Sexo no casamento

Devido a época de Dia dos Namorados (nos EUA), pensamos que poderia ser benéfico realçar o casamento, e especificamente sexo no casamento.

O casamento íntimo

 Dr. R. C. Sproul ensinou uma série e escreveu um livro sobre o casamento. Nesses recursos, Dr. Sproul passa por algumas das coisas mais difíceis que os casais lidam todo dia: falta de comunicação, sexo, papeis, divórcio, raiva, e mais. Ele compartilha o que a Bíblia diz sobre cada um, assim como as lições que aprendeu com o seu próprio casamento de quarenta anos.*

A visão puritana do sexo no casamento

 Existem muitas caricaturas e desentendimentos quando se trata de como os Cristãos através dos tempos viram o sexo no casamento. No livro do Dr. Joel R. Beeke,  Vivendo para a Glória de Deus: Uma introdução à fé reformada, ele dedica um capítulo para o casamento, no qual ele discute a visão puritana:


O amor conjugal deve ser sexual, logo ambos os parceiros conjugais podem se dar inteiramente para o outro com alegria e exuberância em um relacinamento saudável marcado por fidelidade. Reformadores como Martinho Lutero, Ulrich Zwinglio, e João Calvino estabeleceram este aspecto do casamento ao abandonar as atitudes medievais Católicas Romanas de que o casamento era inferior ao celibato, que todo contato sexual entre parceiros conjugais era um mal necessário para propagar a raça humana, e que um ato procriador que envolvia paixão era inerentemente pecado.

Essa visão negativa estava enraizada na igreja antiga e baseada nos escritos dos notáveis Tertuliano, Ambrósio e Jerônimo. Todos acreditavam que, mesmo dentro do casamento, relação sexual necessariamente envolvia pecado.45 Essa atitude voltada para a intimidade no casamento, que dominou a igreja por mais de dez séculos, inevitavelmente levou à glorificação da virgindade e do celibato. Por volta do século XV, clérigos foram proibidos de casar.46 Duas classes de cristãos surgiram: o “religioso” (ou seja, o clero espiritual), que incluía monges e freiras que prometeram abster-se de toda atividade sexual, e o “profano” (ou seja, leigos seculares), que, proibidos de se levantarem para os níveis nobres de virgindade e celibato, foram concedidos o direito de casar.

Pregadores puritanos ensinaram que a visão Católica Romana era anti-bíblica, até satânica. Eles citavam Paulo, que disse que a proibição do casamento é doutrina de demônios (1 Tm. 4.1-3). Até as definições puritanas de casamento implicavam o ato conjugal. Por exemplo, Perkins define casamento como “o conjunto legal de duas pessoas casadas; isto é, um homem e uma mulher em uma só carne.”47 Em contraste com Desidério Erasmo, que ensinou que o casamento ideal se abstinha da relação sexual, Cotton disse em um sermão de casamento que aqueles que requiseram abstinência no casamento seguem os ditados de uma mente cega e não aqueles do Espírito Santo, que diz que não é bom que o homem esteja sozinho.48

Os puritanos viam o sexo dentro do casamento como um dom de deus e como essencial e agradável parte do casamento. Gouge diz que maridos e esposas devem coabitar “com boa vontade e com alegria, de bom grado, prontamente e alegremente.”49 “Erra,” adiciona Perkins, “quem sustenta que a união secreta do homem com a mulher não pode ser sem pecado a menos que seja feito para a procriação de filhos.”50

Perkins continua a dizer que o sexo no casamento é uma “dívida devida” ou “benevolência devida” (1 Co 7.3) que o casal deve ao outro. Isso deve ser mostrado, ele diz, “com uma singular e inteira afeição de um para o outro” de três maneiras: “Primeiro, pelo correto e legal uso dos seus corpos ou do leito matrimonial.” Tal intimidade física por “uso santo” deve ser “uma santa e imaculada ação (Hb 13.4) … santificada pela palavra e oração (1 Tm 4.3-4). “Os frutos de honra a Deus, sexo agradável no casamento são a benção dos filhos, a preservação do corpo na limpeza ou inocência”, e o reflexo do casamento como um tipo da relação Cristo-igreja. Segundo, casais casados devem “valorizar um ao outro” intimamente (Ef 5.29) ao invés de ter sexo de um jeito impessoal como um adúltero com uma prostituta. Terceiro, um casal deve ser íntimos “por um tipo santo de alegria e se confortarem cada um com [o] outro em uma declaração mútua dos signos e sinais do amor e bondade (Pv 5.18-19; Ct 1.1; Gn 26.8; Is 62.7).” Nesse contexto, Perkins particularmente menciona beijar. 51

Outros puritanos enfatizaram o lado romântico do casamento quando comparam o amor do marido ao amor de Deus por Ele mesmo. Thomas Hooker escreve, “O homem cujo coração está cativo à mulher que ama, sonha com ela toda noite, tem ela em seu olhar e apreensão quando acorda, medita nela quando senta à mesa, anda com ela quando viaja e conversa com ela em cada lugar onde vai.”52 Ele acrescenta: “Ela se reclina no peito dele, cujo coração confia nela; e isso leva todos a confessarem a torrente de afeição dele, como um rio impetuoso, corre a toda força, transbordante.”53

A ênfase no romance dentro do casamento (e não em relações extraconjugais, como era de costume na Idade Média)54 tem sido muitas vezes atribuída aos puritanos. Herbert W. Richardson escreve que “o crescimento do casamento romântico e sua validação pelos puritanos representa uma grande inovação dentro da tradição Cristã.”55 E C. S. Lewis diz, “A conversão do amor cortês para o amor monogâmico romântico foi em grande parte o trabalho de… poetas puritanos.”56

Os puritanos tomaram a tarefa matrimonial do sexo tão seriamente que a não ampliação da “devida benevolência” pelos parceiros entre si podia ser território para a disciplina da igreja. Existe pelo menos em um caso registrado no qual um marido foi excomungado por “negligenciar sua esposa”, por não ter relações sexuais com ela por um longo período de tempo.

Introdução de  Nathan W. Bingham


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45 J. I. Packer, A Quest for Godliness: The Puritan Vision of the Christian Life (Wheaton, Ill.: Crossway, 1994), 261.

46 Leland Ryken, Worldly Saints: The Puritans As They Really Were (Grand Rapids: Zondervan, 1986), 40.

47 Perkins, “Christian Oeconomy,” in The Work of William Perkins, 419.

48 Ryken, Worldly Saints, 42.

49 Quoted in Ryken, Worldly Saints, 44.

50 Perkins, “Christian Oeconomy,” 423.

51 Ibid., 423–427.

52 Thomas Hooker, The Application of Redemption (London: Peter Cole, 1659), 137.

53 Thomas Hooker, A Comment Upon Christ’s Last Prayer (London: Peter Cole, 1656), 187. I am indebted to Packer, A Quest for Godliness, 265, for the last two quotations.

54 William Haller, The Rise of Puritanism (New York: Harper, 1957), 122.

55 Herbert W. Richardson, Nun, Witch, Playmate: The Americanization of Sex (New York: Harper & Row, 1971), 69.

56 C. S. Lewis, “Donne and Love Poetry in the Seventeenth Century,” in Seventeenth Century Studies Presentedto Sir Herbert Grierson (Oxford: Oxford University Press, 1938), 75