A mutilação da concubina e o Evangelho

Por Jared Wilson

Juízes 19.22-30 é um dos textos mais terríveis de toda Bíblia. Uma pesquisa no Google mostra que ele é usado por muitos dos detratores da fé como exemplo do horror e da implausibilidade da Bíblia. E passagem realmente revela algo horrível.

Se você não está familiarizado com ele, dedique um minuto para lê-lo.

Quando estavam entretidos, alguns vadios da cidade cercaram a casa. Esmurrando a porta, gritaram para o homem idoso, dono da casa: “Traga para fora o homem que entrou na sua casa para que tenhamos relações com ele! ”

O dono da casa saiu e lhes disse: “Não sejam tão perversos, meus amigos. Já que esse homem é meu hóspede, não cometam essa loucura.

Vejam, aqui está minha filha virgem e a concubina do meu hóspede. Eu as trarei para vocês, e vocês poderão usá-las e fazer com elas o que quiserem. Mas, nada façam com esse homem, não cometam tal loucura! ”

Mas os homens não quiseram ouvi-lo. Então o levita mandou a sua concubina para fora, e eles a violentaram e abusaram dela a noite toda. Ao alvorecer a deixaram.

Ao romper do dia a mulher voltou para a casa onde o seu senhor estava hospedado, caiu junto à porta e ali ficou até o dia clarear.

Quando o seu senhor se levantou de manhã, abriu a porta da casa e saiu para prosseguir viagem, lá estava a sua concubina, caída à entrada da casa, com as mãos na soleira da porta.

Ele lhe disse: “Levante-se, vamos! ” Não houve resposta. Então o homem a pôs em seu jumento e foi para casa.

Quando chegou em casa, apanhou uma faca e cortou o corpo da sua concubina em doze partes, e as enviou a todas as regiões de Israel.

Todos os que viram isso disseram: “Nunca se viu nem se fez uma coisa dessas desde o dia em que os israelitas saíram do Egito. Pensem! Reflitam! Digam o que se deve fazer! “

Repugnante, não?

O que fazemos com algo assim?

A primeira coisa que precisamos dizer é que a Bíblia contém muitas passagens que são descritivas, e isso não as torna prescritivas. Ao contrário do que muitos dos oponentes online da autoridade bíblica gostariam que pensássemos, não há aprovação de Deus na bárbara barganha do homem de Gibeá ou no subsequente estupro, assassinato e mutilação da concubina. O Levita entrega sua própria filha virgem e sua concubina em algum tipo de troca por autoproteção. E o desmembramento da concubina e envio de seu corpo por Israel causa a reação que deveria causar: note que a reação das pessoas é de choque. “Nunca se viu nem se fez uma coisa dessas desde o dia em que os israelitas saíram do Egito”, disseram.

Uma moça da minha igreja me perguntou como uma pessoa não-salva poderia ler essa passagem na Bíblia; eles talvez pensem que a Bíblia, de alguma forma, está sendo complacente com esse ato. Mas devemos mostrar a eles o contrário. Ele é, na verdade, uma consequência de todos fazerem o que era certo aos seus olhos (Jz 17.6, 21.25), uma consequência de não haver rei sobre Israel (19.1). Juízes 19.22-30 mostra que a Bíblia é honesta e realista sobre a depravação do homem quando este é deixado aos seus próprios desejos. Neste sentido, não se coloca uma maquiagem no que os homens são capazes de fazer. E, enbora enojados pelas imagens, também devemos aprovar a honestidade brutal da Bíblia.

Mas, há um brilho do Evangelho subentendido nesse texto também. Quando não havia rei em Israel, um homem trai suas mulheres, uma mulher é abandonada e entregue para que o inimigo faça o que quiser com ela. E então, ela é feita de exemplo, de uma maneira mortal, para as doze tribos.

Porém, quando Jesus é Rei sobre Israel, ele protege sua noiva; ele não a entrega para que o inimigo faça o que quiser com ela. E ele mesmo deixa a casa e oferece seu próprio corpo, substituindo sua noiva para ser dilacerado pelas doze tribos de Israel. Ao invés de nos entregar em algum tipo de barganha cruel, ele mesmo se entrega. E seu corpo agredido é o sinal para seu povo de que ele não os trairá.

Traduzido por Josaías Jr | iPródigo | Original aqui