Como assim, agora o iPródigo vai fazer exegese de filme? Não é bem assim, pessoal. Alguns amigos nossos têm um excelente blog que dedica-se a analisar filmes sob um ponto de vista cristão reformado – o Reel Thinking. Os filmes são usados para ilustrar verdades bíblicas (às vezes, até quando as negam!) e assim podermos entender melhor as doutrinas da Palavra de Deus. Temos um desejo grande de compartilhar os textos do RT com vocês, mas é um projeto mais pra frente. Por enquanto, fiquem com a primeira parte de uma colaboração que fizemos com eles, sobre o último filme dos Muppets.
Tomar decisões sobre assuntos que não envolvam diretamente questões religiosas ou morais é o pesadelo de muitos cristãos. Eu sei por que sempre foi o meu.
Afinal, como saber se Deus aprovará o caminho que segui? E se ele queria que eu fosse arquiteto, mas gastei meu tempo na publicidade? E não apenas isso – devo levar em consideração as motivações do meu coração. Quero me casar, mas não estava pecando quando buscava apenas aquelas que achava bonita? E não peco agora por achar minha namorada a mulher mais linda do mundo? Não é superficial ou egoísta? Se eu detestar meu emprego, sou mais santo que aquele que ama o que faz?
Enfim, nem sempre sabemos que caminho seguir e se temos as motivações corretas.
O novo filme dos Muppets levanta essa questão no fim de seu segundo ato, quando dois dos personagens principais da história devem decidir que caminho seguir. Vemos os irmãos Gary e Walter – interpretados respectivamente por Jason Segel e um fantoche – questionando-se se são homem ou muppet.
Sem entrar na questão de como é possível um ser humano e um fantoche serem parentes, o que precisamos entender sobre os dois é o seguinte: Walter e Gary cresceram juntos, são irmãos muito unidos, parceiros nos esportes, nos números musicais e fãs dos Muppets. Quando Gary chama Mary, sua namorada há dez anos, para uma viagem a Los Angeles, ele não pode deixar de convidar o irmão. “Nunca somos eu e ele. É sempre eu e ele e ele”, canta a garota.
É no meio de toda a aventura para recuperar o Teatro Muppet que a pergunta é feita. Gary precisa decidir entre a vida ao lado de Mary ou continuar apegado a seu irmão, aos sonhos de infância e aos Muppets. Por outro lado, Walter deve escolher entre usar seu talento junto com Caco, Piggy e toda a trupe do Muppet Show ou permanecer junto a Gary, sem precisar aparecer diante de uma plateia que aguarda um espetáculo.
Há uma semelhança com o tipo de decisões que tomamos e os dons que recebemos.
Como acontece com Gary e Walter, nenhuma das opções era pecaminosa em si mesmo. Permanecer junto de sua família é algo bom. “Sair de casa” e colocar em prática aquilo que Deus te deu também. Como decidir?
Alguns parâmetros importantes que a Bíblia ensina e os Muppets ilustram:
1) Existem diferentes vocações, mesmo para pessoas em um mesmo contexto. Walter deveria unir-se aos Muppets porque a outra opção o levaria a permanecer em sua cidade natal, sem exercer seu talento. Gary deveria unir-se à Mary em casamento, e permanecer em sua cidade natal, sem envolver-se integralmente com os Muppets.
Isso lembra os chamados que Cristo fez enquanto esteve na terra. Alguns deveriam abandonar tudo para viver ao lado do Mestre, outros exerceram seus chamados em casa, em seu trabalho, colaborando financeiramente com o ministério terreno de Jesus. Enquanto um não podia enterrar o próprio pai (Mt 8.21,22), outros, como Marta e Maria, cumpriram sua missão em casa.
2) O chamado do homem. É comum achar que apelos para que os garotos larguem os videogames e assumam suas responsabilidades como adultos, maridos e pais seriam apenas costumes da cultura. Nada mais errado. A Bíblia ensina que este é o papel dos homens.
Quando Mary pergunta a seu namorado se ele quer ser um homem ou um muppet, ela levanta uma questão que todo garoto deve encarar um dia. Gênesis 1 e 2 nos dão parâmetros nesse momento de crescimento. Cabe ao homem tomar a iniciativa, liderar sua esposa e deixar pai e mãe. Ele deve tornar-se provedor e protetor de sua nova casa. Se você, rapaz, não decidiu por isso (mesmo sem um namoro em vista), seja homem!
3) Os talentos e paixões que recebemos. Quanto a Walter, outros fatores importantes o guiavam para a decisão correta. Ele tinha habilidade artística que lhe tornava uma peça importante no Muppet Show. E não apenas isso! Ele era apaixonado pelo trabalho da turma de Caco.
Muitas vezes, nossos dons são sinais do trabalho que o Senhor quer que exerçamos. Tanto na igreja, quanto no emprego, devemos levar em consideração aquilo que recebemos. Pode ser ingratidão ou mediocridade não usá-los. Caso Walter permanecesse em casa, temendo enfrentar o público, ele não estaria usando seu talento para ajudar seus amigos.
Querer ser um bom marido, um bom pai, trazer uma boa vida, ter um ministério que alcance pessoas, sonhar com um ambiente de trabalho melhor, buscar conhecimento e arte – tudo isso podem ser exemplos de rumos que glorificam a Deus porque procuram cumprir os mandatos que Deus deu ao ser humano. Como a maioria dos leitores desse blog não podem escolher ser um Muppet, recomendo que procure sua vocação seguindo os parâmetros acima – o mandato que Deus nos deu logo no princípio.
Há, entretanto, algo que devemos levar em consideração – se amo o que faço e sou bom no que faço, Deus está me chamando para isso? Não necessariamente.
Após a Queda, as coisas tornaram-se confusas. Nossos desejos foram dados por Deus, mas o pecado os contaminou, e o que era saudável tornou-se doentio. O fato é que nem sempre seguir o que gostamos e usar os talentos que temos são sinais de nossa vocação. Muitas vezes, somos bons em pecar. E todos nós, por natureza, amamos pecar.
Sua decisão deve glorificar a Deus e abençoar o próximo. Não adianta gostar e ser bom em roubar – Deus está sendo desonrado, sua vocação não está sendo cumprida e seu trabalho é fútil.
Curiosamente, Os Muppets apresentam uma terceira categoria além de homem ou muppet. Ela é um bom exemplo de quando ser bom em algo e gostar disso não nos leva ao que Deus propõe. Sobre isso conversaremos no próximo post.
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