A igreja precisa de mais tatuagens

O Senador republicano dos Estados Unidos Rand Paul costuma dizer a seus ouvintes: “Os eventos do Partido Republicano precisam de mais pessoas com tatuagens”. Me dei conta, ao ouvi-lo dizer isso, de que isso é mais ou menos o que cristãos evangélicos deveriam estar dizendo sobre suas igrejas. Me marcou ainda mais quando li um tributo de Spencer Harmon, um ex-aluno meu, sobre sua esposa e seu passado, dizendo que essa é precisamente a questão a ser respondida pela próxima geração da Noiva de Cristo, a igreja.

O que o Senador Paul quis dizer, me parece, é que seu partido, caso deseje ter um futuro, não deveria apenas contar com a repetição de tudo aquilo que sempre fez, e não pode depender apenas das pessoas que aparentam ser o que as pessoas pensam que os republicanos deveriam aparentar. O partido precisa alcançar as pessoas cujas fotos atualmente não aparecem na busca por imagens do Google quando alguém digita “republicano”. Há pessoas, diz Paul, que concordam com a mensagem republicana, na teoria, mas não se importam com ela porque assumem que não são o tipo de gente com quem o partido quer se associar.

Paul não está sozinho nisso. Sua colega de partido, Lindsey Graham, que discorda veementemente de Paul na questão da política internacional e em outras, recentemente afirmou: “Não estão sendo feitos homens brancos e rabugentos o suficiente para esse partido ter um futuro”, e que a saída seria buscar uma nova identidade.

Meu interesse não é o Partido Republicano, ou as versões de Paul ou de Graham dele e suas ideias para revigorar um movimento político, ou mesmo se suas críticas da situação política corrente é acurada. Ao invés disso, o retrato descrito por Paul me lembrou de um fardo que eu tenho para a igreja de Jesus Cristo de, como Jesus coloca, “buscar e salvar o perdido”.

Eu não gosto de tatuagens, e não conseguiria enfatizar isso o suficiente (especialmente se você é um dos meus filhos lendo isso no futuro). Mas se o Espírito começar a se mover com velocidade no mundo atual, nossas igrejas verão cada vez mais pessoas tatuadas em nossos bancos e em nossos púlpitos.

Veja, o que eu não quero dizer com isso é que nós precisamos de mais cristãos tatuando cruzes, versículos, salmos em hebraico, o Credo Apostólico ou a “oração do pecados” em seus braços ou pescoços. Isso não é um sinal de reavivamento do evangelho; é, no máximo, estilo pessoal e, no mínimo, mais marketing em uma igreja evangélica já saturada disso.

Tatuagens já não significam o que outrora significavam. Elas não representam, necessariamente, nem de longe, o tipo de aparência “durona” que costumava representar. Recentemente conversei com um amigo que comentou que, ao ir a um clube, praticamente todos os presentes na piscina eram tatuados. Mas e se as tatuagens, em alguns casos, de fato significam um passado sombrio? É mais disso que eu quero ver.

Eu vi isso pela primeira vez não em uma igreja urbana “relevante”, mas na igreja mais caricata, tradicional, sulista, cantadora de hinos e sisuda que você puder imaginar.

Quando criança, me lembro de ver um homem sentado à minha frente, com seu braço apoiado no encosto do banco da igreja. O braço estava coberto com uma grande tatuagem de uma mulher que estava, bem, digamos apenas que ela não se encaixaria no que pode ser considerado um padrão bíblico de vestimenta modesta. Eu não conseguia acreditar que estava vendo aquilo, então cutuquei minha avó e apontei, como se dissesse “dá pra acreditar nisso?”.

Minha avó sussurrou “Sim, querido. Ele ainda não conhece o Senhor, e teve uma vida difícil. Mas sua esposa tem tentado trazê-lo à igreja por um bom tempo, e todos nós temos orado por ele. Ele não está tentando ser agressivo com ninguém. Ele só não conhece Jesus ainda”.

Eu nunca vou me esquecer daquele “ainda”.

Com apenas essa palavra, ela colocou diante de mim a possibilidade de que esse ex-militar durão com a tatuagem da mulher desnuda poderia um dia ser meu irmão em Cristo. E, depois de um tempo, ele passou a ser. Suponho que, com o passar do tempo, esse novo cristão começou a ver que sua tatuagem poderia ser uma pedra de tropeço em potencial, porque eu comecei a vê-la cada vez menos, conforme ele começou a usar camisas de manga comprida na igreja.

Cirurgia para remoção de tatuagens não era uma tecnologia acessível então, mas, se tivesse que chutar, diria que esse homem começou a ver sua tatuagem como o emblema de uma velha vida já deixada para trás. Ele não precisou (necessariamente) de um pastor tatuado, mas precisou de uma igreja que não via sua tatuagem como sinal de uma vida já perdida, ou de alguém rebelde demais para ser amado com o chamado ao arrependimento e fé.

Eu penso nele muitas vezes quando vejo pessoas na cafeteria local ou andando pelas ruas com suas tatuagens. Algumas das figuras são de caveiras banhadas de sangue. Algumas são slogans de uma busca hedonista por prazer. Algumas são ameaçadoras, demonstrando sua agressividade. Algumas são pagãs, ou menos ocultistas. Sou culpado de raramente pensar em primeiro lugar baseado na sabedoria bíblica da minha avó.

Nem todos com tatuagens são descrentes ou viveram uma vida dura, é claro. Mas o argumento geral se mantém: quantas pessoas não ouvem nossa mensagem do evangelho porque assumem que não aparentam ser o tipo de pessoa que seguiria Jesus?

E, embaraçosamente, quantas vezes nós não filtramos a pregação do evangelho apenas para as pessoas que, após o batismo, poderiam posar para a capa do encarte da Escola Bíblica Dominical? Quantas vezes não assumimos que as boas novas de Cristo são uma mensagem como uma campanha política ou de vendas, projetadas para alcançar apenas um certo tipo de consumidor?

Os evangelhos nos mostram consistentemente que a pregação de Jesus atraiu aqueles que tinham passados nebulosos, que haviam tomado decisões erradas ou enfrentado situações horríveis que poderiam ter arruinado suas vidas para sempre: prostitutas, cobradores de impostos, leprosos rejeitados, endemoninhados, etc. Isso ocorria, ele nos diz, porque o Espírito edifica o reino não com os nobres e os poderosos, mas com os fracos, os tolos, os miseráveis (Lucas 14.21-23; 1 Coríntios 1.26-29).

Se realmente iremos levar o evangelho a todo o mundo, isso significa irão escutar pessoas cujos corpos carregam mensagens contrárias à Palavra de Deus. Assim como eram nossos corações e mentes.

Aquela jovem com a tatuagem Wicca ou o senhor com a tatuagem nos Hell’s Angels, podem pensar, ao se sentirem atraídos pelo evangelho, “como eu posso entrar com esse lembrete visível do meu passado?”. Essa questão é a mesma que todos nós nos fizemos, não importa o quão “respeitáveis” aparentássemos ser quando viemos a Cristo: “Quão profundas são as manchas que ninguém pode ver? O que seria capaz de limpá-las?”

Jesus irá edificar sua igreja apesar de nós. Mas se queremos ser fiéis a ele, precisamos compartilhar da mesma missão. Isso significa que não falaremos apenas sobre os perdidos, falaremos com eles. E não falaremos como se fôssemos gurus iluminados de auto-ajuda, prometendo um futuro melhor, mas como pecadores crucificados com Cristo a quem foi oferecido um novo nascimento.

Se o Espírito começar a soprar sobre nós com poder, veremos igrejas cheias de pessoas que nunca se encaixariam no estereótipo de “Cristão”. Veremos que as marcas na carne, seja lá quais forem, não valem de nada, mas o que vale é a nova criação (Gálatas 6.15).

Não estamos aqui para chamarmos os justos, mas os pecadores ao arrependimento. Não estamos aqui para chamar apenas que aparentam o que os Cristãos deveriam aparentar, mas o mundo inteiro. Se a igreja é movida pelo evangelho, então, às vezes, o Corpo de Cristo será tatuado.