Cristãos de gerações anteriores eram bem mais preocupados com o mundanismo que tipicamente somos. Muitos evangélicos nem mesmo parecem estar cientes de que o mundanismo ainda é um pecado.
Parece ter acontecido uma mudança radical em menos de 30 anos. Tenho imagens vívidas dos dois semestres que passei em um purgatório fundamentalista em meados da década de 70. Mundanismo era um dos pecados mais mencionados pelos palestrantes da capela na faculdade batista em que eu estava matriculado.
Da maneira que eles descreviam, mundanismo era basicamente o pecado de ser muito legal. Uma conhecida minha – uma mulher de meia idade fora de moda – certa vez me censurou como mundano por eu usar lentes de contato. Ela estava certa de que meus motivos para usá-las eram provocados somente por vaidade carnal. Ela insistiu que eu optasse por um óculos bifocal com lentes grossas. “Eu gosto do jeito que Deus te fez”, ela protestou.
“Ele não me fez de óculos”, lembrei.
“Você sabe o que eu quero dizer”, disse, balançando sua mão, como se fosse algo óbvio.
Claro. Faz todo sentido.
Nossos amigos amish vão mais alem. Sua estratégia para evitar o mundanismo envolve fugir de todas as conveniências modernas. O mesmo tipo de pensamento culmina em formas austeras de monasticismo, onde pobreza, celibato e solidão ascética são vistas como meios certos de evitar influências mundanas.
A verdade é que você pode viver uma vida totalmente reclusa ou ser tão fora de moda quanto “Oh! Susanna” e ainda ser mundano.
Isso não nega que o mundanismo surge como uma ameaça particular para aqueles que estão obcecados em estarem na moda. Não há dúvida de que a fixação em ser legal e estar na moda tornou mundano o próprio movimento evangélico.
Mundano simplesmente significa “pertencente a essa terra”. De um lado, Hebreus 9.1 fala de um “santuário terrestre” – isto é, um santuário terreno e material, contrastado com o “Verdadeiro tabernáculo” – o templo celestial, “que o Senhor erigiu, não o homem” (8.2). Então, alguma coisa pode ser “mundana” (como o Tabernáculo) sem ser pecaminosa.
Por outro lado, Tito 2.12 fala de “paixões mundanas”, significando paixões que são postas em coisas terrenas e temporais. Amor por coisas terrenas é inconsistente com o verdadeiro amor por Deus, porque as paixões que dirigem as filosofias e sistemas de valor deste mundo são todas caracterizadas por orgulho e luxúria pecaminosa (1 João 2.15-17).
O pecado do “mundanismo” é a tendência de colocar as afeições em coisas da Terra, ao invés de coisas celestiais (cf. Colossenses 3.2). “Amizade com o mundo é inimizade com Deus” (Tiago 4.4). É positivamente pecaminosos amar esse mundo presente e reter seus valores mais que amamos o céu e organizamos nossas vidas de acordo com valores celestiais (cf. Fp 1.23; Rm 8.5,6; Mt 6.19-21, 16.23).
Em outras palavras, mundanismo é um pecado do coração.
Assim, mundanismo não é necessariamente sobre filmes, estilos musicais, as últimas tendências ou outros tabus fundamentalistas típicos. Essas coisas certamente podem ser mundanas e obviamente têm uma tendência a provocar o mundanismo pecaminoso na medida em que elas naturalmente apelam a nossas paixões e nos tentam a nos tornar obcecados com coisas terrenas.
Mas há um tipo ainda pior de mundanismo que esse. Religião – mesmo a religião conservadora, doutrinariamente sã – pode ser mundana também.
Pense sobre isso: se uma pessoa importa-se menos com o céu e com os valores celestiais que com um “santuário mundano” – seja isso uma catedral ornamentada, uma megaigreja com um quiosque da Starbucks na recepção ou uma igreja mal instruída em que segurar cobras é o entretenimento – essa pessoa é mundana e vive em desobediência a Deus.
De fato, conheço alguns fundamentalistas extremos que são os piores tipos de mundanos, porque pensam que santidade consiste somente em coisas externas e culturais, e eles não têm cultivado um amor genuíno em seus corações por aquilo que é espiritual.
Portanto, não dá para descobrir se você é mundano simplesmente observando como está seu visual ou que tipo de estilo de vida você tem. Se você quer reconhecer o verdadeiro mundanismo, você tem de avaliar seus desejos e paixões. O que você realmente ama? Uma vez que o mundanismo é inerente ao velho homem, quando você examina seu coração honestamente, é virtualmente certo que você descobrirá um grau de mundanismo ali.
As instruções bíblicas para lidar com mundanismo são surpreendentemente simples:
“Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade”. (Efésios 4.22-24)
Traduzido por Josaías Jr | iPródigo