Carta de apoio ao Reverendo Augustus Nicodemus

Rev. Augustus Nicodemus Lopes

Há algum tempo, o Rev. Augustus Nicodemus divulgou no site da Universidade Presbiteriana Mackenzie um manifesto contra a PLC-122, a chamada “lei da homofobia”. Entretanto, o texto foi retirado ontem do ar devido à grande confusão que foi causada por grupos e alunos da instituição pró-PLC-122. Não é necessário detalhar exatamente como ocorreu todo o problema, mas se você ainda não leu sobre o assunto, veja aqui (a carta do Reverendo Augustus está no fim do post também).

O que pretendemos neste texto é formalmente apoiar a Reverendo Augustus, não fazer uma exposição bíblica e apologética contra a homossexualidade. Partimos do mesmo pressuposto que o Chanceler da Universidade Presbiterana Mackenzie. (Se quiser ver uma defesa brm elaborada da visão bíblica de casamento e relacionamento sexual diante do PLC-122 entre aqui). Com isso em mente, afirmamos que não é possível que, em um país que ostenta de forma tão clara a liberdade de pensamento em sua Carta Magna, sofrermos, como cristãos, cortes abruptos em nossa manifestação de pensamento.

Essa censura não vem apenas de uma possível aprovação da lei, mas também da própria mídia. Muitos veículos, longe de apresentarem os diferentes lados da questão, divulgam suas notícias de maneira parcial. Por exemplo, um blog da Folha de Pernambuco divulgou a matéria com o título “Universidade em São Paulo quer ter o direito de ser homofóbica”.

O que vemos aqui é uma tentativa de demonizar qualquer um que se levante contra a agenda das organizações e movimentos que se declaram representantes dos direitos dos homossexuais. Sutilmente, coloca-se o texto de um pastor e acadêmico na mesma categoria de grupos movidos pelo ódio, que espancam e matam aqueles que não se aplicam a seus padrões. Há uma diferença, mas não há desejo de mostrá-la. Devemos tomar cuidado com a expressão homofóbico e homofobia, recusando-nos a entrar em um debate se esse termo não for bem definido, sob o risco de aceitarmos padrões que não são nossos.

Porém, sabemos que Deus torna o que era intentado para o mal em bem (Gn 50.20; Rm 8.28). E talvez o que se tentou fazer (silenciando o Dr. Nicodemus) foi causar uma movimentação ainda maior. Sim, não está mais no site do Mackenzie a carta dele, mas será que nós, cristãos reformados, ficaremos parados diante desta censura legalizada? Sabemos que seremos perseguidos, mas Jesus disse que esse seria um dos sinais de seus verdadeiros seguidores. O problema é que muitas vezes queremos mais o conforto de nosso dinheiro e do elogio dos homens.

Uma coisa é certa: sempre que o cristão se posicionar fielmente a sua fé, ele será ridicularizado. Por isso, saudamos o Rev. Nicodemus que não se calou e não teve temor ao homem. Nos alegramos com alguém que está refletindo os preceitos cristãos, contra uma sociedade secularizada.

O que vemos aqui é um modelo para ficarmos firmes, e firmes numa sociedade “mole”. Vivemos em um mundo onde a fluidez da sexualidade é considerada tão boa quanto uma troca de veículo – quando este não serve, passo para outra opção. Será que queremos nos render a esse pensamento? Será que o relativismo moral já ganhou as batalhas na nossa mente? Queremos juntamente com o Rev. Augustus ter o direito de dizer o que a Bíblia diz. Não queremos nos render ao tempo presente, ao discurso pós-moderno que, dizendo-se tolerante, não tolera aqueles que não aceitam sua excessiva permissividade.

É preciso deixar bem claro que nós não nos consideramos melhores do que os homossexuais. De fato acreditamos que não existe distinção, tanto judeus, quanto gentios, quanto homens e mulheres estão naturalmente debaixo de condenação: “não há distinção, pois todos pecaram estão destituídos da glória de Deus”. Também cremos que se Deus nos revelou que ele é santo e justo, e isto significa que ele abomina ações e atitudes que vão contra sua santidade. Mais uma vez: homossexualismo é um pecado aos olhos de Deus, mas isso não nos leva a odiar pessoas. Odiamos o pecado.

Nossa constituição nos garante o direito de expressão, mas mesmo que não fosse nosso direito, se fossemos censurados pela sociedade, permaneceríamos de pé, com a Bíblia na mão, anunciando “TODO bom conselho de Deus” – sem deixar nenhum de seus ensinamentos e mandamentos de fora. “Pregando em hora e fora de hora”.

Abaixo o evangelicalismo interesseiro e apático, que está mais preocupado em eleger políticos para defenderem os interesses de um suposto grupo evangélico e não em defender o Evangelho puro e simples do Senhor. Não colocamos nossas esperanças em transformações políticas, pois nossa esperança está em um mover do Senhor Jesus. Sabemos que, se Ele quiser, a suposta “lei da homofobia” será aprovada e seremos perseguidos, mas podemos ganhar muito mais com isso.

Nosso consolo é saber que jamais ganharemos mais quando vencermos na esfera política. Muitas vezes, na história do Cristianismo, Deus usou a perseguição para que a Palavra fosse semeada com profundidade e amor verdadeiros. Por isso, nós do iPródigo convocamos todos a unirem sua vozes simbolicamente e declarar que Deus é santo, sua Palavra é inerrante e que não concordamos com nada que é contra esta Palavra e o caráter deste Deus. E isso inclui a falta de liberdade – mesmo que ela venha do governo.

Em Cristo,

Equipe iPródigo.

Carta do Rev. Augustus

Manifesto Presbiteriano sobre a Lei da Homofobia
Leitura: salmo 1
O Salmo 1, juntamente com outras passagens da Bíblia, mostra que a ética da tradição judaico-cristã distingue entre comportamentos aceitáveis e não aceitáveis para o cristão. A nossa cultura está mais e mais permeada pelo relativismo moral e cada vez mais distante de referenciais que mostram o certo e o errado. Todavia, os cristãos se guiam pelos referenciais morais da Bíblia e não pelas mudanças de valores que ocorrem em todas as culturas.
Uma das questões que tem chamado a atenção do povo brasileiro é o projeto de lei em tramitação na Câmara que pretende tornar crime manifestações contrárias à homossexualidade. A Igreja Presbiteriana do Brasil, a Associada Vitalícia do Mackenzie, pronunciou-se recentemente sobre esse assunto. O pronunciamento afirma por um lado o respeito devido a todas as pessoas, independentemente de suas escolhas sexuais; por outro, afirma o direito da livre expressão, garantido pela Constituição, direito esse que será tolhido caso a chamada lei da homofobia seja aprovada.
A Universidade Presbiteriana Mackenzie, sendo de natureza confessional, cristã e reformada, guia-se em sua ética pelos valores presbiterianos. O manifesto presbiteriano sobre a homofobia, reproduzido abaixo, serve de orientação à comunidade acadêmica, quanto ao que pensa a Associada Vitalícia sobre esse assunto:
“Quanto à chamada LEI DA HOMOFOBIA, que parte do princípio que toda manifestação contrária ao homossexualismo é homofóbica, e que caracteriza como crime todas essas manifestações, a Igreja Presbiteriana do Brasil repudia a caracterização da expressão do ensino bíblico sobre o homossexualismo como sendo homofobia, ao mesmo tempo em que repudia qualquer forma de violência contra o ser humano criado à imagem de Deus, o que inclui homossexuais e quaisquer outros cidadãos.
Visto que: (1) a promulgação da nossa Carta Magna em 1988 já previa direitos e garantias individuais para todos os cidadãos brasileiros; (2) as medidas legais que surgiram visando beneficiar homossexuais, como o reconhecimento da sua união estável, a adoção por homossexuais, o direito patrimonial e a previsão de benefícios por parte do INSS foram tomadas buscando resolver casos concretos sem, contudo, observar o interesse público, o bem comum e a legislação pátria vigente; (3) a liberdade religiosa assegura a todo cidadão brasileiro a exposição de sua fé sem a interferência do Estado, sendo a este vedada a interferência nas formas de culto, na subvenção de quaisquer cultos e ainda na própria opção pela inexistência de fé e culto; (4) a liberdade de expressão, como direito individual e coletivo, corrobora com a mãe das liberdades, a liberdade de consciência, mantendo o Estado eqüidistante das manifestações cúlticas em todas as culturas e expressões religiosas do nosso País; (5) as Escrituras Sagradas, sobre as quais a Igreja Presbiteriana do Brasil firma suas crenças e práticas, ensinam que Deus criou a humanidade com uma diferenciação sexual (homem e mulher) e com propósitos heterossexuais específicos que envolvem o casamento, a unidade sexual e a procriação; e que Jesus Cristo ratificou esse entendimento ao dizer, “desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher” (Marcos 10.6); e que os apóstolos de Cristo entendiam que a prática homossexual era pecaminosa e contrária aos planos originais de Deus (Romanos 1.24-27; 1Coríntios 6:9-11).
A Igreja Presbiteriana do Brasil MANIFESTA-SE contra a aprovação da chamada lei da homofobia, por entender que ensinar e pregar contra a prática do homossexualismo não é homofobia, por entender que uma lei dessa natureza maximiza direitos a um determinado grupo de cidadãos, ao mesmo tempo em que minimiza, atrofia e falece direitos e princípios já determinados principalmente pela Carta Magna e pela Declaração Universal de Direitos Humanos; e por entender que tal lei interfere diretamente na liberdade e na missão das igrejas de todas orientações de falarem, pregarem e ensinarem sobre a conduta e o comportamento ético de todos, inclusive dos homossexuais.
Portanto, a Igreja Presbiteriana do Brasil reafirma seu direito de expressar-se, em público e em privado, sobre todo e qualquer comportamento humano, no cumprimento de sua missão de anunciar o Evangelho, conclamando a todos ao arrependimento e à fé em Jesus Cristo”.
Rev. Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes

Chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie