Minha filha, Katelynn, que tem 11 anos, quer começar a usar maquiagem. Eu tenho uma regra: nada de maquiagem até que ela tenha 12 anos. Minha esposa não concorda comigo. Ela acha que estou sendo legalista. Eu não consigo me reprimir quanto a isso. Essa é apenas a maneira que eu penso. Eu posso justificar isso de dez diferentes formas com as mãos nas costas. O problema é que nenhuma das minhas justificativas é realmente preta ou branca. Essa é uma das coisas sobre as quais as Escrituras não falam. O argumento da minha esposa também faz sentido. Entretanto, eu tenho alguns preconceitos acerca do assunto. Esses preconceitos submetem o meu entendimento e criam suas próprias paixões. Mais um ano e os preconceitos desaparecerão, já que Katelynn terá 12 anos.
Maquiagem não é a questão. Eu não quero entrar nesse assunto. Todos nós temos preconceitos. Este não é exatamente um termo técnico teológico, embora esteja no dicionário. É assim que é definido: “É uma sensação desconfortável decorrente da consciência ou princípio que tende a dificultar a ação”. No entanto, quando estamos falando da nossa fé, preconceitos são difíceis de lidar. Você tem esses termos muito importantes: graça e liberdade.
Quando a graça e a liberdade se chocam com os “preconceitos”, frequentemente, e infelizmente, os preconceitos vencem. Por quê? Porque nós somos bem rápidos em sacrificar nossa liberdade por causa dos “fracos na fé”. Sim, a carta do “fraco na fé” é muitas vezes jogada e os legalistas amam isso. De fato, isso é usado mais frequentemente por aqueles que são legalistas disfarçados de “livres”. Não é que essa carta seja ilegítima – não é como se não houvessem fracos na fé – mas ela é abusada e o resultado é a escravidão.
Eu me lembro de Chuck Swindoll, falando sobre isso, dizendo: “Seja cauteloso, há algumas pessoas por aí que são ‘fracos na fé profissionais’”.
“Kristie, eu tenho preconceito com essa coisa de maquiagem. Talvez eu não possa achar um versículo ou um princípio sólido sobre o qual possa descansar minha cabeça teológica, mas você precisa ser sensível e compreensiva com a minha aflição para o bem da minha espiritualidade. Mais um ano e meus preconceitos terão ido embora”.
Eu destaquei algumas palavras chave que o legalista usará para manipular a situação. “Sensível”, “compreensiva”, “aflição”, “para o bem”, e a mais importante, “minha”
Assim, a liberdade, por muitas vezes, é sacrificada.
“Eu não vou ao cinema porque eu não quero fazer ninguém tropeçar”
Tradução muitas vezes implícita: “você deveria desistir de sua liberdade também, se quiser ser espiritual como eu”.
“Eu nunca bebo álcool porque os mais fracos na fé podem me ver e cair em pecado”.
Tradução muitas vezes implícita: “Eu tenho preconceitos com esse tipo de problema e você deveria ter também”.
“Se alguém me vê fazendo amizade com essa pessoa, ele pode achar que eu estou tolerando seus atos. Por isso, eu sacrifico a minha liberdade por causa da fragilidade deles”.
Tradução muitas vezes implícita: “Eu não posso ser amigo de pessoas que são pecadoras”.
Tudo bem, vamos até Romanos, capítulo 14:
“Aceitem o que é fraco na fé, sem discutir assuntos controvertidos.” (Romanos 14.1)
“Por isso, esforcemo-nos em promover tudo quanto conduz à paz e à edificação mútua. Não destrua a obra de Deus por causa da comida. Todo alimento é puro, mas é errado comer qualquer coisa que faça os outros tropeçarem.” (Romanos 14.19-20).
Você vê, aqui Paulo está falando sobre um que é “fraco na fé” que tem preconceito com a comida que outra pessoa está comendo. Alguns eram vegetarianos e não comiam carne (provavelmente por causa da ligação com os templos dos ídolos). Eles pensavam que era moralmente errado comer carne. Paulo deixou isso claro, que não é errado em si: “Como alguém que está no Senhor Jesus, tenho plena convicção de que nenhum alimento é por si mesmo impuro, (v. 14a). No entanto, porque alguém acha que é errado, para eles pode ser: “a não ser para quem assim o considere; para ele é impuro” (v. 14). Portanto, quando um desses “só vegetais” está por perto, seja cauteloso ou você pode fazê-lo tropeçar (ou seja, ele vai ver você comendo carne e fazer o que ele acredita ser errado).
No entanto, talvez estamos levando isso longe demais. Eu não acho que somos obrigados a ceder nossa liberdade a todos que têm problemas com os nossos atos. Um “fraco na fé” é aquele que é verdadeiramente mais fraco, e não apenas aquele que tem uma interpretação equivocada das coisas. Ele é fraco porque não foi ensinado sobre essas questões. Você deve entender, ele não deve achar que vai ser assim pra sempre, ou esperar que seja assim. Eventualmente, ele deve se tornar forte. Infelizmente, muitas vezes esses fracos na fé percebem seu poder e se tornam “fracos na fé profissionais”.
Não interprete mal Paulo. Ele certamente não desejava comprometer a sua liberdade. Nós devemos balancear a passagem de Romanos com essa de Gálatas:
“E isto por causa dos falsos irmãos que se intrometeram, e secretamente entraram a espiar a nossa liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos porem em servidão; Aos quais nem ainda por uma hora cedemos com sujeição, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós.” (2.4-5)
Esses “falsos irmãos” devem ter jogado a carta de “fracos na fé”.
“Ei Paulo, você não pode fazer isso, senão eu vou tropeçar”.
“Paulo, e se houver alguém que tem preconceito com o que você está fazendo? Você quer que eles tropecem?”
De fato, eles talvez tenham jogado essas cartas. No entanto, Paulo não se deixa levar por isso. Nem por um segundo. Por quê? Porque quando você o faz, o Evangelho se perde. Note Paulo dizer que não se sujeitou a eles, nem mesmo por uma hora “para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós”. Sem liberdade, não há boas novas. Escravidão gera apenas escravidão. O Evangelho fala sobre ser livre.
Pense nisso: se tivéssemos que ceder a toda chamada de um irmão fraco na fé, qual seria o resultado? Nós estaríamos sempre nos curvando ao mínimo denominador comum. Todas as ações estariam fora dos limites. Pense em todas as coisas com que as pessoas tem preconceitos:
- Assistir filmes
- Dançar
- Banheiro “unissex”
- Cafeína
- Tabaco
- Ler Harry Potter
- Assistir Glen Beck (porque ele é mórmon)1
- Ler C.S. Lewis (porque ele negou a inerrância)
- Mandar meus filhos para escolas públicas
- Usar havaianas na igreja
- Beber álcool
- Não ler qualquer outra Bíblia que não seja a KJV2
- Ouvir Rock
- Ir à igreja aos sábados ao invés dos domingos
- Fazer uma compra que os outros pensam que seja um desperdício pecaminoso de dinheiro
- Jogar vídeo games que tem sangue
- Tomar anti-depressivos
- Mulher usar calça
- Dizer “ai meu Deus”
- Ir a uma igreja “evangelical”
Para cada uma dessas coisas, eu realmente tenho representantes na minha vida. Todos eles ficariam ofendidos se eu cruzasse a sua respectiva linha. Se eu fosse seguir essa política de “não-ofensa”, eu estaria completamente imóvel na minha vida e em meus atos. Você também.
“Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.” (Gálatas 5.1)
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Nós precisamos ser sensíveis, mas não ao ponto de estarmos apenas alimentando a compreensão equivocada e o legalismo dos outros. As pessoas vão te controlar à medida que você deixar. Se você permitir que isso continue sem discernimento, não apenas ficará imóvel, mas irá perder a sua liberdade. Perdendo a liberdade, perde também o Evangelho.
Acredite se quiser, há pessoas por aí que odeiam nossa liberdade e irão fazer qualquer coisa para nos fazer perdê-la. Cuidado com os “fracos na fé profissionais” (e aqueles que se rendem a eles).
1 Comentarista americano de TV, conhecido por suas posições de extrema direita.
2 King James Version, tradução mais tradicional da Bíblia para o inglês, normalmente associada aos reformados.
Traduzido por Marianna Brandão | iPródigo.com | Original aqui