Algumas semanas atrás, um leitor nos questionou se poderíamos abordar a questão do pacifismo. Mais especificamente, os cristãos são chamados a serem pacifistas?
Certamente você já ouviu isso antes; Jesus não portava uma espada, então nós também não deveríamos. Você se lembra daquela vez que Jesus derrotou os malfeitores usando sua adaga? Não, porque isso não aconteceu. Se Jesus é a encarnação da justiça e a ética de amor de Deus, então devemos seguir seus passos. Ele não usou força física para restringir o mal, então nós também não deveríamos.
Mas eu não caio nessa. Eu penso que os cristão muitas vezes são chamados para o uso da força física, e às vezes até o uso de força letal, e que há circunstâncias em que isso é mandatório. Eu não aceito o argumento pacifista, e não é simplesmente porque eu noto a ironia de que muitas vezes as pessoas são hostis em sua defesa do pacifismo. Aqui estão cinco razões pelas quais o pacifismo não é uma abordagem bíblia à ética:
1) Deus ordenou o mundo de tal forma que a punição física e letal para certos pecados é uma forma de graça. Em Gênesis 9.6, Deus ordena que os assassinos sejam executados. Isso requer que aqueles que temem Deus obedeçam seu mandamento e trabalhem em conjunto com a lei da terra para executar aqueles que derramaram sangue inocente. Jesus reafirmou esse princípio no Novo Testamento quando repreendeu Pedro dizendo “todos os que empunham a espada, pela espada morrerão” (Mateus 26.52). Claramente, isso é uma forma de graça comum, por agir restringindo o crime e protegendo da vida humana.
2) Cristãos devem empunhar a espada porque amam o próximo. Há uma hierarquia de amor. Nós amamos Deus. Nós amamos nossas esposas e nossas famílias. Amamos nossa igreja. Amamos nosso próximo. Amamos nossos inimigos. Mas se nossos inimigos atacam nosso próximo, é nosso dever (por amor ao nosso próximo) intervir e proteger a vida inocente. Eu já ouvi pessoas dizendo que você não deveria proteger o próximo para amar os inimigos. Esse ponto de vista é ironicamente sem amor. Se uma pessoa inocente está em perigo, por amor nós buscamos suprimir esse perigo.
3) João Batista validou o papel do convertido como militar. Quando soldados se arrependeram de seus pecados e questionaram João sobre como deveriam viver, a resposta de João foi, em essência, “seja um bom soldado” (Lucas 3.14). Claramente, soldados portam armas. O que muitas vezes é subestimado nessa passagem é que João também está separando o serviço militar da ética e da nobreza do país servido. É improvável que João estivesse validando a integridade moral dos líderes romanos, nem estava endossando a ocupação romana de Israel. É provavelmente por isso que os soldados estavam confusos, pra começo de conversa; eles estavam se perguntando como, à luz de seu arrependimento, eles deveriam se relacionar com o militarismo romano. A resposta de João é permanecer um soldado, mas agir de forma justa no nível individual.
4) Os governos vem de Deus (João 19.11). Isso não significa que ele sempre fazem o que é certo, mas que sua autoridade está baseada na vontade de Deus. É por isso que Paulo diz que a autoridade “é serva de Deus para o seu bem” (Romanos 13.4). Paulo imediatamente relaciona isso ao uso da força física: “É serva de Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal”. Falando nisso, sugerir que cristãos não devem tomar parte na execução de alguém com base em Gênesis 9.6 e Mateus 25.52 é sugerir que cristãos não deveriam trabalhar para o governo. Mas não faz sentido dizer que Deus criou as autoridades no mundo para punir o mal mas que o povo de Deus não deve tomar parte nessa punição. Se isso é verdade, isso revelaria uma natureza contraditória em Deus – aqueles que o amam e o servem não devem executar seus mandamentos porque esses mandamentos podem contradizer o que é amável. Essa é uma posição confusa que não é apoiada pelas Escrituras.
5) Há uma diferença entre ética individual e ética coorporativa. Se alguém te persegue como indivíduo, você deve virar a outra face (Mateus 5.29). Mas se você é um agente do governo, enviado para punir os malfeitores, então você tem o mandato divino de empunhar a espada e proteger aqueles que estão sendo perseguidos. A diferença é de motivos, papéis e éticas diferentes para contextos diferentes. Se alguém ataca você enquanto cristão, fuja. Se alguém ataca seu próximo, proteja-os. E se você é um soldado, proteja os inocentes e puna o mal. Em meio a tudo isso, todos nós somos chamados a aceitar que o governo empunhe a espada, puna o mal e cumpra as palavras de Cristo: se alguém levanta a espada injustamente, então precisa perecer pela espada rapidamente (Mateus 26.52).