Hoje quero concluir a breve série que intitulei “A Santidade de Deus e a Existência do Inferno”. Ela refere-se ao que acontece quando o Santo Deus entra em contato com o pecado. Até aqui, temos visto que Deus pode reagir ao pecado com ira justa e Ele pode reagir com paciente misericórdia. Agora quero olhar para o lugar onde a ira e a misericórdia de Deus se encontram – a cruz de Cristo.
A cruz de Jesus Cristo diz respeito à santidade de Deus. Pode parecer estranho que um lugar de sangue, sofrimento e tormento diga respeito à santidade, mas a cruz responde esta questão: Como um santo Deus pode reconciliar-se com pessoas impuras? Essa questão demanda esta outra: como o relacionamento entre um santo Deus e pessoas impuras pode ser restaurado sem algum ato grosseiro de injustiça?
Na cruz vemos o quanto Deus valoriza Sua santidade. Vemos que Deus não violará sua própria santidade mesmo que seja para salvar aqueles a quem Ele ama. Aqui na cruz vemos ira e misericórdia encontrando-se. Vemos ambas em sua gloriosa plenitude – a exposição final da ira de Deus e a exposição final da misericórdia de Deus.
Quando olhamos para a cruz, vemos Jesus Cristo pagando a justa sentença de um pecador. Ali na cruz. Jesus experimenta a morte física, então seu coração para de bater e seu corpo começa a decair. Ele também encara a morte espiritual, a destruição espiritual. Ele é punido encarando a fúria da ira de Deus. Ele é punido conscientemente pelo pecado cometido em consciente rebelião contra Deus. Ele encara a eterna extensão da ira pelos pecados contra um Ser eterno. Ali na cruz Ele encara a justiça e o tormento do inferno.
Então onde está a misericórdia da cruz? Tudo o que vemos aqui é Cristo experimentando toda a ira, e não misericórdia. Como posso dizer que ira e misericórdia se encontram aqui?
Deixe-me explicar. Cristo nunca pecou, então, por que um homem sem pecado sofreria a ira de Deus? Porque Ele entrou naquele tribunal, ficou entre o juiz e a pessoa culpada e disse “eu pagarei a sentença dela”. Ele tomou o pecado de outras pessoas sobre si mesmo. Ele tomou sobre si uma dimensão tão grande de pecado que Ele se fez pecado. Ele se tornou vil e detestável aos olhos de Deus – a coisa mais vil e detestável que poderia existir – e Deus derramou a extensão de Sua ira sobre Ele. Ele derramou Sua ira sobre Cristo até que essa ira fosse absorvida e, até que cada pedaço da justiça fosse satisfeito.
Cristo pagou a sentença completa da justa ira que eu merecia. Essa é a misericórdia da cruz, o inculpável pagando a sentença do pecador. Agora vemos que Deus tem um propósito em sua misericórdia, há um propósito em sua paciência. 2 Pedro 3.9-10 diz isso tão bem: “O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Ao contrário, ele é paciente com vocês não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento.” Deus não deseja que ninguém pereça, então Ele dá tempo para se arrepender.
E agora vemos porque Deus tem sido paciente em misericórdia. Deus foi paciente a fim de que a obra de Cristo pudesse ser realizada e então nós poderíamos, por meio da fé, nos tornarmos receptores dessa obra e então recebermos completo perdão e completa exoneração.
Deus pagou minha sentença para que eu pudesse experimentar mais do que a paciente, mas temporária, misericórdia. Nós vimos que misericórdia é expressa na paciência – na ira adiada – mas agora vemos que a misericórdia pode também ser expressa por meio da graça, da ira substituída, ira transferida a outra pessoa.
Não é de admirar, portanto, que, por toda a eternidade, nossas mentes e nossos corações estarão fixos neste Salvador, Jesus Cristo. Em Apocalipse 15.3-4, temos um vislumbre do grande dia que está por vir, no qual uma grande multidão canta diante do Senhor, regozijando-se no Deus que é misericordioso e Deus que é justo.
Grandes e maravilhosas são as tuas obras,
Senhor Deus todo-poderoso.
Justos e verdadeiros são os teus caminhos,
Ó Rei das nações.
Quem não te temerá, ó Senhor?
Quem não glorificará o teu nome?
Pois tu somente és santo.
Todas as nações virão à tua presença e te adorarão,
Pois os teus atos de justiça se tornaram manifestos
As obras de Deus são grandes e maravilhosas. Deus é justo, verdade e os atos retos de Deus culminam na cruz onde Cristo satisfaz as demandas da justiça de Deus. Esta é a maravilha da cruz, que ali vemos a medida completa da ira e a medida completa da misericórdia, ao mesmo tempo, no mesmo lugar, e tudo por causa do mesmo Salvador. Na cruz, vemos o encontro da ira e da misericórdia.
Um capítulo depois em Apocalipse, vemos um dos anjos louvando a Deus e novamente exaltando a justiça de Deus.
“Tu és justo, tu, o Santo, que és e que eras,
Porque julgaste estas coisas;
Pois eles derramaram o sangue dos teus santos e dos teus profetas,
E tu lhes deste sangue para beber,
Como eles merecem”.
E ouvi o altar responder:
“Sim, Senhor Deus todo-poderoso,
verdadeiros e justos são os teus juízos”.
Deus é digno de louvor por sua paciente misericórdia. Deus é digno de louvor por sua ira justa.
Cristão, a história de Deus com você é uma história de misericórdia, paciência e amor. Você vê a paciência de Deus com você? Você pode se lembrar dos dias antes de você ser salvo somente pela graça, somente pela fé e somente em Cristo, e se lembrar dos pecados que você cometeu, pecados que justamente te colocam sobre a ira de Deus, pecados que te envergonham agora, e você pode ver que Ele foi paciente, não desejando que você perecesse, mas esperando que você se arrependesse. Ele não lhe devia essa misericórdia de paciência, mas ainda assim ele a estendeu a você e você se arrependeu, recebeu perdão pelo pecado e a punição desse pecado foi totalmente paga por Jesus Cristo. Louve a Deus por essa paciente misericórdia!
O descrente também tem experimentado a paciente misericórdia de Deus. Ele a está experimentando exatamente agora. Como eu sei? Porque ele ainda está vivo; porque Deus ainda não agiu em julgamento final para com ele. O que acontecerá quando a misericórdia de Deus chegar ao fim e tudo o que sobrar for julgamento e ira? Aqui está o nosso chamado para evangelismo, para levar as boas novas do evangelho da graça às pessoas que, dia após dia, continuam a aventurar-se na misericórdia de Deus. Deus não deseja que ninguém pereça e encare sua completa justiça de ira.
Começamos essa série perguntando: “O inferno existe? É um lugar de sofrimento eterno e consciente?”. Perguntar se o inferno existe ou não é perguntar se Deus é realmente santo, se Ele será verdadeiramente santo à face do pecado. Descobrimos que Deus será santo, o que significa que Ele será justo, o que significa que Ele irá punir o pecado, o que significa que há inferno, o qual é um lugar da Sua ira. Ele deve ser.
Nas narrativas do Velho Testamento, vemos amostras e mais amostras da paciente misericórdia de Deus e amostras ocasionais de Sua ira justa. Mas na cruz, vemos ambas em sua completude. Nós vemos céu e inferno – o céu da misericórdia e o inferno da ira, o céu da integridade e o inferno da iniquidade, o céu da graciosa substituição de Cristo e o inferno de encarar a justiça sem um advogado, sem um substituto.
Se não há inferno, não há necessidade de uma cruz. A cruz nos mostra a profundidade do nosso pecado e a altura da santidade de Deus, a pureza da ira de Deus e a grandeza da misericórdia de Deus. A cruz nos assegura que o inferno existe. A cruz exige que olhemos para Aquele pendurado lá e coloquemos toda a nossa fé, toda a nossa esperança e toda a nossa confiança nele.