A falha de marketing na história de Cristo

C Michael Patton
C Michael Patton

Eu me lembro das minhas aulas de marketing na faculdade. Bem, eu me lembro mais do professor do que das aulas. Ele nunca nos olhava nos olhos. Olhava sempre um pouco acima dos olhos… como na nossa testa. Mas isso não importa. No marketing, eu aprendi sobre mercados e produtos. Lembro-me do discurso “o mercado precisa”, “falta no mercado”, “colocação no mercado”, e, não esquecendo, “tolerância de mercado”. Na tolerância de mercado, nós avaliamos a cultura e percebemos se o mercado irá ou não suportar certo produto. Afinal de contas, você não quer colocar qualquer coisa lá fora que será completamente rejeitada pelas pessoas, exatamente a alguma mentalidade filosófica que não é capaz de entender ou absorver o produto por si mesmo. Por exemplo, eu avisaria veementemente acerca de não vender camisetas na América que dissessem ”Osama Bin Laden é o meu chapa”. Desculpe, ele não é/era o chapa de ninguém por aqui. O negócio seria um fracasso.

Vemos isso também na arena política, quando ideias são colocadas no mercado. Candidatos à presidência possuem equipes de pessoas que avaliam o mercado político, tentando descobrir o que são as questões do momento, juntamente com aquelas a se evitar. Torna-se frustrante quando a verdade vai sendo ofuscada pela “política”. Ideais são frequentemente sacrificados pelo voto. Se uma ideia não é boa o bastante para o público – se ela não tem o “apelo de mercado” – então é substituída por alguma coisa mais agradável.

Voltando dois mil anos. Muitas pessoas especulam que Paulo (e/ou outro cristão do primeiro século) inventou toda a história de Cristo. Não obstante, aqueles que se opõe a essa teoria certamente vêem que haveria uma inacreditável falha de marketing na história de um Messias crucificado e ressurreto. Logo abaixo, está uma carta da ANE Marketing ao apóstolo Paulo, enviada após ele procurá-los para fazer o marketing do cristianismo.

“Paulo,

Muito obrigada pelo seu contínuo interesse no marketing da ANE. Temos ouvido muito sobre você e esperamos estar aptos para fazermos negócios.

A respeito da sua proposta sobre o homem chamado “Jesus Cristo” (excelente sobrenome por sinal), vou começar dizendo isso: estamos muito interessados. No entanto, com a proposta nessa forma atual, não podemos justificar o avanço. Temos analistas de mercado que avaliaram essa proposta desde que a recebemos na semana passada e todos eles concordaram: que seria um desperdício do nosso tempo e, tão importante quanto, o seu também.

Deixe-me explicar.

Sua proposta anuncia a vinda do Messias. Esta parte está ótima. Até aí, tudo bem. De fato, é por isso que concordamos ansiosamente em aceitar sua proposta. Nós temos olheiros por todo Império cujo único trabalho é procurar quem esteja promovendo algum Messias. Em sua própria comunidade judaica, as expectativas (e, sinceramente, a necessidade) por um Messias não poderiam ser maiores. Das dez campanhas do Messias que aconteceram nos últimos cem anos, nossa companhia se envolveu em quatro. Seus Profetas e seus escritos criaram um mercado que não apenas o apóia como uma figura, mas espera que ele venha a qualquer momento. Então, o tempo é propício para a campanha do Messias.

Entretanto, por mais maleável que esse “Mercado do Messias” seja esses dias, ele simplesmente não pode sustentar o que você está propondo. Não apenas esse Jesus Cristo foi rejeitado e morto sem sequer levantar uma espada, ele foi pendurado em uma cruz! Um Messias crucificado? O mercado judaico espera alguém que vai libertar sua nação da opressão. Não obstante, seu Messias foi oprimido e abandonado até mesmo por seus seguidores mais próximos. Como você espera que promovamos no mercado um Messias judeu que foi amaldiçoado por Deus? Você se esqueceu das suas próprias escrituras? “qualquer que for pendurado num madeiro está debaixo da maldição de Deus” (Deuteronômio 21.23). Agora, se o evento não tivesse se tornado tão público, talvez até era possível dar um jeito. Mas essas coisas não passaram despercebidas por ninguém.

Tanto que, quando revisamos sua proposta, de tão confusos que estávamos, começamos a achar que você pudesse ter outro ângulo. Talvez você não estivesse tentando apelar àqueles da sua própria nação, mas para nós, gregos. Entretanto, as análises de mercado aqui podem ser até piores do que são para seu próprio povo. Seguramente, nós podemos tolerar a parte da crucificação, mas o que é essa ressurreição “do corpo”? Em sua proposta você diz que Cristo foi, e eu cito suas próprias palavras, “sepultado e ressuscitou no terceiro dia”.

Paulo, eu não sei o quanto você sabe sobre a cultura grega, mas a ressurreição do corpo é apenas a ultima coisa que qualquer um de nós quer. Ter um homem heróico e divino é uma coisa, mas ter seu corpo de volta a vida é outra coisa. Veja bem (e não estou dizendo que necessariamente concordo com isso, Paulo), gregos acham que o corpo (e toda a existência física de qualquer tipo) é essencialmente ruim. O espírito é bom e o corpo é mau. Introdução à Filosofia. Nossa maior esperança é escapar da existência física. Dizer que o corpo de Jesus Cristo ressuscitou dentre os mortos está além do que a nossa capacidade de gregos pode tolerar. Isso não vai colar. De fato, você talvez atraia alguns protestos.

Em suma, nossa proposta não tem um apelo de mercado, tolerância ou sustentabilidade nem para o judeu nem para o grego. Isso seria um pesadelo para os nossos investidores e, francamente, eu poderia perder meu emprego. Siga meu conselho (a menos que você queira perder seu emprego – e terminar morto!): mude sua história. Eu não sei se você está inventando isso ou não (esse não é o meu trabalho); entretanto, se você está inventando isso, essa versão da historia de Cristo é um fracasso de marketing. Se for verdade, ótimo. Nós continuamos a não querer ter nada a ver com isso. Mas se for falsa, essa é a história mais idiota que você poderia inventar. Desculpe-me, eu só estou tentando ser direta e sincera com você, meu amigo. Eu estou nesse negócio há muito tempo (mesmo).

Aguardando ansiosa para ver uma proposta atualizada,

Decima Romanus

ANE Marketing”.

Traduzido por Marianna Brandão | iPródigo.com | Original aqui