A mãe de todas as virtudes

Mollie Ziegler
Mollie Ziegler

Em aparição no programa de Conan O’Brien no ano passado, o comediante Louis C. K. lamentou sobre o quanto as pessoas se frustram quando seus celulares ou vôos falham ou se atrasam. “Tudo está ótimo agora e ninguém está feliz”, ele disse. Quando as pessoas reclamam que seus vôos atrasam 20 minutos para decolar ou que tiveram que esperar na sala de embarque por 40 minutos, ele faz mais algumas perguntas.

“Ah é? E o que aconteceu em seguida? Você incrivelmente levantou vôo sozinho, como um pássaro? Você fez parte do milagre do vôo humano?”

Essa aparição fez sucesso – com mais de um milhão de visualizações no YouTube, e contando – porque é verdade: seja a nossa impaciência com a tecnologia ou, provavelmente, com a família e os amigos, nossas reclamações refletem o quanto nós somos ingratos.

Nós sabemos que Deus nos deu nossos corpos e almas, a razão e os sentidos, os bens materiais e os relacionamentos. Mesmo assim, com todas as riquezas que Deus nos provê diariamente, muitos de nós lutamos para ser gratos.

Isso não só é pecado como não é saudável. Estudos mostram que pessoas agradecidas são mais felizes e satisfeitas com suas vidas e seus relacionamentos sociais. Perdoam e apóiam mais que aqueles que são ingratos. São menos depressivos, estressados, invejosos e ansiosos. De fato, altos níveis de gratidão explicam mais sobre o bem estar psicológico do que outros 30 tratos da personalidade mais estudados, de acordo com dois estudos recentemente publicados na revista científica Personality and Individual Differences (Personalidade e Diferenças Individuais).

O filósofo romano Cícero estava no caminho certo quando disse que “A gratidão não é somente a maior das virtudes, como é a mãe de todas as outras”. É também o fundamento da personalidade cristã. Paulo pede que os tessalonicenses “dêem graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus.” (1 Tessalonicenses 5.18).

Isso pode ser um desafio, em meio à crise econômica e preocupação com a política. Mas pense um pouco no pastor alemão Martin Rinckart, ministro em Eilenburg, uma cidade que se tornou refúgio para fugitivos militares e políticos durante a Guerra dos Trinta Anos. A situação de Eilenburg já era ruim antes que a Peste Negra chegasse em 1637. Um pastor fugiu. Rinckart enterrou outros dois em um mesmo dia. Sendo o único pastor que sobrou, realizou até 50 cultos fúnebres por dia e quase 4480 em um ano.

Apesar disso, Rinckart é mais conhecido por escrever, no meio da guerra, um grande hino que proclama:

Agora agradeçamos nós ao nosso Deus

Com nossos corações, mãos e vozes.

Aquele que tão maravilhosas coisas fez,

Nas quais esse mundo regozija.

Aquele que, ainda nos braços de nossas mães,

Nos abençoou em nosso caminho,

Com incontáveis dons de amor,

E ainda hoje é nosso.

Quantos de nós poderiam focar nas bênçãos de Deus com tantas mortes e dificuldades ao nosso redor? Talvez o problema seja termos nós mesmos em alta conta. Margaret Visser estudou as diferenças culturais no ato de agradecer, ao preparar o livro The Gift of Thanks: The Roots and Rituals of Gratitude (O Dom do Agradecimento: As Raízes e os Rituais da Gratidão). Os japonoses costumam aceitar presentes dizendo “me desculpe”. O contexto, explica Visser, é “estou consciente da minha dívida com você. Eu não sou capaz de quitá-la”.

Há uma lição nessa expressão. No Evangelho de Lucas, o fariseu conhecido como Simão oferece um jantar para Jesus. Uma mulher pecadora, de má fama, aparece, se aproxima de Jesus, lava os pés dele com suas lágrimas e o cobre de perfume. Quando Simão reclama, Jesus conta a história de dois devedores. Um tinha uma dívida pequena, e ou outro, uma grande dívida. Nenhum dos dois era capaz de pagá-las, então o credor perdoa as duas dívidas. A lição é: quanto maior o perdão, maior a gratidão.

Temos problema para sermos gratos porque deixamos de compreender nossa pecaminosidade e nossa dívida. Será que não é por isso que reclamamos de cada pequeno deslize de nossos parentes e amigos?

A verdade é que temos muitas coisas para sermos gratos, como família, casa, trabalho, diversão, comida, e tudo mais que faz parte de nossa vida diária. Mas o Deus que provê essas coisas nos deu um presente ainda maior: ele próprio.

Deus se revela a nós, nos dá sua Palavra, nos dá a fé e o Espírito Santo, ouve nossas orações e perdoa nossos pecados. Assim, alegre-se e receba os presentes de Deus ao confessar a sua bondade. Ou, como o salmista fala, “Dêem graças ao Senhor porque ele é bom; o seu amor dura para sempre.”

Traduzido por Filipe Schulz | iPródigo.com | Original aqui