Ela era uma mulher bem vestida de meia-idade. Chegou um pouco mais cedo em um dos meus primeiros cultos como pastor sênior da Igreja Gages Lake Bible. Imediatamente meu radar de “pessoa nova” apitou. Todos os pastores têm esse sexto sentido, mas para os pastores jovens de pequenas igrejas em primeira viagem os níveis de alerta estão sempre no máximo.
Andei até ela e conversei brevemente antes do culto começar. Descobri que ela dirigiu uma grande distância e ouviu alguns de meus sermões online antes de decidir nos visitar.
Depois do culto, propositadamente escolhi a nova mulher (vamos chamá-la de Rose). Rose estava transbordando de elogios. “uau! Eu não ouvia uma pregação como essa há muito tempo. Você é um sopro de ar fresco nessa comunidade.” Respondi com uma fala de pregador, “Não, tudo foi Deus”.
Mas, dentro de mim, meu coração estava dançando. A bajulação de Rose parecia um tranquilizante para minha alma inquieta. Pastorear era algo novo pra mim, e eu estava bem inseguro quanto à minha pregação. Ainda tinha que encontrar a minha voz. Aqui estava uma crente experiente cuja opinião importava para mim. Ela provavelmente frequentava a igreja mais tempo do que eu estava vivo.
A bajulação continuou. “Vocês são a única igreja dessa área que pregam a verdadeira mensagem do evangelho”. Eu tinha certeza de que isso não era tudo verdade, mas deixei passar. Por que estragar uma coisa boa? Talvez todos os outros pastores evangélicos na cidade adotaram totalmente a heterodoxia. Eu ainda tinha que desenvolver relacionamentos com outros pastores locais, então sua avaliação parecia tão boa quanto outras.
Ingenuamente, minha esposa e eu recebemos Rose e sua família. Rapidamente os colocamos em posições-chave do voluntariado. Eu fui para essa igreja em um momento de declínio, então a energia de pessoas como Rose poderia dar início a um renascimento.
Ou assim eu pensava.
Rachaduras à mostra
Num primeiro momento, Rose parecia ser alguém que iria se comprometer com a nossa igreja a longo prazo. Ela reuniu um estudo bíblico de apologética nas noites de quarta-feira e recrutou pessoas da comunidade para juntarem-se a nós. Rose ofereceu tempo em alguns projetos importantes e até alistou o seu marido, um descrente, para um projeto de remodelação.
Minha esposa e eu aprendemos a amar a Rose e sua família. Nós frequentemente os recebemos em nossa casa ou saíamos para almoçar. Parecia que estávamos crescendo juntos.
Mas logo as rachaduras na amizade começaram a aparecer e aquelas palavras de bajulação que tanto extasiaram a minha alma quando Rose entrou pela primeira vez na Gages Lakes iriam voltar para me perseguir.
E eu aprendi uma poderosa lição no ministério pastoral. Bajulação, especialmente a variedade pastoral, é um assassino de ministério (Provérbios 26.28).
Armando a rede
Eu sempre entendi a bajulação como um pecado pequeno. Claro, eu tinha lido os alertas bíblicos contra a bajulação, mas parecia bastante inofensivo, talvez nada mais sinistro do que alguns elogios exagerados.
Porém, minha experiência com Rose e outros confirmou que a bajulação, quando direcionada a um líder, pode ser uma armadilha. Provérbios 29.5 diz que uma pessoa que lisonjeia seu vizinho “arma-lhe uma rede em seus passos”. Enquanto uma afirmação merecida é sempre direcionada para outra pessoa, bajulação é em última análise direcionada para si mesmo. As Escrituras atribui a isso motivos egoístas (1 Tessalonicenses 2.5)
Bajulação é uma armadilha escondida para pastores, especialmente homens novos na liderança. Pressionados a crescer e cercados pelas nossas próprias inseguranças, permitimos que a bajulação molde a forma como fazemos o ministério.
Por um lado, a bajulação pode alimentar um desejo natural e humano de competir com os outros ministérios na cidade. Fazemos isso de forma sutil. Algumas pessoas lançam certas palavras hiperbólicas e de repente começamos a pensar que talvez preguemos mais biblicamente ou com mais relevância do que outras congregações evangélicas na cidade. Esquecemos que nosso corpo de crentes é apenas uma expressão do corpo de Cristo em nossa comunidade.
Por um momento podemos construir seguidores leais com base em nosso estilo e na nossa abordagem aparentemente única às Escrituras. Mas, mais tarde, a mesma bajulação que leva as pessoas a nós começa a afastá-las.
Isso aconteceu, depois de um tempo, com a Rose. Sua avaliação hipercrítica de todas as outras igrejas foi, no fim, aplicada a nós. Se eu tivesse prestado mais atenção em sua história instável de frequência a igrejas, teria percebido que Rose teve problemas para se estabelecer em uma congregação por um longo período de tempo. E, com certeza, quando Rose saiu de nossa igreja, as razões para ela sair lembravam as críticas que expressou sobre as outras congregações evangélicas da cidade.
Rose e eu continuamos amigos até hoje, e desejo-lhe bem. Ela é uma mulher realizada que sabe muita coisa das Escrituras. Eu odiei perdê-la, especialmente quando os seus dons eram tão benéficos para a nossa congregação. Mas até ela mudar a sua abordagem para a igreja, nunca seria o tipo de compromisso, o membro de longo prazo que poderia servir como um líder em nosso ministério.
Combatendo a bajulação
Então, o que um pastor deve fazer com a bajulação?
Primeiro, temos de isolar a bajulação. Desde Rose, outros visitaram com histórias similares. Eles frequentaram várias congregações diferentes, mas nenhuma delas boas o bastante quanto a nossa. Porque somos um pouco mais tradicionais que outros, geralmente ouvimos algo semelhante a isso: Nenhuma igreja prega mais o evangelho. Todo sermão está enfraquecido. Vocês são um oásis em um deserto árido evangélico.
Eu aprendi a medir minha resposta e fazer algumas perguntas. Tento discernir onde eles frequentaram antes. Se o nome de uma igreja evangélica vizinha surge, sempre elogio o pastor e o ministério. Desde a minha experiência com a Rose, tive a oportunidade de desenvolver relacionamentos com a maioria dos pastores evangélicos da nossa área. É seguro dizer que nem todos concordam sobre a metodologia ou eclesiologia, mas se eles estão pregando Cristo, sinto a responsabilidade de apoiá-los publicamente.
Segundo, devemos ser cautelosos sobre construir a nossa igreja com descontentes. Algumas semanas atrás, tive a visita de um homem se gabava dos seus envolvimentos em várias igrejas da área dizendo. “Sim, eu sei onde todos os corpos são enterrados nessa região.” Eu sorri, depois falei da minha admiração pelos pastores que ele estava prestes a criticar. Também fiz uma nota mental e sussurrei uma oração silenciosa ao Senhor. Não me deixe ser o próximo corpo dele.
Agora alguns importantes avisos. Existem muitas vezes boas razões para deixar uma igreja para outra. Alguns sentem Deus os chamando para ajudar a liderar um trabalho menor e mais necessitado. Outros deixam por divergências teológicas legítimas. E existem casos que, muitas vezes, difíceis situações pessoais que exigem uma mudança de cenário. Entretanto, em todo caso, sempre os encorajo a deixar qualquer descontentamento com as suas outras igrejas para trás. E tipicamente permito que a nossa relação se desenvolva antes de considerá-los para qualquer posição de liderança.
Terceiro, devemos pregar muitas vezes sobre a abordagem adequada à igreja. A abordagem consumidora aflige cristãos de todas as persuasões, do conservador ao progressista, do Reformado ao evangélico de um modo geral. É nossa incumbência diariamente relembrar nossas pessoas que até mesmo as melhores igrejas vão nos desapontar. Nenhuma igreja vai satisfazer todas as nossas preferências. Nosso propósito em unir-se é glorificar Cristo e servir os outros.
Bajulação sempre vai ser uma parte da condição humana, mas com o discernimento das Escrituras, podemos sobriamente evitar sua rede traiçoeira.