Antes e durante o meu tempo de preparação para o ministério, eu tinha um desejo ardente de pregar o Evangelho. Com isso quero dizer que tinha um desejo ardente de pregar o evangelho no contexto do povo de Deus reunido para adorar no Dia do Senhor. Como eu ainda não tinha o treinamento homilético e teológico adequado, a igreja da qual eu era membro na época sabiamente limitou minhas oportunidades de ensino a classes de Escola Dominical. Por muitos anos, ensinei uma classe de adultos, assim como classes de adolescentes e crianças. Infelizmente, na época, eu via essas oportunidades como relativamente desimportantes e não atentei para as bênçãos que vinham de ministrar para os mais velhos e para as crianças da igreja. Subestimar a importância do ministério com as crianças da igreja não é algo único de nosso tempo – na verdade, era algo muito comum nos tempos de Jesus. Em Marcos 10.13-16, lemos:
Então, lhe trouxeram algumas crianças para que as tocasse, mas os discípulos os repreendiam. Jesus, porém, vendo isto, indignou-se e disse-lhes: Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele. Então, tomando-as nos braços e impondo-lhes as mãos, as abençoava.
Em diversas ocasiões, o Senhor do Pacto precisou ensinar seu grupo de discípulos eleitos que as crianças tem lugar vital em Seu Reino. Longe de ser um fardo ou distração para o ministério “de verdade”, eles são alvos do ministro de Sua palavra e das bênçãos do pacto.
Nossa tendência é de menosprezar o chamado de trabalhar pessoalmente com as crianças da igreja porque, às vezes, é mais difícil manter a atenção deles, e quase sempre não há o prestígio e o reconhecimento dos homens, os quais nós pecaminosamente desejamos com frequência. Eric Alexander escreveu certa vez sobre a importância de trabalhar com os novos convertidos e as crianças:
Uma coisa é estar alegremente disposto a participar de reuniões ou assumir uma função pública proeminente na igreja de Deus; mas há um custo em tomar para debaixo de sua asa alguém que nasceu a pouco tempo – com toda a falta de jeito e fraqueza de uma criatura recém nascida. O ministério do homem ou da mulher na igreja de Deus que está pronto para receber o mais novo na fé e alimentá-lo e instruí-lo no crescimento e na maturidade é custoso, mas é precioso aos olhos do Senhor.
Alguns meses atrás, eu comecei a ensinar algumas crianças de 7 a 12 anos da minha igreja seguindo o Breve Catecismo de Westminster. Como já aconteceu antes, tenho sido lembrado das numerosas bênçãos que vem de ensinar às crianças da igreja as preciosas doutrinas da fé cristã. Aqui estão quatro bênçãos que pastores e membros podem receber ao trabalhar para levar as verdades profundas da Escritura aos ouvidos da próxima geração da igreja:
1. A bênção de relembrar as verdades centrais. Ao ensinarmos sobre a natureza da Escritura, Deus, criação, providência, queda, pecado, a pessoa e obra do Redentor, a obra do Espírito Santo, os benefícios da salvação, a igreja e a eternidade, nós mesmos somos lembrados do que é mais importante para nossa própria fé e vida. As verdades que devemos ensinar às crianças da igreja sãos as mesmas verdades que devem fazer morada em nossos corações e mentes. Essa é uma das grandes bênçãos de ensinar as crianças da igreja.
2. A bênção de desenvolver a habilidade de simplificar as verdades mais profundas. Outra das grandes bênçãos de ensinar doutrina para as crianças da igreja é que nós precisamos aprender a simplificar, sem diluir, a verdade. Muitas vezes nós subestimamos o que as crianças podem aprender e entender. Também nos esquecemos que é obra do Espírito Santo dar o entendimento espiritual que vêm com a fé salvífica. Entretanto, devemos aprender a comunicar as verdades profundas da Escritura às crianças da igreja de forma tal que eles serão capazes de compreender o que está sendo ensinado. Quanto mais nos esforçamos para simplificar a verdade para as crianças da igreja, mais hábeis nos tornamos em fazê-lo em outras situações. Eu descobri que quando estou ensinando crianças em um ambiente como a Escola Dominical, isso me faz mais consciente da necessidade de fazer o mesmo por elas quando estou no púlpito. O maior encorajamento que tenho recebido no ministério muitas vezes tem sido quando uma criança de 8 ou 9 anos vem me dizer que entendeu ou gostou de algo que eu disse no sermão.
3. A bênção de ver as crianças da igreja processarem a verdade de Deus. Algumas semanas atrás, eu estava ensinando sobre a queda de nossos primeiros pais a partir da pergunta 13 do Breve Catecismo de Westminster – especificamente sobre como Adão deveria ter protegido Eva espiritualmente, por que Satanás foi atrás de Eva primeiro, para atingir Adão e como ele tentou Eva a questionar a bondade de Deus – quando um dos meninos da classe diz “agora eu sei porque nós falamos ‘primeiro as damas!’”. Mais tarde, quando estávamos falando sobre como Deus deixou Adão e Eva “à liberdade da sua própria vontade” (e que se Ele tivesse nos deixado à liberdade de nossas vontades, na mesma situação, nós também teríamos pecado contra Ele), uma das garotas da classe disse “livre arbítrio é muito superestimado!”. Fora o valor cômico, essas respostas provam que as crianças estão processando o que estão ouvindo. Elas muitas vezes estão ouvindo com muito mais atenção e concentração o que está sendo ensinado na Escola Dominical do que imaginamos. Eu já vi, repetidas vezes, crianças da igreja buscando aplicar o que estão sendo ensinadas em seus contextos e em suas próprias vidas. Quando ensinamos a verdade bíblica às crianças da igreja, nos tornamos recipientes da bênção de testemunhar esse tipo de coisa.
4. A bênção de saber que você está plantando as sementes da verdade para a vida. Pela graça de Deus, às vezes podemos ver frutos logo cedo nas vidas das crianças as quais nos esforçamos para ensinar a palavra de Deus. Há alguns que manifestam corações maleáveis e crentes com poucos anos de vida. É recompensador ver Deus redimindo e amadurecendo espiritualmente uma criança cuja vida nós tivemos o privilégio pessoal de abençoar. Entretanto, a realidade é que algumas vezes – infelizmente, muitas vezes – não iremos ver o fruto que Deus fará frutificar nas vidas das crianças que ensinamos na igreja. De qualquer forma, disso podemos ter certeza: estamos plantando e regando sementes nos pequeninos. Às vezes imagino as crianças da igreja se desviando do Senhor por muitos anos – como foi o caso na minha vida. Tento então imaginar todas as verdades que foram ensinadas quando eles tinham 4 ou 5 anos, ou 9 e 10 anos, vindo à mente durante sua vida adulta – como também foi o caso na minha vida. Embora nenhum de nós queira ver as crianças da igreja abandonando a fé, a realidade é que muitas irão. Deus, em sua misericórdia, muitas vezes trouxe filhos errantes do pacto para si em arrependimento salvífico e fé por meio das verdades que lhes foram ensinadas quando eram ainda bem novos. Independente do resultado, podemos descansar sabendo que Deus nos chamou graciosamente para plantarmos e regarmos as sementes nas vidas das crianças.
Um dos ministérios mais importantes e recompensadores que podemos entrar é o de ministrar a verdade da palavra de Deus às crianças de uma igreja local. Deus confiou aos pastores e membros da igreja local o cuidado com os filhos dos crentes. É nosso dever e privilégio priorizar o ministério aos pequeninos. Ao nos comprometermos com o ensino das verdades centrais da palavra de Deus a eles, descobrimos que nos tornamos recipientes de bênçãos únicas. Que grande alegria é saber que nosso Deus e Pai nos enviou para cuidar e alimentar as crianças de Sua igreja. Que Ele nos dê a graça de fazê-lo com empenho e cuidado – pois deles é o Reino dos Céus.