A promessa é para vocês e para os seus filhos

O aspecto realmente notável do mandamento de Deus a Abraão não foi o mandamento de ser circuncidado, mas o mandamento de também circuncidar seus filhos. A circuncisão era uma prática bastante difundida entre outros povos no Antigo Oriente. Entretanto, em outras religiões, normalmente era um ritual de purificação associado com a puberdade, não algo feito na infância. Ainda assim, quando Deus escolheu Abraão, ele não escolheu apenas ele; ele escolheu também seus filhos. Deus não é apenas o Deus de Abraão, mas também o Deus de Isaque e Jacó. É por isso que Abraão deveria circuncidar seus filhos: eles precisavam saber que não eram livres para escolher seus próprios deuses. Eles deveriam receber o sinal da aliança para mostrá-los que eram parte do povo da aliança. Eles pertenciam ao único Deus verdadeiro, e eles deveriam submeter-se a ele em um relacionamento pactual.

A circuncisão os salvava? Absolutamente não. Ismael foi circuncidado no mesmo dia que Abraão (Gn 17.26), mas ele não mostrou evidência de um coração renovado pela graça. Embora ele levasse o sinal da aliança, em última análise, não era parte do povo pactual de Deus. Quando ele cresceu, ele viveu contra (literalmente, “em face ao”) povo da aliança de Deus (16.12), não em amizade com eles. Como Gênesis 17.19-20 deixa claro, embora a bênção de Deus estivesse sobre Ismael e seus descendentes, sua aliança era com Isaque e seus descendentes. Da mesma forma, a circuncisão guiava os filhos de Israel ao único Deus da aliança que podia salvá-los. Se eles confiassem nele, como seu pai Abraão, eles encontrariam refúgio nele. Se eles recusassem esse Deus e se rebelassem contra ele, a própria circuncisão testificaria contra eles. Eles também seriam cortados da presença de Deus, assim como Ismael foi.

Circuncisão e Batismo

Esse é o contexto bíblico para batizarmos criancinhas pois, como Pedro declarou no dia de Pentecostes, o dom prometido do Espírito Santo salvador é para nossos filhos, assim como para nós (Atos 2.39). O batismo salvará seus filhos? Não. Mas, o batismo os conduz, como conduz todos nós, a Jesus Cristo, cujo sangue purificador é simbolizado pela água. O batismo aponta para a necessidade de mudança que somente pode vir de fora, pois o batismo, como a circuncisão, só pode ser aplicado a você por outra pessoa. O batismo também aponta para o fato de que eles são parte do povo da aliança de Deus. Eles não são livres para escolher os deuses que lhe agradarem; eles devem se render ao único Deus verdadeiro ou encarar as consequências de uma separação eterna dele no inferno.

No batismo, nós pedimos ao único que pode salvar a nós e nossos filhos que aja em suas vidas.

Porém, o batismo é mais do que isso. O batismo é um ato de fé nas promessas de Deus. Se o batismo é seu testemunho de que você escolheu Deus, então é claro que não faz sentido batizar crianças. Elas não têm ideia do que está acontecendo com elas, não mais que Isaque entendia por que estava sendo circuncidado. Mas se o batismo é a promessa de Deus de que, por meio de Cristo, ele está disposto e é capaz de aceitar seu filho, então é um precioso lembrete da graça e da misericórdia de Deus por você e seus filhos. Ao circuncidar seus filhos, Abraão sabia que o ritual não era suficiente: eles também precisavam confiar em Deus pela fé, assim como ele fez. Então, da mesma forma, quando batizamos nossos filhos, declaramos a eles que a fé em Cristo também lhes é necessária. No batismo, nós declaramos a Deus em oração a declaração de Pedro no dia de Pentecostes, e pedimos ao único que pode salvar a nós e nossos filhos que ajam em suas vidas.

Pense sobre isso: qual o fundamento da sua esperança de que seu filho receba o Espírito Santo e cresça para tornar-se cristão? Talvez, você diga: “Bem, estou tentando fazer tudo certo. Eu o mando para a igreja; eu leio a Bíblia com ela; eu tento ser exemplo de vida cristã”.Eu espero que você faça todas essas coisas; elas são uma grande bênção. Mas, você não percebe? A única coisa que você pode fazer por conta própria pelos seus filhos é torná-los religiosos. Somente Deus pode dar a seus filhos o coração de que eles precisam. “Bem, é claro que ele fará isso”, você diz. Mas não há “é claro” nisso. Por natureza, a única coisa que podemos passar aos nossos filhos é uma natureza pecaminosa e um exemplo falho.

A Fidelidade de Deus

Entretanto, nosso Deus revelou-se como um Deus da aliança que relaciona-se fielmente conosco como famílias, não apenas indivíduos. É isso que proclamamos alegremente ao mundo quando batizamos nossos pequenos: que eles também podem buscar nosso Deus em arrependimento e fé, e receber o Espírito Santo prometido. Nós estamos reconhecendo, como pais e filhos, que não podemos salvá-los – mas também que Deus pode e irá, se eles o buscarem em arrependimento e fé, porque ele é um Deus que guarda a aliança e que não muda. A promessa de Deus permanece certa porque repousa em seu caráter, e não no nosso.

Ainda assim, podemos ser batizados exteriormente e deixar de viver o tipo de relacionamento de submissão e confiança que nosso batismo nos ensina. Observe Abraão. No começo do capítulo 17, ele se prostra em reverência e fé, respondendo corretamente à promessa divina de um relacionamento pactual. Alguns versos depois, contudo, nós o vemos caindo de novo, desta vez em dúvida, rindo incredulamente. Em vez de confiar na Palavra de Deus que declarava que Sara teria um filho que seria o filho da promessa, ele pergunta se o escolhido não poderia ser Ismael. Faltou-lhe fé, e ele tentou ensinar a Deus como ele deveria administrar seu reino.

Conosco geralmente acontece o mesmo. Seu batismo aponta para a purificação que Cristo providenciou para você, mas você ainda está atormentado pela culpa de seus pecados, incapaz de crer que o sangue de Cristo realmente pagou por todos eles. Como Abraão, você se encontra duvidando se Deus realmente pode fazer o impossível e perdoar alguém como você. Seu batismo declara que, em Cristo, você é uma nova criatura, mas você continua a viver como se seus pecados ainda possuíssem domínio. Você se prostra em adoração aos seus ídolos em vez de se prostrar em submissão a Deus. Seu batismo aponta para o Espírito Santo, que foi derramado em seu coração, mas você vive uma vida sem oração, como se sua força fosse suficiente. Que bagunça nós somos, reconhecendo o relacionamento com o Senhor soberano estabelecido em nosso batismo, mas vivendo como se Deus não fosse realmente parte de nossas vidas.

Cristo foi batizado com o batismo da ira de Deus para que pudéssemos receber o batismo para remissão de pecados.

É por isso que é tão crucial compreendermos que o relacionamento pactual de Deus fundamenta-se em sua fidelidade, não na nossa. Não foi a submissão fiel de Abraão que mereceu um relacionamento com Deus: foi a livre graça de Deus. Assim, também não é a minha promessa de seguir Jesus que traz segurança, mas sua promessa de nunca abandonar-me. É por isso que Jesus precisou ser circuncidado e batizado por nós. Ele fielmente cumpriu o chamado de obediência pactual, submetendo cada aspectod e sua vida a Deus, mesmo quando era o mais doloroso. Não houve área de sua vida que ele negou ao Pai. Nele, o simbolismo da circuncisão e do batismo torna-se uma realidade terrível, com o Pai literalmente o cortando pelos nossos pecados. Ele foi batizado com o batismo da ira de Deus contra o pecado para que pudéssemos receber as doces promessas do batismo para remissão de pecados. Aquele que verdadeiramente viveu inculpável diante do Senhor foi tratado como se fosse um rebelde traiçoeiro e um inimigo jurado do reino de Deus para que você e eu, que somos rebeldes, pudéssemos receber misericórdia.

Aqui está a fonte de sua esperança, o glorioso evangelho que nos chama a prostrar-se hoje e adorar nosso glorioso e fiel Deus. Em quem você pode confiar em meio as difíceis circunstâncias desse mundo em constante mudança? Em quem você pode confiar com sua vida? A quem você pode confiar seus filhos? Em quem você pode confiar com seu pecado e a contínua incapacidade de andar de modo inculpável? Em quem você pode confiar quando você se prostrar diariamente em adoração a outros deuses? A respostas a todas essas perguntas é “nosso Deus da aliança”.Venha até ele e entregue sua vida a ele em um relacionamento que durará para sempre. Receba o sinal que acompanha a promessa. E deleite-se na fidelidade de Deus que garante o cumprimento da promessa apesar de sua fraqueza e transgressão.