Aparece toda hora. A resposta é sempre a mesma, como crianças na Escola Dominical que respondem “Jesus” para todas as perguntas. E nós concordamos balançando a cabeça como professores da Escola Dominical preocupados com a autoestima da criança ou receosos de desestimularmos, mesmo sabendo que a resposta é inadequada.
Estou de férias, e recentemente recebi mais um e-mail me exortando por não concluir um post com “o evangelho”.
Não importa qual seja o assunto. Homens e mulheres lutando para salvar seus casamentos? “O evangelho”. Alguém lutando para conseguir emprego nessa crise econômica? “Creia no ‘evangelho’”. O mecânico “arrumou” seu carro (novamente) e cobrou (novamente) pelo mesmo problema do mês passado? Pense “no evangelho”. A alta corte russa sentenciando uma banda de punk rock a dois anos de prisão por um protesto em frente a uma catedral Ortodoxa Russa? “Elas precisam do evangelho”. Quer um abdômen definido? Tente exercícios “evangelísticos”. Eu chutei o pé da mesa com o dedo mindinho? Todos juntos agora: “o evangelho”.
Está em todo lugar. E tem se tornado uma lei inflexível. Nós não nos atrevemos a enfrentar qualquer questão sem apontar para a carta na manga do “evangelho”. Se o fizermos, certamente haverá alguém para nos multar por nossa violação verbal, para insistir que perdemos “uma oportunidade para o evangelho”. Será que os cristãos são incapazes de ter um diálogo inteligente sobre qualquer questão ou enfrentar qualquer problema na vida sem usar a frase “o evangelho” ou apontar pessoas para “o evangelho”? Ou será que nosso entendimento da vida e do ministério de Jesus é tão raso que não aprendemos ainda a naturalmente guiar uma conversa qualquer para uma discussão legítima sobre a obra de redenção do Senhor em nosso favor?
É claro, eu não estou cansado de ouvir o evangelho de fato. Que sejamos todos determinados em não saber qualquer coisa senão Jesus Cristo, e este crucificado. Mas também aprendamos que o apóstolo ensinou muitas coisas sobre Jesus Cristo, sua crucificação e ressurreição sem ficar atirando uma série de referências clichês ao “evangelho”. Ele meditou na mensagem da redenção de Deus através de Seu filho e a expandiu em vários argumentos e afirmações. Mas não é isso que tem sido usado nas situações atuais de necessidade. Nós não temos refletido de forma profunda sobre a pessoa de Cristo – seus ofícios, sua natureza e sua obra. Não temos dado explicações da renovação de todas as coisas em Cristo como base para esperança e alegria independente das circunstâncias. Não temos tido muitas conversas que exploram a dinâmica do arrependimento e fé quando somos tentado a explodir e apelar com o mecânico do carro. Muitos cristãos preguiçosamente nos dizem que precisamos “do evangelho” da mesma forma que crianças pequenas respondem qualquer pergunta espiritual com “Jesus”.
Por mais blasfemo que isso soe, “o evangelho” não é a resposta para todas as questões. Não é o suficiente. O que, sobre Jesus, eu preciso saber quando estou temeroso antes de receber o resultado dos exames. Certamente há algo que eu estou deixando passar, mas “o evangelho” não me diz o que é. O que é dito por Jesus sobre desemprego quando enviei o 132º currículo sem obter resposta? A quais promessas específicas eu deveria me ater para perseverar em uma vida sem renda em uma economia capitalista? Me ajude me comunicando a mensagem. Me enterre até o nariz em textos da Escritura, se for possível. Meu cônjuge de 50 anos acabou de morrer? Será que não é possível me falar algo sobre a ressurreição – a de Jesus e a nossa – e a adoção que toda a criação aguarda para ser cumprida? Será que é possível não reduzir todo o escopo e o alcance da obra de redenção de Cristo aos meros fatos do evangelho, mas juntamente com esses fatos falar um pouco sobre o quão boas são essas novas? Eu sei que eu preciso de Jesus. Eu sei que as notícias são boas. Eu preciso de lembretes que especificamente me dizem o porquê. É isso que semeia, enraíza e faz crescer uma fé duradoura. É assim que nós realmente chegamos a conhecer Jesus de forma mais pessoal – ao descobrir como ele é nas dificuldades das nossas vidas.
Eu me pergunto se as notas de conclusão se referindo a “o evangelho” não afeta nosso entendimento, nossa reflexão e o aproveitamento das incríveis realidades alcançadas para nós por meio do Filho de Deus. Será que não estamos inoculando as pessoas ao evangelho com nossas referências frequentes mas rasas ao “o evangelho”?