Honrando homens comuns

Uma das marcas mais chocantes da sociedade moderna é a falta de respeito para com hierarquias e instituições. Eu não vejo isso, como alguns parecem fazê-lo, como uma contribuição exclusiva dessa geração. Por maior que seja o alarde em torno da desilusão da juventude contemporânea com as instituições, os jovens de hoje, em sua maioria, parecem simplesmente mais indiferentes e menos ativos em sua desilusão que a geração que protestou contra a guerra do Vietnã. Ainda assim, isso não deixa de ser um desafio cultural para a igreja.

Em 1 Timóteo, Paulo rascunha o projeto básico de como o evangelho deve ser preservado após a morte dos apóstolos. Como eu imagino que já falei antes, ele não fala especificamente a Timóteo para que busque grandes personalidades, os jovens e bonitos, os acadêmicos de peso ou os pregadores itinerantes do mundo para-eclesiástico. O que ele advoga é o apontamento de homens ordinários, discretos e respeitáveis para o presbiterato. A esses homens comuns, basicamente competentes e sem segredos escondidos no porão, devem ser confiada a tarefa de preservar a igreja no caminho correto.

Isso torna interessante o comentário de Paulo em 1 Timóteo 5.17: os presbíteros devem ser duplamente honrados, especialmente os que ensinam. Isso é um ensinamento duro em uma época de desprezo pela idade e onde as instituições são vistas com desconfiança. De fato, quando se reflete no fato de que o termo “religião institucional” é tipicamente pejorativa, pode-se perceber quão extenso é o problema. Reflita por um momento no quão estranho é isso: será mesmo que religião “desorganizada” ou “anárquica” são coisas boas?

Então por que os presbíteros e mestres, esses homens comuns e genéricos, devem ser honrados? Primeiro, podemos dizer por que eles não deveriam ser honrados. Eles não são sacerdotes. Não possuem nenhum acesso especial a Deus que é negado a outros e que eles podem usar como bem entenderem. É por isso que eu não gosto da prática comum entre alguns protestantes de usar golas clericais além de em festas a fantasia. Em segundo, eles não possuem qualquer qualidade intrínseca que os levariam a serem honrados. Como disse antes, as qualificações para a liderança são essencialmente que o presbítero deve ter uma caminhada cristã madura e consistente; a única coisa que talvez o faça diferente dos outros é a capacidade de ensinar; mas isso é uma qualidade que dificilmente o torna moralmente superior. É só uma habilidade técnica.

Na verdade, eu suspeito que o presbítero deve ser honrado por causa da posição peculiar que ele ocupa na igreja. Como Paulo diz, esses são os últimos dias e eles hão de ser marcados pelo surgimento de falso ensinamento no meio da igreja. Os presbíteros são a primeira linha de defesa nessa grande tribulação que ocorre na igreja.

Faz sentido que, se os inimigos da igreja, humanos e espirituais, desejam destruí-la, eles tentaram subvertê-la pelo lado de dentro. A perseguição dos de fora normalmente tem o efeito oposto, de fortalecer a igreja e nutrir o crescimento. A China moderna é o grande exemplo disso. Ataques vindos de dentro são muito mais mortais. Por essa razão, os presbíteros estão na linha de frente.

Como a face pública da igreja, tanto externa quanto internamente, a queda de um presbítero é sempre mais devastadora, em termos de impacto, do que a de um membro da igreja. Além disso, o falso ensino de um presbítero gera falsas profissões de fé entre os que o ouvem; e falsos convertidos encorajam a indicação de mais falsos mestres e a propagação de mais erros. O presbítero, assim, será o alvo principal em uma igreja caída. A igreja, humanamente falando, precisa de homens ordinários que permanecerão firmes, moral e teologicamente.

Indo além, o mestre é o arauto das boas novas. Como um mensageiro no campo de batalha, ele traz as boas novas do triunfo do rei contra os exércitos que buscam destruir a igreja. Isso faz dele um alvo para aqueles que desejam que essas novidades nunca sejam proclamadas.

Também deveria ser motivo de honra o fato daqueles que ouvem e se regozijam. É difícil imaginar que os camponeses não honrariam o homem que traz a notícia para eles de que o exército que ameaçava os destruir foi destruído. O arauto não é quem ganha a batalha, mas ele certamente será carregado sobre ombros por toda a vila naquela noite.

Assim deveria ser com aquele que proclama a palavra de Deus semanalmente. Ele deveria ser honrado não pelo que ele é ou pelo que fez, mas pelas gloriosas boas novas que ele traz.

Isso nos leva finalmente à última forma pela qual esses homens comuns devem ser honrados. Parece provável que Paul tenha as finanças em mente em 1 Timóteo, presumivelmente porque ele estava consciente de algumas condições locais particulares. Mas a honra não deveria ser restrita a isso. Para mim, a melhor forma em que posso ser honrado é que as pessoas orem para que eu não caia em pecado e traga desgraça para a igreja, mas que eu termine bem. Não que eles creiam porque fui eu quem falou; eles deveriam sempre buscar nas Escrituras para conferir tudo o que eu disser. Mas quando um homem se levanta para te anunciar a vitória do grande rei, essas são notícias vitalmente importantes; aqueles que não se agarram a cada palavra dita presumivelmente são aqueles que realmente não entendem – ou realmente não se importam – com o que está acontecendo.

Lloyd-Jones coloca de forma pungente em seu livro Pregação e pregadores: ‘Se um homem cristão, não importa o quão capaz, sábio e esclarecido seja, não está pronto para se sentar e ouvir o homem que Deus chamou, ordenou e enviou para realizar essa tarefa, com alegria e expectativa, eu sinto a liberdade para questionar se esse homem sequer é um cristão’.