Nos dois posts anteriores vimos que a solidão é um assunto explorado pela Bíblia, vimos que o Senhor Jesus está sempre conosco, principalmente em nossos momentos de solidão, aprendemos também que muitas vezes o maior problema com a terrível sensação de solidão não é a solidão em si, mas a idolatria que nos faz buscar erroneamente em outras pessoas (no singular ou no plural) a alegria que deveríamos buscar em Deus.
Eu havia planejado falar sobre a solidão causada pela justiça, mas isso vai ficar para um próximo post. Ao meditar e conversar com alguns amigos, resolvi falar sobre um outro aspecto da solidão, que, nessa série, não poderia passar em branco.
Pessoas difíceis.
Quase todo mundo já teve (ou já foi) um amigo difícil. Uma daquelas pessoas complicadas de se lidar, com opiniões muito fortes sobre absolutamente tudo, ou nutrindo uma paixão infinita por sua própria personalidade. Lembro de uma época em que me apelidaram “senhor Tenho-Uma-Opinião-Sobre-Tudo” e também de uma conversa com um amigo em que, após “vencer um argumento” e gerar um silêncio de alguns segundos, eu pude ouvir (para nunca mais esquecer) que “é muito chato conversar com quem sempre tem razão”. E, bem, às vezes é mesmo.
Por que somos chatos?
É importante falar disso ANTES de falar sobre a solidão causada pela justiça no próximo post, porque é muito comum que as pessoas que são, por assim dizer, difíceis, geralmente alegam que são perseguidas, que os outros são injustos com elas e que a solidão que acontece em decorrência disso é igualmente injusta. Mas não é bem assim.
Quando eu e você resolvemos nos apegar fortemente às características difíceis de nossas personalidades, dizendo “se eu mudar isso, não sou mais eu”, o que estamos dizendo na verdade é “é melhor que os outros se acostumem comigo e paguem o preço de me aturar do que eu ter que pagar o preço de mudar”, e, quando pensamos assim, isso revela que estamos negligenciando alguns mandamentos.
Quem é melhor?
Não é (ou não deveria ser) uma questão de “quem está com a razão aqui?”, mas de “como cristão, qual deve ser minha atitude?”. E há algumas orientações bem claras na Bíblia, que devemos ler para nós mesmos, contra nós mesmos, não contra os outros.
Em Romanos 12, após o fundamento teológico mais sistematizado que encontramos na Bíblia (os primeiros 11 capítulos de Romanos), a orientação prática e direta que o apóstolo Paulo nos dá é: “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros.” (verso 10). Quando resolvemos que as outras pessoas é que precisam mudar para nos aceitar, não estamos “preferindo em honra” os outros, mas a nós mesmos. Estamos considerando, assim, que somos mais dignos de honra do que eles. Por isso acreditamos tolamente que não precisamos mudar. “Eles que me aceitem como eu sou”. Não queremos pagar o preço da mudança.
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O texto de Filipenses 2.3 nos orienta a “considerar, cada um, os outros superiores a si mesmo”. Isso é o contrário do que o “chato” faz. A pessoa chata acredita que ela é melhor que as outras e esquece que deve “amar uns aos outros como Cristo nos amou” (João 13.34) e só lembra que deve “ser amada”. Assim, não desiste de suas manias, não abre mão de seus pontos de vista (eu não estou falando de concordar com heresias ou mentiras, estou falando de opiniões pessoais), não tenta largar seus vícios, sequer consegue perceber que está sendo inconveniente, e não percebe que isso é uma questão espiritual. Em outras palavras, quando uma pessoa chata fica só, essa solidão é resultado de seu pecado. A pessoa não quer sofrer o dano de mudar.
E agora eu desespero?
Se você se sentiu apontado ou apontada nesse post, você não está só. A Boa Nova é que o Senhor Jesus não veio para os sãos. Ele veio para os chatos. O Médico não tem nada para fazer quanto aos que gozam de perfeita saúde. Ele veio para morrer no lugar dos chatos, para que Deus nos receba como filhos. E o mesmo Jesus que morreu e ressuscitou para nos salvar, também opera em nós, por meio do Espírito Santo, a mudança que precisa acontecer. Somos convidados a nos arrependermos de nosso egoísmo e a desfrutarmos a companhia do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
À medida que Deus nos transforma, ele também nos concede, por sua graça maravilhosa, uma família que nos faz companhia. A igreja é uma família que ainda está aprendendo, e que tem um monte de gente chata também. E quanto menos chatos (menos egoístas e mais arrependidos) nós formos, amaremos mais e dependeremos menos das pessoas, glorificaremos mais a Deus e seremos mais felizes. Não conseguimos sozinhos, mas não estamos sozinhos.
Daniel TC | iPródigo