Eu deveria começar um movimento para mudar minha igreja?

Kevin DeYoung
Kevin DeYoung

Em uma conferência recente, nós três que estávamos no painel (todos pastores) nos deparamos com uma questão: “Sendo leigo, eu deveria começar um movimento para mudar minha igreja?”. Todos nós respondemos basicamente “não”. Depois da conferência, recebi um longo e acalorado e-mail de alguém que estava muito desapontado com a minha resposta. Ele achou que eu era culpado de clericalismo e que não dava espaço para os leigos saberem alguma coisa, fazerem alguma coisa ou até mesmo questionarem o pastor. Isso, certamente, não foi o que eu disse e nem mesmo, até onde eu saiba, o que a maioria das pessoas pensaram que eu estava querendo dizer. Mas as preocupações dele me deixaram pensando. A questão inicial sobre formar um movimento de base para mudar a igreja local já ocupou minha mente de uma forma ou de outra muitas vezes nos últimos cinco anos. Então, talvez seja útil expor minha resposta de forma mais detalhada.

A situação

Aqui está o tipo de situação que presenciei várias vezes. Foi isso que assumi estar por trás da questão nessa conferência recente.

Você está numa igreja que não compartilha da mesma teologia que você ou parece estar caminhando na direção errada. Naturalmente, você está preocupado e deseja fazer algo em relação a isso. Você está triste por ver sua igreja mudar para pior ou triste por ver sua igreja ser menos do que ela deveria ser. Você pensa sobre o que pode fazer para ajudar a colocar as coisas no lugar.

Essa situação geralmente surge por uma das seguintes razões. Recentemente, você chegou por si próprio a um melhor entendimento teológico e agora vê as deficiências de seu pastor e da sua igreja, algo que não enxergava antes, ou então recentemente sua igreja trouxe um pastor novo e ele está conduzindo as coisas por um rumo teológico diferente. Há, obviamente, variações desses cenários. Talvez você tenha sido levado para uma igreja fraca como oficial ou em algum cargo. Talvez seu pastor tenha se desviado teologicamente nos últimos anos. Talvez sua igreja simplesmente permitiu algo com o qual você discorda (ou proibiu algo com o qual você concorda). Existem muitas permutações do problema, mas o contorno básico continua o mesmo: você mudou ou sua igreja mudou, e o resultado é que, em ambos os casos, vocês não estão de acordo como costumavam estar.

Então, o que você deve fazer?

Sete sugestões

  1. Ore por um coração humilde. Tenha certeza de que você não está sendo muito severo. Verifique se você não está com a síndrome de trave-no-próprio-olho. Tenha certeza de que você está concedendo ao seu pastor e à sua igreja o benefício da dúvida. Peça ao Senhor um coração e uma mente abertos.
  2. Considere a sua posição. A maneira como você pensa sobre trabalhar por mudanças em sua igreja, e como você pensa sobre se você deve realmente trabalhar por uma mudança ou não, tem tudo a ver com a sua posição na igreja. Você esteve na igreja por décadas ou você tornou-se membro há dois meses? Você demonstrou ser um servo fiel ao corpo? Você é um dos líderes formais da igreja? Um líder informal? Um membro do staff? Um dos pastores ou dos oficiais? Quanto mais autoridade designada você tiver – seja em virtude do ofício, em virtude de maturidade ou em virtude dos anos de serviço – mais você deve trabalhar por mudança. Quanto menos você tiver, menos você deve tentar.
  3. Tente discernir a importância relativa das suas preocupações. Você está desapontado por preferências pessoais ou por coisas mais sérias? Suas preocupações são sobre o caráter do seu pastor ou personalidade? São preocupações teológicas sérias ou triviais? E se elas forem sérias, estão abertas a discussão em sua igreja? Se você se tornou reformado no meio de uma igreja arminiana, você não terá sucesso tentando fazer com que a congregação siga a Confissão de Westminster. Da mesma forma, as pessoas de uma igreja confessional (Reformada, Presbiteriana, Luterana, etc) não devem ficar surpresas se seus pastores pregarem mensagens expressamente baseadas na tradição histórica.
  4. Não espalhe suas preocupações. Tome cuidado para não expandir o círculo de desapontados. Você pode falar com algumas poucas pessoas para se aconselhar. Você pode até conhecer muitas outras pessoas que pensam igual a você na congregação. Mas o seu objetivo não deve ser criar uma igreja dentro de outra igreja.
  5. Considere encorajar seu pastor com reforços positivos. Encontre o que você pode elogiar e elogie. Se seu pastor precisa de maior precisão e desenvolvimento teológicos você pode dar-lhe bons livros para ler – não livros geralmente polêmicos, mas bons devocionais e obras teológicas que irão lhe dar um pouco do gosto por uma doutrina sã. Talvez você possa dar um empurrãozinho no seu pastor em direção a uma boa conferência ou até você mesmo levá-lo para uma. Se ele é jovem ou está apenas se desviando um pouco, seu pastor pode estar aberto a um gentil fortalecimento e  redirecionamento.
  6. Considere, em oração, a possibilidade de uma confrontação direta. O pastor não está isento de correção. Ele pode se confundir. Ele pode cometer erros. Ele pode sair do caminho. Ele pode tornar-se orgulhoso. Se, após reflexão em oração, você concluir que suas preocupações são sérias e a trajetória que ele está tomando só piora, separe um tempo para conversar diretamente com seu pastor e com os presbíteros. Eu nunca fiquei ressentido com alguém por vir até mim de maneira amorosa e humilde com preocupações bem pensadas. Algumas vezes, eu concordei com elas. Outras vezes, eu discordei. Mas eu fico muito grato quando eles vêm diretamente a mim ou a um dos presbíteros.
  7. Considere quando é tempo de sair. Se suas novas convicções teológicas não condizem com toda a história e identidade de sua igreja, o melhor é não planejar mudanças clandestinas. Se um novo pastor chegou e está conduzindo as coisas em uma direção um pouco diferente – com o pleno conhecimento e benção dos presbíteros da igreja e com o entusiasmo da maioria da congregação – o melhor é não começar um movimento de reforma de base. Se você tentou a comunicação direta com o pastor ou com os líderes e eles te disseram, efetivamente, “Obrigado, mas vemos as coisas de uma maneira diferente”, o melhor é não lutar com unhas e dentes. Se Davi, sendo o ungido do Senhor, não colocou as mãos em Saul, nós devemos ser muito cautelosos para não começarmos uma guerrilha para derrubar nossos pastores e presbíteros devidamente nomeados.

Em ocasiões raras, quando as diferenças teológicas equivalem a heresias (ou estão claramente ultrapassando os limites dos seus documentos confessionais), ou quando suas preocupações pessoais estão relacionadas a comportamentos escandalosos, você pode procurar pela disciplina eclesiástica e pode arquivar sua acusação, mas apenas se estiver seguindo os passos de Mateus 18. Na maioria dos casos quando os membros estão preocupados com a direção que a igreja está tomando, as questões são importantes mas não tão ofensivas para merecerem um processo formal de disciplina. Nessas ocasiões, depois de passar pelos passos 1-6 (e fazer isso com paciência, e não com um ataque de raiva), o preocupado membro da igreja pode submeter-se pacificamente ou sair da congregação com tranquilidade.

Resumindo…

Por favor, preste atenção no que estou dizendo e no que não estou dizendo. Não estou dizendo que você não deve conversar com seu pastor ou não deve trabalhar por mudança. Não estou dizendo que sua congregação local é o feudo pessoal do seu pastor. Não estou dizendo que pastores não podem aprender muito com os leigos da congregação. O que estou dizendo é que, na prática, você não deveria gastar toda a sua vida tentando fazer aquilo em que você tem pouca chance de obter sucesso; teologicamente, você deve obedecer e respeitar seus líderes, e, espiritualmente, você não deve ser faccioso.

E para que isso não soe como se eu estivesse tentando proteger meu território como pastor, quero deixar claro que não estou escrevendo sobre essa questão porque é algo que vivemos na minha congregação. Eu estou pensando nas boas pessoas em outras igrejas que compartilham amplamente da minha teologia e que têm um desejo muito bom de influenciar sua igreja local. Esse é o contexto que imaginei ser tratado na pergunta da conferência. Eu gostaria de parabenizar meus irmãos e irmãs pelo discernimento deles e encorajá-los a prezar por profundidade e integridade teológicas. Mas também deveríamos lembrar que buscar as coisas que são feitas por “unidade, pureza e paz” (como nossa profissão de fé coloca) algumas vezes envolvem ser pacífico o suficiente para encontrar unidade com outro membro do corpo que tem a pureza que você está procurando.