“Agora, pois, ó SENHOR, livra-nos das suas mãos, para que todos os reinos da terra saibam que só tu és o SENHOR Deus” (2 Reis 19.19).
A oração é um dos melhores termômetros espirituais. Cristãos espiritualmente saudáveis oram. A oração é capaz de revelar mais de nosso relacionamento com Deus do que muitas outras coisas, até mesmo aquilo que sabemos ou fazemos. Por mais redundante que pareça, é uma boa oração orar pela nossa vida de oração. A saúde da nossa alma depende disso. Jesus conquistou o privilégio da oração para nós. Através dele temos acesso ao trono da graça. Não é maravilhoso saber que os filhos de Deus podem conversar com seu Pai a qualquer momento e em qualquer lugar?
Há muitos aspectos importantes na oração. O tempo e aquilo que pedimos são dois deles. Não desejamos filhos que só conversam conosco quando estão em apuros, mas que nos procurem sempre (aspecto “tempo”). Também não seria agradável ter filhos que nos pedissem permissão para usar drogas, abandonar o colégio ou pegar um empréstimo enorme no banco (aspecto “pedido”). O mesmo acontece na oração. Desejamos agradar nosso Pai orando sem cessar (1 Tessalonicenses 5.17) e não pedindo mal (Tiago 4.3). Mas existe uma questão que muitas vezes negligenciamos: a motivação. Podemos investir tempo em oração e fazer bons pedidos, mas o que está por trás de nossos pedidos? Qual é nossa intenção quando pedimos algo a Deus?
Dentro desse tema, uma oração de Ezequias pode nos ajudar a moldar nossa motivação. O Espírito que “nos assiste em nossa fraqueza” e “intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis” registrou uma oração muito útil para nos ajudar a “orar como convém” (Rm 8.26).
Ezequias reinou em Judá durante 29 anos, de 715 a.C. a 686 a.C. Ezequias era, assim como cada um de nós, pecador. Não viveu uma vida perfeita, mas foi um dos melhores reis que Judá teve em toda a História. Ele “fez o que era reto diante do SENHOR”, “confiou no SENHOR”, “se apegou ao SENHOR, não deixou de segui-lo e guardou os mandamentos” (2 Re 19.3,5,6). Ezequias tinha intimidade com Deus e, como vemos nos trechos registrados de sua vida, Ezequias foi um homem de oração.
A situação à sua volta era perturbadora. A Assíria, conhecida por sua extrema crueldade com os povos inimigos, estava em franca expansão territorial. Samaria, capital de Israel, já havia sucumbido. Senaqueribe, rei da Assíria, envia então mensageiros ao rei de Judá para ameaçá-lo:
Assim falareis a Ezequias: “Não te engane o teu Deus, em quem confias, dizendo: Jerusalém não será entregue nas mãos do rei da Assíria. Já tens ouvido o que fizeram os reis da Assíria a todas as terras, como as destruíram totalmente; e crês tu que te livrarias?”
Assim que recebe a carta, Ezequias vai à casa do SENHOR, e depois de exaltar e clamar ao seu Deus, orou:
Verdade é, SENHOR, que os reis da Assíria assolaram todas as nações e suas terras e lançaram no fogo os deuses deles, porque deuses não eram, senão obra de mãos de homens, madeira e pedra; por isso, os destruíram. Agora, pois, ó SENHOR, nosso Deus, livra-nos das suas mãos, para que todos os reinos da terra saibam que só tu és o SENHOR Deus (2 Reis 19.17-19).
Qual foi a motivação de Ezequias ao pedir que o Senhor livre Judá das mãos do inimigo? Não foi ter seu nome escrito no Livro dos Reis de Judá por derrotar um grande império, ser poupado da humilhação do cativeiro ou continuar vivendo uma vida confortável na casa do rei em Jerusalém. Não. Ezequias pediu para Deus os livrar “para que todos os reinos da terra saibam que só tu és o SENHOR Deus” (v.19b).
Ezequias sabia o que estava em jogo. Não era apenas o nome dele ou a vida de seus compatriotas. Havia algo de valor infinitamente maior em questão: o nome de Deus, a glória de Deus. O rei não ora apenas a Deus, mas também para Deus. Uma vez que devemos comer, beber e fazer tudo para a glória de Deus (1 Co 10.31), nossas orações também devem ter como motivação a glória dele. Essa é uma oração confiante, pois sabemos que Deus não abre mão de sua glória: “Por amor de mim mesmo, por amor de mim mesmo, eu faço isso. Como posso permitir que eu mesmo seja difamado? Não darei minha glória a nenhum outro” (Isaías 48.11).
Não foi assim também que Jesus nos ensinou a orar? “Santificado seja o teu nome” (Mateus 6.9). “Senhor, manifesta tua santidade através de nós”. Não é essa a maior necessidade do mundo: saber que só o Senhor é Deus? Vivemos em um mundo carente de Deus. Um mundo insatisfeito, mas que não sabe qual é o seu problema. Um mundo que precisa saber que só o Senhor é Deus e colocar sua fé apenas nele através de Seu Filho.
Sabemos que o Senhor atendeu ao pedido do rei Ezequias. “O zelo do Senhor fará isto (…). Porque eu defenderei esta cidade, para a livrar, por amor de mim e por amor de meu servo Davi” (vv.31b, 34). Por sua própria glória e pela aliança que havia feito com Davi, Deus agiria. Judá foi libertada da ameça estrangeira. Deus enviou o Anjo do SENHOR e salvou seu povo. Através de uma oração centrada em Deus, o rei de Judá foi preservado. E 700 anos depois, a partir da linhagem real de Davi e Ezequias, nasceria outro rei em Israel. Um rei que sempre existiu e que sempre reinou. O Rei que sempre orou e fez tudo para a glória de Deus.
Devemos nos perguntar: Qual tem sido nossa motivação ao orar? Qual é o desejo profundo do nosso coração ao pedirmos algo a Deus? Que não seja apenas por conforto pessoal, para nos livrar de uma possível frustração ou por algo para nos admirarem depois. Certamente não é errado orar por nossas vidas e necessidades. Mas que lugar Deus ocupa nesses pedidos? Oremos não apenas ao Senhor, mas também para o Senhor. Para que o nome de Deus seja manifestado através de nós, para que sua majestade seja vista, para que todos (…) saibam que só tu és o SENHOR Deus.
Nas intercessões por conversão, que Deus seja glorificado ao resgatar pecadores pela sua graça. Nos pedidos de cura, que seja para a glória do poder de Deus somente. Nas orações pelos relacionamentos feridos, que a glória restauradora de Deus fique mais visível através do amor. Nos clamores por santificação pessoal, que seja para que vejam nossas boas obras e glorifiquem a nosso Pai que está nos céus. E que a manifestação de quem Deus é permeie todos os nossos pedidos. “Posto que as nossas maldades testificam contra nós, ó Senhor, age por amor do teu nome” (Jeremias 14.7a).
Que Deus nos dê, através do seu Espírito, a motivação correta, um coração que ora pela “iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo” (2 Co 4.6). É disso que todos nós mais precisamos.