Infelizmente, pensar que mereço o céu é um sinal certo de que ainda não tenho um entendimento do Evangelho.

Jesus desmascarou essa terrível verdade sobre Seus contemporâneos. Eles resistiram à Sua doutrina e recusaram-se a receber Sua Palavra porque eles eram pecadores – escravos do pecado.

Alguns anos atrás, a mídia britânica noticiou que uma denominação presbiteriana recolheu 50 mil cópias de uma edição de sua revista mensal. A matéria dizia que o autor de um artigo referiu-se a um membro proeminente da Família Real britânica como um “pecador miserável”.

Intrigantemente, o membro da família real, como membro da Igreja da Inglaterra, deve ter usado regularmente as palavras do Livro de Oração Comum anglicano, que inclui um pedido para o perdão dos pecados de “miseráveis ofensores”. Por que, então, as revistas foram recolhidas? O comentário oficial: “não queremos dar a impressão de que as doutrinas da fé cristã causam traumas emocionais às pessoas”.

Porém, algumas vezes as doutrinas da fé cristã fazem exatamente isso – inevitavelmente.

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Ou deveríamos dizer: “Como Jesus foi cruel com esses pobres judeus! Imagine Jesus falando a eles dessa forma?!”?

Jesus realmente disse: “Vocês são pecadores miseráveis”. Ele desmascarou pecadores e foi enfático: “Em vocês não há lugar para a minha palavra” (João 8.37). Eles tinham ouvido, mas resistiram. Mais tarde, ele descreveu o resultado: “Por que a minha linguagem não é clara para vocês? Porque são incapazes de ouvir o que eu digo” (João 8.43).

Jesus havia explicado pacientemente isso a Nicodemos: “A não ser que o Espírito de Deus abra seus olhos, você não pode ver o Reino de Deus. A não ser que Deus o liberte, você nunca entrará no Reino de Deus” (veja João 3.3,5). “A verdade é”, Jesus disse mais tarde, “que vocês não ouvem o que estou dizendo porque não são realmente filhos de Deus” (veja João 8.41,44). Eles estavam, usando o vocabulário de Paulo, espiritualmente “mortos” (Ef 2.1).

Um tempo atrás, enquanto descansava de férias em um maravilhoso dia de verão nas Terras Altas escocesas, sentei do lado de fora para tomar o café da manhã. A uma pequena distância vi um pequeno passarinho vermelho. Admirei suas penas, seu peito avermelhado, seu bico afiado e cortante, sua beleza singela. Descobri-me instintivamente falando com ele. Mas não havia resposta, nem movimento. Tudo estava intacto, mas o pequeno pássaro vermelho estava morto. O melhor veterinário do mundo não poderia fazer absolutamente nada por ele.

Assim somos, espiritualmente. A despeito das aparências, em meu estado natural, estou morto em relação a Deus. Não existe vida espiritual em mim.

Somente quando enxergo isso, começarei a ver porque a graça de Deus é surpreendente e maravilhosa. Porque aos espiritualmente mortos a graça de Deus vem para dar vida e libertação.

Traduzido por Josaías Jr | iPródigo | original aqui