“A Lei foi introduzida para que a transgressão fosse ressaltada. Mas onde aumentou o pecado, transbordou a graça, a fim de que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reine pela justiça para conceder vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor” (Romanos 5.22-21)
Quantos cristãos (desconsidere as pessoas que ainda não são cristãs) você imagina que entendem mal a graça? Certamente há toneladas.
Um problema, como já ouvi dizerem, é que a lei é nossa língua nativa. Falamos a lei fluentemente. Existe uma tendência natural direcionada para a justiça própria, para a justiça punitiva, para trabalhos externos sem vida. Embora a lei deva nos condenar – e nos condenar muito! – inconscientemente acreditamos que nós mesmos somos capazes de nos erguer ao patamar das exigências da lei. Obviamente, nós nunca diríamos tal coisa. Nós apenas vivemos assim. Claro, nunca recorreríamos à lei por justificação – não somos legalistas, afinal de contas. Mas imaginamos a perfeição como uma possibilidade genuína. Fazemos disso um alvo de “sempre lutar pela perfeição”. O que é isso, senão a lei pronunciada com mais sílabas? Certamente quanto mais velhos ficamos, menos confiança temos de um dia alcançarmos a perfeição. Mas permanecemos confiantes e comprometidos com o alvo da perfeição porque a graça não é nossa língua nativa; a lei é.
Mas há outros problemas também. Outras formas de entendermos mal a graça. Se insistimos que a graça é maior que o pecado, alguns pensam que “graça” se torna uma licença para pecar ainda mais. O apóstolo Paulo encontrou esses problemas durante seu ministério. Ele antecipou essas objeções em Romanos 6, onde ele pergunta retoricamente, “O que diremos então? Continuaremos pecando para que a graça aumente?” (v.1) e um pouco depois, “E então? Vamos pecar porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça?” (v.15). Tendo antecipado os mal entendidos, o apóstolo não deixou essa retórica como espantalhos em pé na plantação. Ele os queima com um contundente “De maneira alguma!”. “De maneira alguma!”. Graça não é licença.
Bem, por que não? Porque a graça super abundante não é licença e aliciamento para o pecado? Paulo desenvolve um argumento mais longo e maravilhoso no capítulo 6. Mas para esse post, eu quero identificar algumas coisas que ele fala no final do capítulo 5. Especificamente, “transbordou a graça a fim de que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reine pela justiça para conceder vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor”.
Note: Transbordou a graça na presença do pecado, então que a graça reine pela justiça. É como se o pecado e a graça fossem dois reis guerreando em conflito armado por supremacia. Onde quer que o pecado reúna seus cavaleiros, a graça arruma seus lanceiros e arqueiros para anular a rebelião do pecado.
Deu para ver que eu gosto de filmes que se passam no período Medieval de reis, castelos, guerreiros e batalhas? O problema com esses filmes, no entanto, é que uma vez que o rei derrotou seus inimigos, o filme termina e nós ficamos a imaginar o que esse pacífico e benevolente reino ocasionará. Não vemos o filme sobre o reinado perfeito. Esse é parcialmente o problema com nossa discussão sobre a graça. Sabemos muito sobre a vitória da graça sobre o pecado. Falamos muito sobre a graça salvadora. Mas então o filme acaba e ouvimos pouco da “graça reinando”.
Mas por causa da vitória de Deus sobre o pecado, nós que cremos estamos “debaixo da graça”, como Paulo explica no capítulo 6. Mas o que isso implica? Bem, implica ser governado pela graça. A graça reina sobre nós. “Pois o pecado não os dominará, porque vocês não estão debaixo da Lei, mas debaixo da graça” (6.14). O pecado não nos dominará porque a graça nos domina. A graça reina. Ela governa.
E qual é a característica do reinado da graça na vida cristã? A graça reina pela justiça. Quando a graça vence o pecado, estabelece o reino de justiça através do domínio até a vida eterna estar consumada. É por isso que graça e licença são incompatíveis. Licença reina por luxúria, pecado e morte. Mas fomos libertos disso. Morremos para a lei e morremos para o pecado. A cada dia estamos a nos “considerar mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus” (6:11). Você começou o dia de hoje se considerando morto para o pecado, mas vivo para Deus em Cristo Jesus? O benefício dessa aplicação mental é nós não permitirmos mais que o pecado reine em nossos corpos mortais por obedecer os desejos malignos (6:12). Graça e licença são incompatíveis porque a graça reina pela justiça.
Talvez esse seja o ponto que entendemos mal com mais frequência. Talvez seja por isso que tantas alusões à graça nos pareçam insinuações astutas para o pecado. Você já ouviu cristãos responderem à aplicação correta do mandamento das Escrituras com “Mas não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça”? Você já ouviu cristãos combaterem a prática bíblica de disciplina corretiva apelando para a “graça”? De tempos em tempos, ouvimos cristãos oferecendo um calmante paliativo a um pecador não arrependido, deixando-o em seus pecados ao dizer em algumas palavras “tudo bem, porque é tudo pela graça, de qualquer forma”. Soa suspeito como o não crente endurecido que proclama que Deus tem que perdoar seus pecados porque “é isso que Deus faz”.
Se somos culpados de pensar na graça nesses termo, eu suspeito que o apostolo Paulo nos corrigiria com um “absolutamente não! De forma alguma!”.
O que está errado com muitas dessas afirmações? De alguma maneira, elas separam a idéia de graça do seu reinado pela justiça. Elas esquecem que “a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente, enquanto aguardamos a bendita esperança: a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo. Ele se entregou por nós a fim de nos remir de toda a maldade e purificar para si mesmo um povo particularmente seu, dedicado à prática de boas obras” (Tito 2:11-14). A graça nos ensina a justiça. A graça nos ensina a “apenas dizer ‘não’”. Positivamente, graça nos instrui ao auto-controle, retidão e piedade mesmo em uma época de anarquia e escuridão. A graça torna-se para nós um agente de purificação, e cria em nós uma forte inclinação para o bem. A graça reina na vida cristã, mas o faz por meio da manifestação e do cultivo da justiça.
Isso nos beneficiaria muito a estarmos cientes de que os ímpios, ao ensinar, “transformam a graça de nosso Deus em libertinagem e negam Jesus Cristo, nosso único Soberano e Senhor” (Judas 1:4). E temos que estar cientes de que a tendência de nosso próprio coração é transformar a graça em anarquia, ou recorrer à lei como meio de justiça. Ambos são fugas que negam o evangelho. A verdadeira graça de Deus torna a falta de lei em justiça e traz vida eterna para onde a lei trouxe morte.
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Traduzido por Carla Ventura | iPródigo.com | Original aqui