A Noruega experimentou um pesadelo – 3 horas de terror abjeto. Na tarde de sexta, aproximadamente às 15h30, Anders Behring Breivik, 32 anos, explodiu uma bomba fora dos prédios do governo, matando pelo menos sete pessoas. Quando a bomba explodiu, ele estava a caminho da ilha de Utoya, aproximandamente 32 quilômetros de Oslo, no local de um acampamento da juventude dirigido por um partido político. Vestido com um uniforme de polícia, ele pediu para abordar o grupo (havia 700 pessoas no acampamento) antes de abrir fogo contra eles. Ele matou pelo menos 86, atirando neles a sangue frio. Às 18h30, Breivik estava sob custódia policial, tendo tirado quase 100 vidas em 3 horas. Enquanto isso, os olhos de todo o mundo voltaram-se para a Noruega e milhões se perguntavam quem faria algo assim, e por quê.
Dentro de horas, as manchetes proclamavam que foi o trabalho de um cristão fundamentalista ou extremista. The Atlantic estampou sua chamada no site: “Cristão extremista é suspeito do massacre da Noruega”. O Washington Post afirmou: “’O que sabemos é que ele é de direita e é um cristão fundamentalista’, disse o chefe de polícia Roger Andresen em uma coletiva de imprensa. ‘Nós não conseguimos ligá-lo a um um grupo anti-islâmico’. Ele disse que o suspeito não tinha sido preso antes e que a polícia não tinha certeza de que ele agiu sozinho”.
Isso foi obra de um cristão? Esse terrorismo foi consistente com alguém que diz ser um seguidor de Cristo? Muitos acreditam que sim.
A declaração de que Breivik é cristão parece ter vindo de seu perfil no Facebook, onde ele se declara como “cristão” e “conservador”. Isso foi o bastante para muitos e especialmente para aqueles que têm uma agenda anticristã. Frank Schaeffer¹ imediatamente apareceu online e disse: “Eu avisei!”, escrevendo em seu blog, “Em meu novo livro ‘Sex, Mom e God’ [Sexo, Mamãe e Deus], eu previ isso. Previ que cristãos de direita iriam iniciar o terrorismo aqui na América também. Previ que eles copiariam extremistas islâmicos, e que eventualmente poderiam ter uma causa em comum com eles”. Carl Trueman vai direto ao ponto quando diz:
Se um homem não hesita em usar a vida sexual dos pais para fazer graça e vender um pouco de livros, não seria surpresa se ele visse os eventos na Noruega como uma grande oportunidade de exaltar seus insights proféticos, tentando empurrar algumas cópias a mais de seu livro mais recente e demonstrando que a Esquerda pode ser tão tênue em lógica, evidências e argumentação quanto Glenn Beck² (quem mais teria pensado que há um link entre Tim Keller, Bill Edgar e o terrorismo religioso?). Sim, você adivinhou, Frank Schaeffer conseguiu de novo. Isso só mostra que tudo tem um lado bom. Se você for egoísta o bastante, é claro.
Como nós, como cristãos, entendemos esse evento? Como pensar sobre a mídia afirmando que isso é obra de um cristão?
Antes de começarmos, devemos estar em oração por aqueles que foram profundamente afetados pelos atos terroristas de Breivik. Uma nação inteira ficou em choque; milhares estão de luto, por ter um amigo ou um parente assassinado. Como cristãos, sabemos onde a esperança está e sabemos que somente o Senhor pode trazer esperança e cura verdadeiras e duradouras. E assim, choremos com os que choram, orando pelo povo da Noruega, pedindo que o Senhor traga conforto.
No restante desse artigo, quero simplesmente traçar meus próprios pensamentos sobre esse homem e sobre aqueles eventos. Aqui está o que pensei sobre isso.
Um Cristão?
Quando comecei a ouvir as notícias e que isso foi obra de um cristão, minha primeira impressão é que Breivik foi proclamado cristão não porque ele é alguém que parecia crer na Bíblia, um cristão evangélico, ou algo do tipo. Minha primeira impressão é que ele foi chamado de cristão porque o mundo não chegou imediatamente à conclusão de que ele era muçulmano. Tenho certeza que a maioria das pessoas, quando souberam da explosão, pensou consigo mesmo “Lá vamos nós de novo”. E, de fato, um artigo do Washington Post declarou exatamente isso.
Para muitas pessoas, seja na Europa secular ou no Bible Belt dos EUA, “cristão” refere-se mais a nascimento, família ou nacionalidade que a alguma realidade espiritual, interna. O que quero dizer é que não acho que as pessoas estejam necessariamente dizendo: “Este é um homem que ama Jesus e procura viver de uma forma que honre a Deus” tanto quanto estão proclamando “Isso não foi terror islâmico”. Em certo sentido, a declaração positiva “Ele é cristão” era uma declaração negativa – “Não foram os muçulmanos!”.
Não há um gatekeeper
A fé cristã não tem um gatekeeper³. Não há alguém ou um governo que declara quem pode e quem não pode se chamar de cristão. Qualquer um pode se declarar cristão. Sempre tem sido assim e sempre será. Isso significa que qualquer coisa pode ser feita em nome de Cristo – mesmo aquelas coisas que são tão obviamente opostas a tudo o que Cristo ensinou. Temos de aceitar essa realidade e não nos envergonhar disso.
Talvez isso nos leve a perguntar se nós representamos Cristo e sua causa. Nossos atos deixam um legado distintamente cristão para trás? Vivemos da maneira que Cristo nos ensinou a viver? Embora nunca cometamos um ato de terror assim, nós, também, declaramos uma aliança com Cristo e então agimos de formas que causam desprezo a seu nome. Tomar o nome de Cristo para si ao chamar-se de cristão é um grande privilégio, mas também uma grande responsabilidade.
Cuidado com os rótulos fáceis
Esse pequeno mundo digital nos dá a capacidade de fácil e rapidamente rotular a nós mesmos e aos outros. Embora esses rótulos possam significar muito pouco, tendemos a agir como se eles fossem genuínos, sinceros e significantes. Todas as agências de notícias descobriam o Facebook de Breivik onde ele se rotula como “cristão”. Uma vez que descobriram isso, se aprofundaram pouco mais. Era isso que procuravam. Eles o proclamaram cristão, mas se esforçaram pouco para entender o que isso realmente significava ou como ele realmente vivia. Como Ed Stetzer mostrou, se tivessem procurado um pouco mais, teriam visto que ele odeia o Protestantismo (logo, ele é um cristão fundamentalista que odeia o protestantismo) e crê que a igreja protestante precisa voltar ao catolicismo. Eles também teriam visto que ele ama a série True Blood (algo difícil de conciliar com conservadorismo religioso) e tem conexões com a maçonaria. Embora ele usasse o rótulo “cristão”, não parece viver como qualquer cristão conservador que eu conheça.
É digno de atenção que existem muitas outras maneiras que a imprensa poderia ter descrito. “Fazendeiro de frutas orgânicas”, “ativista político”, “maçom”. Apenas pense nisso um pouco. Por que assume-se imediatamente que as visões religiosas são a motivação?
O Mundo nos odeia
Há um movimento pronto para pintar o cristãos como uma ameaça iminente e violenta. Um dos grandes sucessos do Novo Ateísmo tem sido convencer pessoas de que a Bíblia carrega as raízes desse tipo de extremismo violento. Procura-se convencer as pessoas de que a religião em si mesma é violenta e ninguém deveria se surpreender quando alguém que acredita em Deus torna-se violento.
Aqueles cujos corações foram transformados pelo Senhor sabem que isso simplesmente não é verdade. Enquanto sabemos que o pecado está dentro de nós, também sabemos que o Senhor nos chama a viver pacificamente com todos e a crescer no desejo de mostrar um caráter semelhante a Cristo. Nosso testemunho ao mundo é de amor. Jesus ensinou a seus discípulos: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei a vós, que também vós vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros”.
Jesus nos ensina a oferecer ao mundo um testemunho de amor. Mas ele também sabia que isso não convenceria a todos. Longe disso. “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia”. A lógica é a seguinte: As pessoas odeiam Cristo; portanto as pessoas odeiam aqueles que amam a Cristo e que procuram ser como ele. As pessoas tentarão expressar esse ódio ao injustamente associar os verdadeiros cristãos com aqueles que não se parecem em nada com cristãos. Em certo nível, então, as pessoas desejam ver Cristo em Anders Behring Breivik porque lhes dá uma oportunidade de aumentar sua rebelião contra o Deus que elas temem e o Salvador que elas odeiam.
Não se ofenda quando os cristãos são retratados injustamente. Não se surpreenda. O mundo odiou Cristo e o mundo odiará aqueles que seguem a Cristo, que agem como Cristo. O mundo retratou Cristo de maneira falsa e fará o mesmo com aqueles que o seguem. Nossa tarefa é viver da maneira que Cristo nos ensinou a viver; os resultados deixamos para sua boa e soberana vontade. Não se surpreenda quando você for colocado no mesmo grupo que Anders Behring Breivik ou Timothy McVeigh. Mas espere que esse tipo de evento será usado contras nós e será usado para restringir nossa liberdade de culto.
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¹ Filho de Francis Schaeffer que, infelizmente, abandonou a ortodoxia e o legado dos pais. (N.T.)
² Conservador norte-americano, escritor, jornalista e comentarista de TV (N.T.)
³ Literalmente, guarda do portão. É um termo usado em diversas áreas de conhecimento, como comunicação e computação. Refere-se a algo ou alguém que barra informações, dados, o que vira notícia, quem é parte de alguma coisa, etc. (N.T.)
Traduzido por Josaías Jr | iPródigo | original aqui