Estamos muito felizes pela reação positiva do texto de Tim Challies, 18 coisas que não me arrependerei de fazer com minha esposa. Entretanto, dois pontos me chamaram a atenção.
Primeiro, o texto semelhante 18 coisas que não me arrependerei de fazer com meus filhos não obteve o mesmo sucesso (contabilizando 1/4 1/9 das visitas da versão conjugal das 18 coisas). É claro que uma das explicações possíveis é que o primeiro texto foi lançado nas semanas iniciais do ref21, quando o Google, o Facebook, os leitores ainda estavam se adaptando à transição e nem viram o post no ar. De qualquer forma, leiam – vale a pena.
Por outro lado, é inegável que o desejo por romance, por uma casamento perfeito e a obsessão por encontrar a pessoa certa pode tornar-se uma idolatria. E, na nossa sociedade, este tornou-se o objetivo maior de muita gente. É difícil, por exemplo, assistir um filme sem a presença de um interesse romântico como parte importante do roteiro. Como bons exemplos, temos a ênfase maior sobre o romance de Aragorn e Arwen na trilogia de filmes O Senhor dos Anéis em comparação com os livros originais ou o aumento de beijos que o personagem principal de Doctor Who dá em suas companheiras de aventura e inimigas com o passar dos anos.
Assim, me pergunto se o sucesso do texto sobre casamento não seria também um sintoma de uma sociedade que ama romance, é obcecada com amor e paixão, mas despreza o fruto óbvio e um dos principais objetivos de uma união marido-mulher. Não é verdade que hoje nas igrejas é socialmente aceitável (embora continue pecaminoso) tratar filhos como inconveniência , enquanto o casamento ainda é (felizmente) honrado como uma aspiração piedosa? Eu sei que a maioria dos leitores do ref21 são jovens e têm a idade como motivo para não pensar em filhos. Sei que outros já se reconhecem em algumas das 18 coisas porque têm seus namorados, noivos e cônjuges – mas não têm filhos para desejar boa noite, por exemplo. Porém, é (ou deveria ser) inevitável refletir sobre filhos ao se pensar em casamento. E, por isso, gostaria de desafiá-los a pensar mais sobre o assunto.
(É óbvio que existem casais impossibilitados de ter filhos – biologicamente e/ou por adoção. Não estou falando destes.)
A mesma palavra que diz: “Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula” (Hb 13.4) é aquela que vê os filhos como a maior bênção na vida de um casal: “Eis que os filhos são herança do Senhor, e o fruto do ventre o seu galardão” (Salmo 127.3). Sondemos, portanto, nossos corações.
Veja, eu concordo com tudo que o texto diz e desejo oferecer esses momentos à minha esposa. Porém, quantos de nós sonhamos com nossos filhos com tanto carinho quanto sonhamos com a proverbial “pessoa certa”? Em tudo isso, me pergunto se o mito da compatibilidade pregada por filmes, seriados e novelas não tornou-se uma ilusão para todos nós. Enquanto não imaginamos filhos que se adaptarão ao nosso estilo de vida, achamos que duas pessoas se amando é garantia de nenhum problema no futuro. A verdade é que um casamento pode ser tão difícil quanto a criação de um filho, e não há fórmula mágica para nenhum dos casos. Os dois exigem sabedoria, amor, mudança de hábitos e espírito de serviço.
Em segundo lugar, embora alguns pontos do texto possam ser praticados por crentes e incrédulos (como dar flores e viajar juntos), creio que Challies involuntariamente revela a triste realidade daqueles que se casam com pessoas não-regeneradas. Existem pontos naquelas 18 coisas que jamais serão desfrutados por um casal desigual. Em resumo, é provável que você jamais tenha o prazer de compartilhar o que é a vida cristã, a presença do Espírito, a amizade com Deus e a comunhão dos santos com seu cônjuge.[1] Por exemplo, a presença fiel nos cultos durante o Dia do Senhor é um privilégio que eu e minha esposa desfrutamos semanalmente. Iniciamos a semana renovando nossa aliança com o Senhor, o que, por consequência, fortalece a nossa.
No Salmo 73, Asafe diz: “Até que entrei no santuário de Deus; então entendi eu o fim deles” (v.17). Esta é sina daqueles que se unem ao réprobo. O ponto alto de sua semana, o encontro com o Senhor, ressalta a compreensão de qual é o fim dos ímpios. Ao mesmo tempo em que o Senhor renova as promessas de graça aos que beijam o Filho, ele nos lembra que em breve se inflamará sua ira. A morte separa todo marido e mulher. Mas, somente nesse caso, ela os separa para sempre. Não, não é nada romântico.
Eu nunca me arrependerei de lembrar jovens cristãos dessa triste verdade.
[1] Escrevi provável porque sei que o Senhor pode intervir e interveio na vida de muitos casais. Mais confiar nisso enquanto você salta do pináculo em direção a um casamento desigual esperando que os anjos agarrem você e seu cônjuge não seria tentar o Senhor teu Deus?